[Domingo, 16 de agosto de 2008]
Minha burrice da noite anterior não me permitiu ter uma boa noite de sono. Devo ter dormido lá pelas 03h da madrugada, logo depois de ter me remexido diversas vezes na cama, tentando encontrar o melhor ângulo. Nenhuma posição foi boa o bastante para me fazer esquecer do meu gesto impensável. Quando a manhã chegou e eu abri os olhos, um sentimento de vergonha percorreu meu rosto.
Meu banho foi demorado. Calculei quanto tempo eu poderia gastar no chuveiro para ter certeza de que meus pais não estariam na cozinha e eu pudesse tomar meu café sozinho. Concluí que vinte minutos seriam o ideal. Sendo assim, após ter tomado banho e escovado os dentes, sentei-me na cadeira em frente ao meu computador e o liguei. Com o Orkut aberto, esperei ter recebido alguma resposta de Emmett. Isso, entretanto, não tinha acontecido.
Senti um nó na garganta.
Ainda mais envergonhado, abri seu perfil da rede social. Não queria fazer nada específico — como stalkeá-lo ou ler mais informações presentes em sua biografia. Meu único desejo era bem mais simples do que isso. Já que eu tinha a suspeita de que Emmett não olharia mais para mim, decidi olhar para ele, então. Fitei a sua foto de perfil pelo período em que o meu lado arrependido retornava. Meus olhos, hipnotizados demais com a imagem, se recusavam a olhar para o lado.
Olha só o que eu perdi.
Onde é que eu estava com a cabeça, meu Deus?
Engoli com muita dificuldade, atordoado por uma confusão que eu mesmo criei, e fechei meu Orkut. Se Emmett realmente resolvesse me ignorar no chat, eu teria que dar um jeito de falar com ele pessoalmente. Eu só não sabia ainda o que, afinal de contas, diria — se é que ele fosse me dar uma chance de dizer alguma coisa. Era demais suportar a possibilidade de que Emmett pudesse me ignorar permanentemente, mesmo que eu tivesse lhe dado motivos para isso. Talvez nem fosse vantajoso me aproximar dele, pelo menos não agora. Ele obviamente estava chateado.
E o que vou fazer até lá?
Soltei um gemido baixo.
Por favor, me responda...
Na cozinha, percebi que minhas contas a respeito do tempo necessário para que meus pais já tivessem tomado café falhou, pois os dois estavam sentados à mesa. Ao vê-los, desejei imediatamente dar meia-volta e retornar ao meu quarto, entretanto, justo quando eu estava prestes a partir, minha mãe acabou me vendo. Tive que mascarar o meu rosto com um sorriso animado, mas eu sabia que essa arquitetura facial estaria fadada ao fracasso.
— Se divertiu no parque ontem? — meu pai perguntou, limpando a boca com um guardanapo. Ao menos ele já tinha acabado de tomar seu café, o que significava que iria fazer alguma coisa relacionada ao seu trabalho dentre poucos minutos.
— Foi bem legal — falei, encarando o cereal na minha tigela. Não era exatamente uma mentira, porém os momentos finais do dia pareceram estragar todos aqueles que vieram antes.
— Ah, foi? — minha mãe perguntou, os olhos curiosos em mim. — E essa carinha triste?
Observei-a só por um segundo, como se não quisesse que ela capturasse a derrota nas minhas íris.
— Não é nada.
Como já era esperado, ela não acreditou totalmente na minha resposta.
— Ana nos disse que você ia chamar aquele seu amigo que você estava conhecendo — meu pai comentou, talvez em busca de uma informação que pudesse justificar minha falta de empatia. — Você o chamou?
Suspirei, sentindo aquele mesmo toque amargo na ponta da língua. A palavra "amigo" pareceu mexer no meu interior, do mesmo modo que uma agulha causaria um incômodo gritante ao penetrar a pele de uma pessoa machucada.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...