5 | Um tapa doeria menos

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[Sexta-feira, 08 de agosto de 2008]

— Tchau, pequeno Hércules — Victor disse para mim assim que desci do carro. — Tenha uma boa aula.

Acenei em sua direção, colocando a mochila apenas no ombro direito.

— Tchau, Victor. Até depois.

Após sua partida, virei meu corpo de frente para a entrada do colégio e me abracei, não necessariamente para me aquecer da ventania fria do começo da tarde. Não saber o que esperar pelo resto do dia era o que me deixava consideravelmente nervoso.

Hoje mais cedo, durante meu demorado café da manhã, tive a péssima conclusão de que pouco me adiantaria ter faltado ontem, uma vez que todas as minhas tentativas de ignorar Emmett seriam claramente irrelevantes, pois agora ele era um CAT. Eu tinha a suspeita de que ele havia entrado para o nosso grupo de populares por conta do seu pedido de amizade no Orkut. Uma das regras mais simples exigida por Ariana era a de que todos nós deveríamos ser amigos na tal rede social. O mesmo se aplicava ao MSN.

Mas, apesar dessa exigência, não aceitei a solicitação de Emmett.

Depois de eu ter visto sua notificação e ter saído do Orkut, não voltei ao meu perfil. Nem mesmo o abri hoje. Parte dessa minha decisão se devia também à minha vontade de não ser incomodado por Ariana no chat — es­sa era uma de suas típicas atitudes enervantes quando faltávamos na aula.

Com incógnitas paulatinas de como seria o meu dia, caminhei rumo às portas do colégio e passei pelo corredor dos armários da forma mais evasiva possível. Mais uma vez: era tristemente irônico um CAT andar como um rato pelo ambiente. Isso ficou ainda mais evidente e ridículo no instante em que vi algumas pessoas sorrindo para mim. Que beleza...

Fui ao meu armário às pressas para pegar minha pasta de plástico, onde nela continham minhas folhas de papel almaço, e fechei a porta metálica. Ao meu lado, um serzinho irritante franzia a testa para mim.

— O que houve com você? — Ariana indagou.

Deise e Bernardo logo apareceram ao seu lado.

— Hã... — comecei.

— Não era para você ter faltado ontem. Era para a gente ter ido falar com o Emmett, lembra?

— Fiquei doente. Minha cabeça estava doendo muito.

— E daí? — Ela suspirou. — Sabe que não pode faltar num compromisso! Você tinha que vir mesmo se alguém tivesse cortado sua perna!

Essa garota fuma pedra vencida ou o quê? Ela ouviu o que falei?

— Sinto muito.

Ariana bufou e segurou meu braço.

— Tanto faz. Vamos lá. — Ela praticamente me arrastou pelo corredor. — Ele já chegou.

— Quem?

— Emmett, claro!

Enquanto eu colocava a pasta na minha mochila, dei uma olhada breve para Deise, que se olhava no espelhinho do seu pó de maquiagem, e para Bernardo, que se esforçava para parecer natural. Ambos evidentemente se preparavam para ver Emmett, e olha que Bernardo nem era gay. Havia uma dúvida sobre isso, entretanto.

— Como assim? — indaguei, um tanto confuso. — Vocês não falaram com ele ontem?

Ariana me observou brevemente.

— Não, porque eu estava esperando você chegar. Falei que iríamos fazer isso juntos.

Caramba... E eu aqui pensando que já tinha me livrado desse problema.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora