[Sexta-feira, 28 de agosto de 2008]
Emmett havia me convidado para dormir na casa dele hoje. Antes dos meus pais irem trabalhar, lhes pedi permissão, a qual foi concedida. Eu só não sabia direito o que levar. Para começo de conversa, eu não era muito acostumado a dormir na casa dos outros — sendo ainda mais específico, só fiz isso uma vez, lá no mausoléu de Ariana (uma metáfora para dizer o quão soturno a residência dela era). A experiência foi tão desagradável que preferi não repeti-la.
Eu sabia que dessa vez seria diferente.
Depois de muita luta, decidi o que levaria na mochila. É só uma noite na casa do seu namorado, Emmett, não uma viagem para outro país... Tendo deixado tudo pronto, almocei a escovei os dentes. No meu quarto, em frente ao espelho, penteei meu cabelo molhado com os dedos, com pressa de ir ao colégio. Um minuto gasto longe de Emmett era uma agonia que eu não gostava de enfrentar. Era bom pensar que agora eu tinha uma boa razão para ir ao Álvaro.
No entanto, apesar de estar com pressa de sair de casa, me peguei fitando meu reflexo por um instante. Não era por causa da minha beleza física que eu estava imobilizado, e sim por conta da mudança da cor no meu rosto, que recentemente havia adquirido traços mais reluzentes. Eu já tinha reparado nisso antes, mas não havia reparado na gritante diferença entre meus olhos de um mês atrás para os de agora. Minhas pálpebras, por exemplo, estavam mais elevadas. Eu me lembrava do quão murchas elas eram quando eu estava com os CATS, como se eu tivesse com preguiça de sustentá-las.
Infelicidade tinha bastante poder para modificar expressões faciais.
Como me submeti a tanta humilhação, meu Deus?
Corri a mão na nuca e sorri.
— Obrigado por ter acordado para a vida — sussurrei.
Saí do quarto com um sentimento de satisfação imenso e entrei no carro, pronto para ser levado ao colégio por Victor. Quando cheguei, já me encontrei com Catarina em sua sala. Emmett estava a caminho ainda.
— Oi, amor — minha amiga me cumprimentou, abraçando-me.
— Oi. — Sentei-me na mesa dela. — Está fazendo o quê?
Ela me mostrou a tela de seu celular.
— Jogando Diamond Rush. Estou viciada.
Sorri, pensando em como esse jogo era febre atualmente.
— E você? — Catarina me perguntou. — Quais são as novidades?
— Emmett me convidou para dormir na casa dele hoje.
— Sério? — Ela ficou animada. — E você vai?
— Hunhum. Até trouxe minhas coisas na mochila.
Ela apertou meu braço carinhosamente.
— Quando eu estava apaixonada e dormia na casa do meu namorado — Catarina comentou —, costumava torcer para fazermos isso juntos. Tipo, longe dos pais dele e dos meus. Na nossa própria casa. Mas ainda bem que as coisas deram errado.
Enruguei a testa.
— Por quê?
Ela suspirou.
— Porque ele me trocou pela Ariana. E isso quer dizer que ele não presta.
Minhas sobrancelhas subiram.
— Ah... Certo. — Esse gancho da conversa me fez pensar em uma coisa. — Você suspeitava sobre Deise? Que Ariana estava de olho no Erick e tal?
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...