36 | Um final não feliz para nós

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Não sabia o que esperar quando Victor tinha acabado de me deixar na casa de Emmett. A princípio, assim que cheguei, encarei um dos pés de coqueiros que havia no quintal e deduzi qual seria a conversa tão importante que exigia minha presença. Nós não nos separamos, como era para ter acontecido no sonho. Mas alguma coisa dentro de mim me disse para não abandonar a corda de aflição que eu vinha agarrando há dias — porque as coisas ainda não tinham se resolvido. Só que isso era delírio nada mais que um delírio da minha cabeça. Às vezes eu era medroso demais.

Com um suspiro, toquei a campainha. Quem veio me atender foi Emmett — pelo que fiquei sabendo, o portão voltou a estragar, então ele precisaria vir até mim. Observei seu rosto atentamente enquanto a distância entre nós se tornava cada vez menor. Nos cumprimentamos com um beijo, como de costume. Isso não era novidade. Mas eu senti que ele, meio envergonhado, parecia evitar contato visual comigo. Isso era novidade.

Não dissemos nada mais que "oi" um para o outro e andamos a sala. Emmett não tinha me dado pistas que indicassem que seus pais estavam ou não dentro de casa, mas, pela forma como ele preferiu não ir para o quarto, supus que estivéssemos a sós (seu quarto seria um lugar mais reservado para conversar, caso seus pais estivessem aqui). Sentei-me no sofá, deixando um espaço à minha direita para Emmett. Ele, entretanto, sugou o lábio inferior, olhou para a região vazia ao meu lado por um instante e se sentou elegantemente na mesinha à minha frente.

Tudo bem, eu já estava ficando tenso.

Essa era outra coisa não normal sobre Emmett.

— Está com fome? — ele perguntou, o rosto indecifrável. — Sede?

Fiz que não, deixando evidente o tamanho da minha confusão.

— Estou bem.

Emmett assentiu.

Ele estava tão perfeito — visualmente falando. A cor branca envolvia seu visual por completo: sua calça e camisa eram tão claras quanto o seu cabelo desgrenhado. Era estranho pensar que algo sobre isso me deixava triste. Talvez porque ele estivesse um contraste oposto entre sua impecável beleza e a atmosfera aflitiva que ele deixava fluir no ar.

O silêncio entre nós cresceu, e eu não estava gostando nada disso. Me deixava mal a ideia de que Emmett e eu estávamos nos fitando e não comentávamos nada um para o outro. De repente, parecíamos dois estranhos. A comparação me deixava pior.

Decidi agir.

— Eu sei que você vai me dar uma notícia triste — murmurei, tendo total consciência de que eu estava certo. — Meus anos ao lado dos CATS me fizeram ter um vínculo muito grande com a tristeza. Então... seja lá o que for que você queira me contar... pode dizer. Eu aguento.

Eu quase tinha certeza de que Emmett havia prendido sua respiração antes de decidir se render ao meu pedido. Ele estava perdido, evidentemente, e isso ficou ainda mais claro quando ele uniu as mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos, e olhou para baixo rapidamente. Seus olhos estavam desanimados quando ele voltou a me ver.

— Meu pai conseguiu uma nova proposta de emprego em São Paulo — ele disse, as palavras anunciadas em tom baixo e sem pressa. — A notícia veio ontem. Ele irá ganhar quase o dobro do que ganha aqui. É numa das melhores advocacias da cidade. Perto de alguns dos meus parentes.

Meu corpo inteiro se manteve imóvel.

Eu tentei entender o que isso representava, e a primeira coisa que eu deduzi era que a família de Emmett seria separada — ele e a mãe ficariam aqui, enquanto o pai os deixaria. Pelo menos por algum tempo. Essa minha suposição não me soava tão convincente, mas, infelizmente, não havia me dado conta disso na hora.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora