CATARINA

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-Jon, não tinha necessidade daquela cena lá fora! _Disse, assim que entramos na minha sala.
-Que cena?
É óbvio que para ele toda aquela grosseria tinha soado normal.
-Você foi super desconfortável e grosseiro.
-Ah Catarina, você que sempre se dói por tudo, e a culpa foi sua se eu agi daquele jeito.
-Minha culpa? _Indaguei.
-Sim, se não estivesse de conversinha com aquele cara e me esperasse em casa como combinamos nada disso teria acontecido.
-Ele é meu colega, e é novo no bairro, eu não estava de "conversinha", só estava sendo gentil.
-Eu vi sua gentileza, eu e todos que passaram por ali.
-Eu não entendo, juro, eu só estava conversando com ele, você está fazendo tempestade em copo d'água, não exagere.
Ouvi o celular dele apitar e ele me ignorou para ler alguma mensagem.
-É, será que estou exagerando mesmo?! _Ele questionou, me mostrando a tela do celular.
Uma das moradoras do prédio, que modelava comigo para a marca de roupas de Jonas, tinha tirado uma foto minha e de Miguel e mandado para ele com a legenda "acho que está deixando sua garota solta demais, os gaviões estão cercando, beijinhos.".
Eu sabia que aquela garota era invejosa, mas não sabia que era tanto.
-Você sabe que ela sempre foi doida para ficar com você, ela só mandou isso pra acabar com o nosso relacionamento, o que não vai dar certo porque você estava lá na hora e viu que nada aconteceu.
-Será mesmo? eu só cheguei depois.
-Pelo amor de Deus, Jonas, se eu quisesse trair você já teria feito, o que não falta é opor...
-Nem termina a frase. _Ele me interrompeu, segurando forte no meu braço.
-Você está me machucando! _Reclamei, e quando achei que ele ia me soltar, ele apenas intensificou o aperto. -Jonas...
-Eu não quero machucar você, você sabe, eu nunca faria isso, mas quero deixar claro que não vou tolerar uma traição, e nem suas "saídas" com outros caras.
-Eu não saí com ninguém, quantas vezes eu tenho que dizer? _Vociferei, tentando puxar o braço.
-Não interessa, você é uma pessoa pública, eu sou uma pessoa pública, nessa droga de cidade tudo vira assunto, você já deveria saber.
-Pode me soltar agora ou eu vou ter que gritar? _Questionei, encarando a mão dele.
Assim que ele soltou eu vi a marca dos dedos dele deixarem manchas avermelhadas na minha pele.
-Você me machucou. _Sussurrei, me afastando e sentando no sofá.
-Não exagera, você é muita branca, qualquer coisinha já marca a sua pele, não vai falar besteiras por aí.
-Eu acho melhor você ir, não tem mais clima pra vermos filmes e nem mais nada. _Disse, estava realmente sentida pelos últimos acontecimentos.
-Claramente perdi meu tempo vindo até aqui, isso que eu ganho por querer namorar uma criança.
-Estava demorando para que jogasse a minha "imaturidade" no meio da nossa discussão, estou começando a achar que quem não tem maturidade para relacionamentos aqui é você!
-É melhor eu ir antes que você comece a falar merda e magoe a mim e a você.
Não conseguia acreditar no que ele estava fazendo, Jonas simplesmente começou a dizer como se eu tivesse sido a culpada por tudo e que no fim das contas eu é quem o magoou com as coisas que falo, quando tudo isso partiu única e exclusivamente dele.
-É melhor mesmo, depois nos falamos, quando... estivermos mais calmos. _Disse, querendo encerrar a discussão e a visita dele.
Quando Jonas saiu, eu me permiti ficar em absoluto silêncio encarando a porta. Alguns sentimentos começavam a despertar em mim, mas não era paixão, nem o desejo que ele sempre me causou, agora era uma mistura de insegurança e incerteza.
Antes que eu pudesse absorver tudo o que sentia, ouvi meu celular tocar. Era minha madrasta, pronta para fazer da minha vida mais infeliz.
-Oi, Robertinha. _Disse, ao atender.
-Precisamos conversar, eu acabei de falar com o Sérgio e ele me disse que você é um caos com tudo que ele te passa.
Sérgio era um dos coordenadores que ajudavam meu tio Félix na empresa, e como era o único com paciência e tempo sobrando, foi quem se prontificou a me passar algumas informações importantes para quando eu fosse me tornar a presidente.
-Isso não deveria ser uma novidade, você sempre soube que sou péssima com números e qualquer coisa que tenha a ver com gestão, já estourei dois cartões de crédito, lembra?
-Nem me lembre disso, Catarina! _Ela bufou ao telefone. -Você não tem escolha, ou aprende ou afunda a empresa da família, e tenho certeza que não quer ficar sem seus luxos, não é?
-E nem você sem os seus, acertei? _Desafiei ela.
-Eu vou desligar, espero que esteja capacitada quando for a hora, você só tem mais dois meses e algumas semanas.
-Mas eu...
Antes que eu terminasse de falar ela desligou o telefone. Após alguns xingamentos, me recompus e subi para o meu quarto, precisava de um banho depois de tanto estresse.
Pedi a Jô - uma das empregadas - que me preparasse meus sais de banho, e assim que entrei na banheira senti todo o peso do meu dia se esvair.
Obviamente depois de alguns longos minutos de molho, foi inevitável que os meus problemas voltassem a surgir para me atormentar. Não podia ignorar o fato de que logo eu seria presidente da minha empresa e que se eu não aprendesse a lidar com os negócios eu ia falir tudo que meu avô e meu pai tinham conquistado em 20 anos de carreira.
Meia hora depois, ainda deitada na banheira, pensava numa forma de aprender administração sem a ajuda de Sérgio, que claramemte também já estava desistindo de mim, e foi aí que me veio uma ideia. Sentei-me tão rapido que a água bateu nas beiradas e molhou todo o chão.

Aquela jaqueta de couroOnde histórias criam vida. Descubra agora