CATARINA

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   O carro mal tinha estacionado no hospital quando eu abri a porta e corri, entrando na emergência. Meu olhos ansiosos e perdidos vagaram pelo ambiente excessivamente claro e cheio de gente, finalmente vi as cabines da recepção e corri até elas. 
-Onde está o Miguel, ele tá vivo? _Perguntei, estava tão enérgica que não consegui me acalmar, e notei pela expressão no rosto da recepcionista que eu deveria ser mais clara. -Miguel Ferráz, onde ele está?
-Ele deu entrada nesse hospital? _Ela perguntou, e tive que controlar minha língua afiada para não lhe dar uma resposta grosseira.
-Foi o que me disseram, pode ver onde posso encontrá-lo?
Enquanto ela assentia e começava a mexer no computador a sua frente, senti a mão pesada de meu pai pousar no meu ombro.
-Precisa se acalmar... _Ele sussurrou, enquanto aguardava notícias assim como eu.
-Aqui está, pelo o que consta aqui ele acabou de entrar na sala de cirurgia.
-Cirurgia!? _Indaguei, mais alto do que esperava.
-Nós podemos entrar e aguardar em alguma sala de espera? minha esposa está aqui como acompanhante dele. _Meu pai perguntou, eu estava apavorada o suficiente, por isso apenas deixei que ele tomasse a frente da situação.
Tiramos uma foto para o sistema do hospital e colamos um adesivo na roupa com nossos nomes, em seguida fomos direcionados por uma porta larga que deu em um corredor branco e frio, que me fez estremecer. Algumas pessoas estavam sentadas nos bancos e algumas enfermeiras passavam de um lado para o outro. Alguns extintores de incêndio coloriam as paredes vazias. Uma senhora estava parada perto de uma porta de vidro, encarando-a sem parar. Li na porta a palavra "capela". Era o lugar dos desesperados, pelo menos ali naquele hospital. E eu temi precisar passar por aquela porta em algum momento, exatamente como a senhora parecia temer naquele instante.
Senti a mão do meu pai empurrar de leve minhas costas, me trazendo de volta e me incentivando a seguir em frente, a sala de espera do centro cirúrgico ficava na próxima esquina. Quando entramos, poucas pessoas ocupavam os bancos, e uma delas eu conhecia muito bem. Roberta estava com a cabeça encostada na parede, nem mesmo seu batom vinho e chamativo negava sua evidente exaustão. Meu pai a chamou e ela despertou imediatamente, olhando para ele e abrindo um sorriso de alívio, para em seguida abraçá-lo, nitidamente ela também não acreditava que ele estava ali, se eu não estivesse tão fora de mim também ia querer o abraço dele por mais algumas horas, talvez dias.
-Querida! _Ela disse, virando-se para mim e me abraçando também. -Graças a Deus está bem!
Apenas sorri, agradecendo a preocupação. Meu pai perguntou se ela sabia algo sobre o estado de Miguel, e fiquei atenta, a espera de sua resposta.
-Eu não sei muita coisa, durante o caminho até aqui ele despertou outra vez perguntando por Catarina, mas logo desmaiou de novo, quando chegamos ele se manteve desacordado, foi examinado por alguns minutos e logo disseram que ele precisaria de cirurgia, estava perdendo muito sangue, talvez precise de transfusão, eu não entendi muita coisa do que disseram...
-Acho que a única coisa que nos resta agora é esperar. _Ele disse, me olhando e segurando minha mão, me incentivando a sentar. -Acha que devemos ligar para avó dele agora ou esperamos notícias?
-Tenho receio de que ela possa ficar muito nervosa e acabar tendo um troço... mas acho que é melhor avisar, no lugar dela eu gostaria de saber.
-Acha melhor que eu vá até Blumenau e diga pessoalmente?
-Seria ótimo, e ela com certeza vai querer vir, então é bom que poderá trazê-la de uma vez. _Respondi.
-Tudo bem, só vou pegar alguma coisa para comermos e em seguida pego a estrada de volta.
Assenti com a cabeça, eu não estava com fome, mas estava cansada demais para argumentar, então apenas permiti que ele saísse e fosse até a lanchonete do hospital.
    Depois disso, eu me lembro vagamente de ter beliscado um sanduíche, mas acho que logo depois eu dormi, porque quando acordei estava com a cabeça apoiada no ombro da Roberta, e demorei alguns segundos para conseguir mover meu pescoço que doía devido o tempo que fiquei naquela posição.
Assim que vi um homem de jaleco andando em nossa direção, levantei de vez a cabeça e xinguei mentalmente a dor.
-É ele o cirurgião que levou o Miguel! _Roberta disse, mas eu já estava me levantando.
-E então, Doutor? _Perguntei, sentindo meu coração palpitar nervoso.
-Vocês são da família?
Eu e Roberta nos entreolhamos rapidamente sem saber o que responder.
-Eu sou a namorada dele! _Falei, e vi quando ele assentiu e se compadeceu.
-Terminamos a cirugia há alguns minutos, ele está sendo levado para a terapia intensiva e...
-Isso quer dizer que ele vai ficar bem? eu posso vê-lo?
-Isso quer dizer que ele foi muito forte e sobreviveu à cirurgia, mas ele perdeu muito sangue, mais um pouco e os órgãos parariam de funcionar, nós fizemos transfusões de sangue e o manteremos no soro, no CTI ele terá monitoramento 24 horas, mas é difícil prever a reação dele nas próximas horas ou até dias...
Um frio estranho espalhou-se pelo meu corpo, lentamente roubando meus últimos fragmentos de força, a mesma sensação que senti quando vi Miguel cair na estrada horas atrás.
-O que quer dizer com dias? _Ouvi Roberta perguntar, e agradeci mentalmente porque eu mesma não tinha forças para abrir a boca.
-O corpo pode demorar para reagir ao choque, ele está em um estado de coma e...
Senti que ia desmaiar, então dei um passo instável para trás e me sentei, e enquanto encarava o chão vi os sapatos do médico, que tinha se aproximado imediatamente.
-Jovem, está se sentindo mal?
-Estou bem... _Murmurei. -Quando eu vou poder vê-lo?
-Daqui algumas horas acredito, eles precisam instalar ele no setor, assim que possível eu peço que chamem vocês duas.
Assenti com a cabeça enquanto o médico voltava do lugar de onde veio, e só percebi que estava chorando quando senti o gosto salgado na minha boca.
-Ele vai ficar bem querida, logo você poderá vê-lo.
-Eu quero falar com ele, não apenas vê-lo! _Disse, e as lágrimas continuaram descendo contínuas pelo meu rosto.

Aquela jaqueta de couroOnde histórias criam vida. Descubra agora