Pedi que Catarina ficasse na rua em frente a casa em busca de algum sinal, enquanto me afastei um pouco, caminhando mais a frente com o aparelho para o alto, como um idiota em busca de um pontinho do satélite na tela do meu celular. Antes que eu me desse conta o celular começou a tremer e encher de notificações, parei ali mesmo na calçada e vi que tinha chamadas do pai de Catarina. 25 chamadas. Por algum motivo ver todas aquelas chamadas me deixou nervoso, será que tinha acontecido alguma coisa grave? a primeira chamada tinha sido às duas da madrugada, o que me deixou ainda mais apreensivo. Quando abri a caixa de mensagens vi que tinham pelo menos umas dez mensagens dele. Abri a primeira: "Consegui a confissão do assassino que o Félix contratou, gravei tudo, estou na sala de espera da delegacia, provavelmente vocês poderão voltar logo, continue atento ao celular."
Aquela mensagem tinha sido do final da tarde de ontem.
Abri a próxima que tinha sido enviada três horas após a outra: "Espero que tenha recebido a minha última mensagem, me lembrei a pouco que o sinal aí não é dos melhores. A polícia está atrás do Félix, mas ele não está na casa dele e nem na empresa, acabei de chegar aqui na mansão, vou tentar encontrar alguma informação por meio do grampeamento do celular dele."
Sem mais demoras passei o dedo pela tela e apertei na próxima, aquela tinha sido enviada apenas dez minutos depois da anterior, as letras em caps look me fizeram ter noção da urgência da mensagem imediatamente: "MIGUEL, FÉLIX TEM INFORMAÇÕES SOBRE O PARADEIRO DE VOCÊS, ACREDITO QUE TENHA VISTO A PLACA DO CARRO PELAS CÂMERAS DE SEGURANÇA DA RUA, EU SEI QUE JÁ É MADRUGADA MAS PEGUE CATARINA E SAÍA DAÍ IMEDIATAMENTE. ESTOU A CAMINHO."
Senti minhas pernas vacilarem, e um frio percorrer todo o meu corpo. Começando a correr de volta para o chalé, passei os olhos nas outras mensagens, todas breves e desesperadas: "SAIAM DAÍ", "NÃO SEI QUANTO TEMPO VOCÊS TEM ATÉ QUE ELE CHEGUE", "MIGUEL, ONDE ESTÃO? ME RESPONDA!"
Não podia mais me distrair com aquilo, coloquei o celular no bolso e me apressei, sentia o vento frio atingir meu peito, ainda estava sem camisa, mas nem mesmo o frio me incomodava naquele momento, eu só precisava enfiar Catarina no carro e fugir para qualquer outro lugar. Provavelmente só levei dois minutos pra chegar, mas me pareceram uma eternidade. Minha visão foi boa o suficiente para que concluísse que tinha um carro parado ao longe, corri o mais rápido que eu e minhas pernas aguentaram, mas precisei me deter assim que vi Catarina agarrada por um homem com uma faca encostada em seu pescoço.
-Miguel! _Ela gritou, assim que seus olhos desesperados encontraram os meus.
-Solta ela! _Gritei, dando um passo na direção deles.
-Mais um passo e ela morre aqui mesmo! _O homem vociferou, a arrastando para perto do carro.
-É melhor não fazer nada com ela, a polícia já está a caminho! _Blefei, esperando que surtisse efeito, sentia meu corpo inteiro formigar.
-Quando ela chegar, já estaremos longe, não é madame?!
O homem deu um beijo no rosto dela, e vi o exato momento em que ela começou a chorar, tão apavorada quanto eu. Se fosse possível que o coração de alguém parasse de pânico, eu estaria morto.
Enquanto pensava no que fazer, o homem jogou Catarina no banco de trás e vi quando os braços de alguém a agarrou e puxou para dentro. Eu não podia ficar ali parado enquanto assassinos levavam a garota que eu amava, a quem eu jurei proteger com a minha vida.
Vi a porta traseira fechar e o homem correr para o banco do motorista, e sem pensar nem por mais um segundo, avancei, correndo em direção ao carro tentando ser mais rápido que ele. Estava prestes a alcançar a maçaneta quando vi o tio de de Catarina, Félix, segurando ela com um braço e sacando uma arma com o outro. Não pensei no que me custaria ter uma arma apontada na minha direção, apenas dei mais um passo e coloquei a mão na maçaneta quando algo atingiu meu ombro com tanta força que eu me desequilibrei e cai de costas. Um tiro.
-Miguel! _Ouvi a voz abafada de Catarina, depois o ronco do carro encobrindo seus gritos.
Busquei uma força descomunal e me levantei, o carro já estava em movimento, ainda assim, corri, lutando contra a dor dilacerante que sentia. O rosto de Catarina estava nítido pelo vidro traseiro do carro, eu ainda corria quando a minha visão ficou embaçada, e minhas pernas ainda se movimentavam incessantemente quando tudo ao meu redor pareceu oscilar. E então eu caí e a última coisa de que me lembro foi de ver o borrão do carro sumir no horizonte.
Senti meu corpo sacudir, e quando me esforcei em abrir os olhos a leve claridade o atingiu, mas mantive eles abertos, minha cabeça doía, não só ela como todo o meu corpo. Eu estava sendo arrastado pela estrada? e de quem era todo aquele sangue no asfalto?
-Miguel? _Ouvi uma voz feminina e impotente, e então a sombra de alguém ficou entre o pôr do sol e o meu rosto. -Acho que ele está acordando, Jonathan! Ele está vivo!
-Sim, está, mas não sei por quanto tempo! _Agora uma vez masculina disse, mais perto do meu ouvido, a voz da pessoa que me arrastava.
Inclinei a cabeça devagar para o lado, tentando descobrir porque meu ombro doía tanto, e senti meu estômago embrulhar ao ver meu braço tomado de sangue, e foi nesse exato momento que as imagens recentes invadiram minha mente como um tornado. Catarina tinha sido levada. Eu não tinha conseguido impedir, não fiz nada para salvá-la.
Ignorando meu estado patético de saúde, me debati tentando me livrar dos braços que me arrastavam.
-Miguel se acalma, vai ficar tudo bem! _O homem falou, e então reconheci aquela voz forte e segura. Luíz. Ou Jonathan, eu não sabia mais como chamá-lo.
-Não, eu preciso ir atrás dela! Me deixa ir! _Protestei, e senti quando os braços dele me seguraram com mais força, impedindo que eu me livrasse.
-Você está ferido, garoto, não tem nada que possa fazer nesse estado.
Roberta. Agora tinha identificado a mulher que estava com ele.
-Miguel, a Roberta vai te levar para o hospital o mais rápido possível, mas você sabe dizer o que aconteceu com a minha filha? _Jonathan perguntou, eu podia sentir a ansiedade e o pânico apenas pela entonação de sua voz.
-Eles a levaram, Félix e mais um cara, eu sinto muito... eu jurei que ia protegê-la com a minha vida e não... _E então minha voz foi interrompida por um turbilhão de lágrimas. Senti o líquido quente descer incansável pelo meu rosto.
-Você fez isso, tenho certeza que fez o que pôde, agora poupe esforços, eu vou atrás dela, sabe dizer se eles seguiram essa estrada?
Apenas concordei, afirmando. Minha visão começava a querer embaçar outra vez, os sons pareciam distantes. Senti quando Jonathan me colocou no banco de trás do carro que eu estava dirigindo há dois dias atrás. Roberta se sentou no banco do motorista e com um breve beijo e mais algumas palavras apressadas que eu não consegui identificar, Jonathan correu e entrou em um carro branco do outro lado da estrada, arrancando com ele e deixando apenas poeira para trás.
Ele precisava encontrá-la. Viva. Caso contrário, preferia ser deixado naquela estrada até que não restasse mais nem uma gota de sangue no meu corpo.
-Vamos salvar você!
Ouvi a voz distante de Roberta antes que eu fosse mais uma vez engolido pela escuridão.
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Aquela jaqueta de couro
RomantizmCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...