Franzi a testa bem lentamente, analisando a feição infantil e provocante que Ariana sustentava na minha direção, como se estivesse fazendo esforço para eu odiá-la. Ela nem precisava de muito para isso. Os outros dois CATS, inclusive, agiam da mesma maneira, o que aumentava ainda mais minha dose de impaciência.
— Como? — perguntei.
— Achou mesmo que eu não iria descobrir que você está saindo com Emmett escondido? — a líder revelou, cruzando os braços. — Queria me enganar por quanto tempo?
Com o rosto ainda vincado, olhei para Deise, sabendo que ela tinha sido a causa para Ariana ter descoberto tudo. Ao que parecia, ela não foi capaz de conter a língua, mesmo que eu tivesse dito que deixaria Emmett de lado. Eu não sabia dizer se era ódio que delineava as linhas da minha expressão, mas eu senti meus dedos se apertando contra a mesa. A única coisa que a ruiva fez foi erguer os ombros.
— Bernardo me contou — Ariana, para a minha surpresa, informou. — Pelo menos ele sabe ser fiel aos amigos, diferentemente de você.
Encarei Bernardo. Um de seus braços estava estirado no escoro do banco, por trás das costas de Ariana, enquanto que o outro estava na mesa, cujos dedos batiam levemente no material. Ele nem conseguia disfarçar sua traição.
— Eu andei desconfiando que você tinha algum lance com Emmett — Bernardo explicou, usando um tom na justificativa que deixava notável que ele queria que eu entendesse que ele só me apunhalou pelas costas por minha própria causa. — Então, resolvi te seguir. Aí vi vocês dois conversando na quadra na semana passada. Vocês foram lanchar no Subway após saírem de lá.
Pelo canto do olho, vi Emmett virar sua cabeça para mim ao ouvir seu nome no meio da conversa. Ainda assim, apesar de eu estar sendo observado por ele, não desviei minha atenção do CAT. Queria aparentar que não estava intensamente irritado pela situação, mas todos os meus aspectos físicos denunciavam o contrário.
— Para piorar — Bernardo prosseguiu —, Deise me disse que te viu no parque com Emmett. Não restou outra opção a se fazer: contei para Ariana o que tinha acontecido. É uma das nossas regras, né? Ser fiel com o grupo.
Foi aí que me lembrei do que meu pai me disse. Eles não são seus amigos. Me dar conta disso me machucou, todavia, se eu não tivesse me sentido magoado, talvez nunca fosse perceber. Às vezes precisamos levar uma queda para acordar.
— Você é um tremendo de um imbecil — murmurei, controlando minha vontade de soltar outros inúmeros adjetivos.
Bernardo suspirou.
— Você vacilou, cara. Você vacilou.
— Você só se tornou um CAT porque eu convenci Ariana a te deixar entrar! — exclamei, apontando para mim mesmo. Acabei atraindo alguns olhares no meu rumo. — Você deveria me agradecer, caramba! Você fez exatamente o contrário!
— Ah, fala sério, Hercules! — Bernardo franziu a testa, irritando-se muito rapidamente. — Já fiz muita coisa por você também!
Tirei minha outra mão da mesa, sugando o lábio inferior com força. De qualquer forma, ele não era meu problema. A fútil garota do meio era a única pessoa que realmente merecia meus julgamentos. Inspirei fundo. Pela primeira vez na minha vida, eu iria dizer tudo aquilo que ficou preso na minha garganta por quase três anos.
— Você é o ser mais desprezível da Terra — rosnei para Ariana, de modo que um arrepio tremendo corresse pela minha espinha. — Todos que se deram conta disso saíram de perto de você. Ninguém te suporta, sua otária. Ninguém. Passei meses tentando fazer com que você me notasse, que gostasse de mim. Você não tem noção das coisas que tive que fazer para estar ao seu lado. Mas aí, com o tempo, percebi que pouco me interessavam os seus sentimentos. — Trinquei os dentes. — Não podemos esperar que uma pessoa nos diga que somos importantes, senão nós passaremos a vida toda acreditando que não somos. — Tornei a me indicar. — Hoje percebi que eu me basto. E isso é mais do que qualquer coisa que você possa me dizer.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...