19 | Duas rupturas

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Parei de brincar com minhas mãos e ergui as sobrancelhas. Não fiz muito esforço para evitar transparecer o grande nível da minha surpresa. O quê? Para mim, ele tinha acabado de se contradizer.

— Eu pensei... — comecei, mas parei no meio da frase. Ele esperou que eu continuasse. — Pensei que tivesse me perdoado.

— Sim, eu te perdoei. De verdade, não há nenhum remorso dentro de mim. — Para enfatizar sua resposta, Emmett gesticulou com a cabeça, bem decidido. — Só que a nossa conexão... é perigosa, Hércules. Você viu o que aconteceu no parque.

Senti um sufoco dentro de mim.

— Mas tudo estava indo tão bem — apelei, a voz tímida. — Nossos encontros escondidos, digo. Se eu não tivesse te chamado... não teriam descoberto. Não que eu me arrependa de ter te chamado — acrescentei depressa. — Só estou dizendo... que nós estávamos felizes antes de tudo desmoronar...

— Estávamos. Isso é verdade. — Emmett inspirou fundo, infiltrando as mãos nos bolsos. — Mas ontem refleti melhor sobre nós dois. Antes de tudo, acho que é importante enfatizar que minhas impressões sobre você não mudaram. Ainda te acho um garoto legal. Ainda acho que você não é como seus amigos. — Pausando por um tempo, ele examinou meu rosto, como se estivesse procurando por algo. — Mas esse lance de nos encontrarmos às escondidas não é legal. Pensei que seria divertido. Eu estava enganado, pelo visto. Pelo menos até ver o jeito como Deise te tratou ontem. Não quero que se prejudique por minha causa. Por causa da gente.

— Você não fez nada — murmurei, deixando subir uma aflição pela cabeça. — Fui eu quem causou tudo isso.

Ele me mostrou outro sorriso, dessa vez mais expansivo que o anterior. Mais uma vez, não durou tanto tempo assim.

— Aquela garota é um câncer para você — ele disse em desapontamento, e eu sabia que esse lado indignado era destinado à ruiva. — Todos eles são. Sinceramente, não entendo por que você ainda insiste em ficar com aqueles três. Parece que você gosta de ser maltratado. — Ele subiu os ombros brevemente, o olhar meio triste. — Em todo caso, quem sou eu para julgar, né?

Não consegui dizer nada depois de ouvi-lo, e os acontecimentos ao redor ficaram dispersos para mim, de modo que eu não pudesse prestar atenção. De algum modo, fiquei momentaneamente cego. A única coisa que minha mente era capaz de processar era que Emmett estava me dando adeus. Todo o resto me parecia insignificante diante disse — nada era tão importante quanto isso. Deveria ser por essa razão que minha visão se encontrava tão distorcida em relação aos elementos à minha volta.

— Emmett? — chamou um garoto na quadra, segurando uma bola de vôlei. — Vamos?

Emmett virou a cabeça na direção dele, acenando, e se voltou para mim. Eu ainda não sabia o que dizer.

— Eu quero muito ser seu amigo, Hércules — ele disse, a voz mais calma, como se tivesse tentando me convencer de que estava sendo sincero. Eu já sabia que ele jamais seria falso comigo. — Mas em condições certas, do jeito que dois amigos normais fariam. Por enquanto, é melhor nos mantermos separados. — Ele começou a se afastar de mim, mantendo nossos olhares unidos. — Desejo coisas boas para você.

Emmett deu meia-volta e começou a andar até o centro da quadra.

— Espera, por favor — pedi, saindo da arquibancada.

Ele se virou, a uns três metros de distância.

— Pois não?

Por um instante, não consegui sentir meu próprio corpo.

— Como eu posso te agradar? — perguntei, o desconforto presente, denunciando que eu não fazia ideia de como proceder com essa situação. — O que é que eu tenho que fazer para que você volte a andar comigo?

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora