39 | Eu quero você

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[ÚNICO CAPÍTULO DESCRITO POR EMMETT]
[Domingo, 23 de novembro de 2008]

Fechei o zíper da minha última mala e apoiei minhas duas mãos nela, os olhos fixos na porta aberta do meu quarto. Meus pais e eu pegaríamos o voo daqui a duas horas, mais ou menos.

Suspirei pensativamente e me sentei na cama, correndo meu campo de visão pelo quarto que eu teria que deixar para trás. O quarto em si não me faria sentir tanta saudade. O que passei com Hércules aqui era a parte que causaria uma dor no peito. Ele não dormiu tantas vezes comigo na minha casa — provavelmente devo ter dormido mais frequentemente na casa dele —, mas todas essas vezes significaram muito para mim. Todas foram especiais de certo modo.

Ah, Hércules...

Andei com a cabeça confusa ontem depois que nos despedimos. Até então, por mais que me machucasse pensar na nossa separação, eu já tinha me decidido quase que totalmente que eu não voltaria atrás, que eu não deixaria a viagem escapar. Meus pais conversaram comigo sobre isso uma última vez assim que deixamos a festa de formatura. Perguntaram se eu estava convicto de que a melhor opção para mim seria ir com eles para São Paulo. Eu tinha respondido que sim... mas definitivamente não era a escolha que me traria felicidade.

Descobri isso hoje ao acordar. Talvez eu não quisesse mais ir.

Olhei para uma das minhas malas na cama e pensei profundamente em Hércules. Meu coração palpitava tão rápido que parecia que eu estava tomando a decisão mais desafiadora da minha vida — eu estava mesmo. E eu tinha apenas duas horas para refletir sobre meu futuro de vez. Sendo assim, apoiei meus cotovelos nos joelhos e inclinei o corpo para frente, esfregando o rosto. Deixei a mente trabalhar. Céus... Isso é tão difícil.

Quer dizer, eu amava meus pais. Mas eu também amava Hércules. Não era justo que eu tivesse saído do meu antigo colégio para ir atrás dele, conquistá-lo, amá-lo e, no fim das contas, tudo dar errado. Eu não precisava de nenhuma outra pessoa. Ele já era o bastante para mim, e eu queria muito que mantivéssemos nossa relação. Ainda havia tanta coisa que eu gostaria de compartilhar com ele, tanta coisa que ainda não vivemos. Éramos tão jovens. Por que isso teria que acabar cedo demais?

Lembrei-me instantaneamente de seu olhar dolorido na noite anterior, quando nos despedimos em frente ao colégio, e isso me deixou para baixo. Foi uma ruptura brusca e sufocante. Não me senti totalmente preparado nessas últimas semanas para o que viria hoje. Sofri muito, mas eu estava certo de que com Hércules foi pior. Não importava o quanto eu tentasse, eu jamais conseguiria acreditar que o convenci de que realmente não tive culpa. Era difícil aceitar que eu não era o responsável pelo nosso rompimento — porque foi a minha família que decidiu ir embora, não a dele. Senti-me culpado.

Acho que era por isso que agora eu estava em busca de uma solução para tudo isso.

Jesus amado. Por que isso é tão complicado?

Meu coração começou a bater mais depressa, e, por conta da agonia, precisei me levantar. Isso era um indício de que o desespero começava a bater à minha porta. Enquanto eu dava voltas e mais voltas no meu quarto e passava a mão no cabelo, ponderei o que eu teria a perder se eu ficasse aqui, ao lado do garoto pelo qual eu era apaixonado. Não consegui encontrar uma razão forte o suficiente que me obrigasse a ir embora, tirando aquela em que eu teria que me separar dos meus pais.

Mas eles sempre seriam os meus pais — nada mudaria isso. E se eu partisse com eles... Hércules não seria mais meu namorado. Além do mais, eu gostava daqui, dessa cidade, e ter que ir para outro estado exigiria que eu recomeçasse minha vida do zero. Isso não era um grande problema, claro, mas por que exatamente eu teria que seguir por esse caminho, considerando que eu podia morar com Hércules e continuar vivendo minha vida normalmente?

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora