14 | A capa da invisibilidade é real!

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— E agora? — Emmett sussurrou, já esticando sua mão na trava da porta ao seu lado para abri-la, caso fosse necessário.

— Ela não pode ver a gente — expliquei, o tom bem baixo também. — Então não pode saber que estamos aqui.

Era nisso, pelo menos, que eu estava acreditando.

Ele e eu nos concentramos na atitude de Ariana em colocar as palmas das mãos abertas ao redor de cada olho e aproximar o rosto do vidro, tentando enxergar além da sua capacidade visual. Por um instante tenso, pensei mesmo que a garota pudesse estar me vendo, uma vez que seu olhar pairou exatamente sobre o meu cenho. Mas talvez fosse apenas uma dedução da parte da garota.

A sensação que eu tinha era de que estava me escondendo de uma criminosa.

— Hércules?! — Mais impaciente, Ariana retornou a bater no vidro. — Depressa! Está relampejando!

Essa era a sua forma exagerada de dizer que estava caindo algumas inofensivas gotas de chuva.

— O que vai fazer? — Emmett indagou.

— Vou deixá-la aí. — Olhei para seu rosto fascinante. — Vamos fingir que nós dois realmente não estamos aqui.

Ele me observou atentamente após minha sugestão. Depois, parecendo estar abraçando a ideia de estarmos trilhando um caminho de perigo absurdo, assentiu.

Virei-me para Ariana de novo. Ela insistiu em tentar abrir a porta travada por mais tempo, até que teve a ideia de ir até o outro lado do carro para fazer justamente a mesma coisa. Emmett desceu o pino de sua porta também, ainda mais alegre. Nós dois rimos de Ariana, mas tapamos a boca ao perceber que a líder poderia nos ouvir. Alguém do lado de fora com certeza iria pensar que ela estava nos assaltando.

Por que ela não para, meu Deus? Se Ariana tivesse um mínimo de consciência — um por cento já estava bom, nem precisava ser muito —, ela perceberia que, se alguém não abria a porta, então obviamente era porque o veículo estava vazio. Era até irônico pensar que, para algumas coisas, Ariana era bem paciente. Em seu lugar, eu já teria desistido e ido embora.

Alguns segundos mais tarde, ela deu a volta, mais uma vez ficando na região ao meu lado, e se sentou num banquinho da calçada. Tirou seu celular do bolso, o rosto estressado, e começou a teclar alguma coisa. Até a maneira como seus dedos frenéticos digitavam em seu iPhone indicava muito bem o baixo nível de sua paciência. Eu sempre tive a impressão de que ela era nova demais para se irritar tão fácil e intensamente.

— Seu celular — Emmett sussurrou.

Olhei-o.

— O quê?

— Acho que ela vai ligar para você. O som vai te entregar.

— Ah. — Agindo depressa, pus meu aparelho no silencioso. — Bem pensado.

Ariana pôs seu celular na orelha um segundo depois. Quando vi seu contato aparecer na minha tela, voltei a olhar para Emmett, e nós seguramos outro riso. Nunca pensei que o perigo pudesse ser tão divertido.

— Como você consegue aguentá-la? — ele me perguntou.

— Eu não sei.

Emmett balançou a cabeça uma vez, risonho.

— Hércules, sou eu! — Ariana disse ao telefone, provavelmente para a caixa de mensagens. — Estou aqui em frente ao seu carro. Não sei onde é que você está, mas preciso que venha logo para cá! Preciso de uma carona para casa. Fui inventar de sair com meus amigos depois da aula e acabei sendo feita de trouxa. Depressa! Você sabe que odeio pegar ônibus. Deus me livre deixar os outros pensarem que sou pobre. — Ela encarou a própria tela do celular, como se tivesse o dom de me ver através dele. — Anda logo!

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora