-Tudo bem Tininha, eu estou de castigo? _Me ouvi perguntar, ironicamente.
-Se continuar com suas ironias estará de castigo sim mocinha!
Eu ri enquanto tirava aquela fantasia apertada e ouvi ela ligar o chuveiro atrás de mim.
-Um banho bem gelado vai ajudar você a ficar menos bêbada, eu não gosto quando bebe! nem você e nem a Louise, vocês ainda não tem idade para isso, e se isso voltar a se repetir vou ser obrigada a ligar para a sua madrasta e passar um relatório sobre você!
-Ah tudo menos contar a Roberta sobre isso, ela já me controla o suficiente! _Resmunguei, entrando no box.
Depois de ouvir mais alguns sermões da Tina, estava mais sóbria, mas minha cabeça latejava, eu estava com uma pré ressaca - se é que isso existe - e estava exausta demais para esperar Louise chegar da festa como era de costume - só íamos dormir quando ambas estivéssemos em casa - mas dessa vez eu fui direto para o meu quarto. As portas da varanda do quarto estavam abertas, o vento gelado me atingiu com tudo e corri até a varanda para fechá-la, ao olhar para o lado de fora pensei ter visto um cara de bicicleta do outro lado da rua, estava escuro mas pude notar que ele usava uma bandana assim como o garoto que me salvou na festa. Antes que eu pudesse ter alguma reação ele subiu na bicicleta e sumiu na rua escura. Estava exausta demais para me preocupar com meu stalker, então fechei as portas e deitei na cama, tudo que eu precisava era de uma boa noite de sono.
No domingo de manhã acordei com o meu celular tocando, era minha madrasta, e obviamente eu ignorei a chamada dela. Eu não odiava a Roberta, minha história não é um novo conto da cinderela, mas ela me irritava um pouco com seu controle e sua insistência para que eu me tornasse uma grande empresária e tomasse o poder das empresas Aires. Eu nunca conheci a minha mãe, pois ela morreu poucas horas após me dar a luz, mas Roberta nunca tentou ser uma mãe para mim, ela não tinha aptidão para isso e sabia que jamais ocuparia o lugar dela, mas por amar tanto o meu pai ela se esforçava em fazer o que pensava ser a vontade dele para mim, então estava sempre no meu pé para que eu não fugisse das minhas obrigações. Enquanto Roberta insistia em me ligar, eu joguei o celular na cama e me levantei, seguindo até o closet, Tina tinha deixado a roupa que eu usava ontem em um cantinho e quando fui pegá-la para guardar notei uma jaqueta que não fazia parte do meu look de ontem. Cenas da noite passada invadiram minha cabeça como flashs, o motoqueiro que me salvou tinha tirado a jaqueta dele e me dado para que eu me protegesse. Eu não conseguia entender quem era aquele cara e... como ele tinha dito ao taxista o endereço da minha casa? será que ele e o stalker do outro lado da rua eram a mesma pessoa? eu deveria sentir medo ou me sentir grata por ele ter me livrado de algo ruim? EU NÃO SEI O QUE PENSAR.
Enquanto ainda segurava a jaqueta Louise apareceu no meu quarto, os cabelos bagunçados, que há dois dias atrás eram lilás, agora já eram azuis, e com a ressaca estampada no rosto.
-Cats, que bom que está viva! fiquei como uma louca procurando por você no final da festa!
-Se dependesse de você eu estaria jogada em alguma sarjeta de Jardim Blumenau!
-Nem me fale uma coisa dessas, minha mãe quem me disse que você já estava em casa e disse que você comentou sobre um motoqueiro te colocar em um táxi.
-Foi isso mesmo, longa história... _Murmurei, carregando a jaqueta até a minha cama e me deitando.
-História que eu quero muito saber!
-Eu tinha bebido demais, precisava de ar puro, então saí da boate e fique na rua ao lado onde estava menos movimentado, o que foi um grande erro... _Disse, lembrando-me de quando um homem grotesco se aproximou de mim. -Não me lembro de muita coisa mas um homem começou a puxar assunto e então quando dei por mim estava no final da rua prestes a ser... atacada.
-Como assim? o cara era um tarado?
-Provavelmente, eu estava bêbada demais mas lembro de ter gritado para que ele me soltasse pelo menos umas dez vezes, e então apareceu o tal motoqueiro que na verdade não tinha moto, enfim, o babaca tarado deu um soco na cara dele mas logo o motoqueiro lançou um tijolo na cabeça do imbecil!
-E quem é esse motoqueiro? ele estava na festa?
-Acho que sim, ninguém em seu juízo perfeito andaria pela rua vestido daquele jeito, a menos que estivesse trajado para uma festa a fantasia.
-Espera aí... _Louise disse, parecendo pensativa. -Eu lembro de um motoqueiro na festa, eu falei com ele, quer dizer, trocamos algumas palavras e então ele saiu apressado.
-Você sabe o nome dele? se ele estava na festa então é da escola! _Disse, ansiosa por conhecê-lo de repente.
-Não tive tempo de perguntar, e nem sei como é o rosto dele porque...
-Ele estava de óculos escuros! _Falei, me lembrando.
-Isso! com certeza é o mesmo cara.
-Preciso descobrir quem ele é... _Murmurei, pensando no momento em que o vi do outro lado da rua, ou pelo menos, é o que eu achava.
-Não vai ser difícil, sabemos que ele é do colégio, e se estava na festa então tiraram foto dele na entrada ele deve usar algum relógio, anel, algo que ajude a gente a reconhecê-lo, e você mencionou que o tarado deu um soco nele, com certeza o motoqueiro ficou com algum hematoma.
Fiquei pensativa por alguns instantes e então uma imagem me veio em mente.
-Tem outra coisa que nos fará descobrir a identidade dele... quando ele tirou a jaqueta eu olhei rapidamente para seu braço e ele tem uma tatuagem, eu acho que era um lobo ou uma raposa, eu não tenho certeza.
-Isso é fantástico, as chances de descobrirmos agora já é de 90%, e nem tem muitos caras tatuados no colégio!
-Não vejo a hora da segunda-feira chegar!
Enquanto Louise observava a jaqueta do cara misterioso, ouvi o som de uma notificação no meu celular.
"Ei bebê, vou passar aí para darmos uma volta, esteja pronta em vinte minutos e vista aquele vestido de gola que eu lhe dei de aniversário mês passado! beijos, Ca!"
Me peguei bufando ao ler a mensagem. Vestido de gola, ele só podia estar louco se acha que usaria um vestido quente e ultrapassado daqueles.
-Que foi?
-Jonas vai passar aqui para me buscar, preciso me arrumar.
-Tudo bem, depois conto o que rolou entre mim e o nerd na festa!
-Me poupe dos detalhes! _Implorei, enquanto ela saía do quarto.Quando desci as escadas vi Jonas sentado no sofá pendurado no celular e sacudindo as pernas, ele estava sempre parecendo impaciente e apressado, eu odiava aquela impressão que ele passava.
-Oi Jon, desculpe a demora! _Falei, seguindo até ele, mas quando ia beijá-lo ele me segurou de leve e me afastou, me olhando de cima a baixo.
-Pensei que tivesse pedido que usasse o vestido que te dei.
-É você disse, mas eu não estava a fim de usá-lo, ele é quente demais e está fazendo tipo uns 27 graus lá fora. _Esclareci, agora guardando meu ceular na bolsa e me afastando, ele tinha conseguido me fazer perder a vontade do beijo.
-Nós vamos tomar café no brunch de um amigo, não acho que seja apropriado que vá com esse vestido...
Parei o que estava fazendo e dei uma olhada no espelho da sala, e então dei uma voltinha. Não vi nada de errado com meu vestido azul de uma manga só, ele era sutil e arrebatador ao mesmo tempo, não tinha nada mais parecido comigo.
-Não vejo problema nele. _Disse, por fim.
-Mas é claro que não vê, quem vai ver são os homens na rua e eu saírei como um babaca.
Franzi a sobrancelha, desacreditada do comentário dele. Okay, em 4 meses de namoro Jonas já tinha dado indícios de ser um pouco controlador com algumas roupas que eu usava, mas nunca tinha sido tão descuidado com o que dizia.
-Bom, se não quiser sair comigo assim então vá sozinho. _Falei, dando de ombros.
Jonas suspirou, balançando a cabeça de leve, demonstrando não ter gostado do que eu tinha dito.
-Eu não sei se amo ou odeio o fato de ter a namorada mais linda e sexy do mundo.
Não pude evitar sorrir ao ouvi-lo dizer aquilo, e como em um passe de mágicas estávamos bem outra vez. É, ele tinha esse dom.
-Vamos, estacionei o porsche logo ali na frente.
Eu segurei o riso, ele sempre enchia a boca para dizer que tinha um porsche, eu achava aquilo idiota mas não diria a ele.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...