11 | Déjà vu

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[Quarta-feira, 12 de agosto de 2008]

— Aqui. — Ariana entregou na minha mão alguns papéis pequenos, rosados e retangulares, distribuindo mais alguns deles para Bernardo e Deise. Era horário do intervalo. Nós quatro caminhávamos pelo corredor dos armários, rumo ao refeitório.

Franzi a testa ao me dar conta de que fui presenteado com uns cinco ingressos. Antes que eu pudesse ler o conteúdo e descobrir para que eles serviam, meu amigo CAT indagou:

— O que é isso?

— Vamos àquele parque de diversão que fica na Jorge Teixeira no próximo sábado à noite. Comprei os ingressos adiantados para a gente não ter que enfrentar fila.

As rugas no meu cenho aumentaram. Hã?

— Por quê? — Deise questionou, já guardando os bilhetes no bolso para fazer o que sabia fazer de melhor: se observar no espelho de seu pó compacto.

Ariana se virou para ela.

— Por que o quê?

— Por que quer que a gente vá?

— Porque sim, ora. — A líder revirou os olhos azuis. Como seu cabelo solto a deixava ainda mais impaciente, ela decidiu amarrá-lo. — Vai ser às 20h. Procurem não se atrasar, por favor. Sabe como eu detesto isso. — Ela olhou diretamente para mim. — E se alguém ficar doente, leve um comprimido ou uma pomada, sei lá.

Se eu estivesse doente, para que diabos iria levar uma pomada?

Em todo caso, eu estava estranhando Ariana ter dado ingressos para nós, visto que, se fôssemos considerar todos os seus atos bondosos, poderíamos dizer que ela praticamente não se importava conosco. Além disso, de onde surgiu esse seu interesse por parque de diversões, ainda mais um que ficava longe de sua casa? Ela era a pessoa mais preguiçosa que já conheci.

Já fiquei desconfiado. Os brinquedos do parque jamais poderiam ser uma razão suficiente para fazê-la se locomover de sua amada residência para lá.

— Parece que alguém tá de bom humor hoje — Bernardo percebeu, enfiando os ingressos num dos bolsos de sua calça mais larga que suas pernas. E ainda tinha uma corrente dourada pendurada na lateral. Eu nunca ia entender essa esquisita moda masculina, sinceramente.

— Querido — Ariana disse —, eu sempre estou de bom humor.

Olhei para o lado e fiz uma careta de tédio. Tá bom...

— A gente vai precisar te pagar depois? — Deise indagou, fechando seu pó. Eu estava torcendo, de coração, para que ela não estivesse se ajeitando para Erick.

— Credo, gente. — A líder crispou seu rosto magrinho para a amiga ruiva. — Não, né? Até parece que sou tão ruim assim.

Acho que foi exatamente por isso que Deise fez a pergunta.

— Oi. Ariana? — A voz de uma garota loira, tímida e desajeitada apareceu ao nosso lado. — Tudo bem?

Ariana parou de andar e se virou para ela, a expressão de condenação já formada.

— Eu te conheço?

— Sim, hã... Você me pediu um dinheiro emprestado, lembra? — a menina recordou, nervosa.

— Não. — A líder balançou o rosto de um jeito "sai da minha frente". — Com licença.

— Você me pediu R$ 10 na semana passada — a loira disse. — Para comprar absorvente. E eu estou te lembrando porque preciso do dinheiro.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora