38 | A festa de formatura

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[DOZE DIAS DEPOIS]
[Sábado, 22 de novembro de 2008]

Eu encarava a mim mesmo diante do espelho do meu quarto, analisando minha beca azul e meu olhar soturno por mais ou menos um minuto. O jeito como eu demorava a examinar todo meu corpo indicava muito bem o enorme buraco que havia se formado em mim. Agora eram 18h55 e eu não sentia nenhuma vontade de sair de casa. Porque eu não queria ter que me despedir oficialmente de Emmett.

Ele partiria amanhã à noite, mas nosso último contato seria hoje.

Sentindo-me muito sozinho, deixei de fitar meu reflexo e me sentei na minha cama, encarando o canto do meu quarto. Eu não gostava muito de pensar que todo mundo estava feliz por conta da formatura e eu era a enorme exceção. Eu nem queria mais ir, sinceramente, mas eu sabia que era um caminho sem volta. Então passei a torcer para que tudo acabasse muito rápido e eu pudesse me engasgar nas minhas próprias lágrimas em casa. Não sentia que hoje era um dia especial — o fato de eu ter concluído os meus estudos não tinha nenhum significado para mim. Pelo menos não agora.

Durante os dias que se passaram, torci muito para que alguma coisa fizesse Emmett ficar. No fundo, entretanto, eu tinha consciência de que isso era impossível. A vida real não era como um conto de fadas bonitinho onde todos os acontecimentos se convergiam para a felicidade do casal principal. E não, eu não descobri esse fato há um tempo. Eu descobri hoje ao perceber que, apesar de ter passado noites sem dormir (simplesmente porque eu implorava para que Emmett continuasse comigo), meus pedidos não foram realizados.

Ele iria para São Paulo e ponto final. Nada poderia mudar isso.

Ele também não estava bem, claro, e aquele lance de seguir com os dias naturalmente, aproveitando o tempo ao máximo, não foi tão fácil assim de fazer. Há três dias, mais ou menos, eu já estava agoniado por saber que eu teria que me despedir de Emmett nesta semana. Eu já não era capaz de manter uma expressão discreta e fingir que nada iria acontecer. Comecei, então, ser sincero sobre meus sentimentos, o que basicamente significava que eu frequentemente dizia a Emmett que iria sentir falta dele. Isso não era uma tentativa de fazê-lo mudar de ideia, mas acho que não consegui transparecer outra impressão que não fosse essa.

Eu podia dizer todo dia que sentiria saudade de Emmett, não poderia? Outra pessoa teria agido de forma diferente no meu lugar?

— Ei. — A voz do meu pai apareceu no meu quarto. Ele caminhava devagar até mim. — Como você está?

Senti um nó na garganta quando ele se sentou ao meu lado. Ele e minha mãe iriam à formatura também. Ver que ele já estava perfumado e vestido socialmente me garantiu que sairíamos de casa em questão de poucos minutos — e eu teria que aguentar um pouco mais de uma hora de cerimônia para abraçar Emmett pela última vez.

Comecei a entrar em pânico.

— Mal — respondi, a tristeza visível tanto no meu rosto quanto na única palavra que eu disse.

Vinícius me lançou um olhar compadecido que só ele poderia fazer.

— É uma droga que você tenha que passar por isso — ele disse, indignado de certa forma. — Eu torci muito para que você tivesse um caminho justo com ele, um caminho melhor.

E lá vinha aquela onda de solidão intensa de novo...

— Eu sei, pai. — Mordi o canto da boca para não permitir o início das minhas lágrimas. — Ele era tudo para mim.

Ele sorriu docilmente e olhou pelas paredes do meu quarto, até que os olhos pairaram sobre um retrato que eu tinha adquirido recentemente — semana passada. No retrato, havia uma foto que Catarina tinha tirado de mim e de Emmett, lá naquele dia no refeitório. Ele e eu estávamos nos abraçando, de modo que meu rosto se encaixasse perfeitamente abaixo de seu queixo. Nossos olhares estavam orientados na direção da câmera fotográfica, felizes, como se nunca tivéssemos ficado tristes.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora