Fomos parar no Subway de novo, mas ele estava quase vazio dessa vez. Os únicos clientes, além de Emmett e eu, eram um grupo de amigos, todos sentados numa única mesa. Eu estava de frente a Emmett e de costas para a porta da entrada, posição escolhida com o intuito de ter tempo para me abaixar, caso minha companhia avistasse algum dos meus amigos entrando no ambiente.
Já estávamos aqui há uns dez minutos e ninguém tinha aparecido.
Acabei comendo um sanduíche, no fim das contas.
— Então, Hércules, me conta aí: qual foi a pior coisa que você teve que fazer para continuar sendo um CAT?
Como se tivesse sentido uma dor, apertei os lábios.
— Muita coisa responde isso — murmurei, parcialmente decepcionado. — É até difícil listar apenas uma.
— Tudo bem. — Emmett parecia apreciar minha compunção. — E qual foi a mais recente?
Empurrei meus joelhos para frente e, parecendo um desleixado, deslizei as minhas costas no banco, como se estivesse me afundando em remorso que eu não queria enfrentar. Senti-me igual a uma pessoa expondo seus pecados para um padre.
— Ter cortado minha amizade com Catarina — falei, triste.
Emmett assentiu lentamente. Era incrível ver que, após ter comido, o brilho em seu rosto havia voltado.
— Ela sente sua falta — ele afirmou.
Desci meu olhar para mesa.
— Ela te disse isso?
— Disse.
O aperto no meu coração aumentou.
— Também sinto falta dela.
Houve um momento de reflexão.
— Mas acho que ela está feliz — Emmett emendou, estendendo seu braço direito no escoro do banco.
Abri um sorriso mínimo em sua direção.
— Eu estaria chocado se ela não estivesse.
— Por que Ariana a tirou do grupo? — ele perguntou, a cautela oscilando em seus olhos.
Só agora vim constatar que nunca dei a Catarina uma razão para a sua expulsão. Eu simplesmente disse que Ariana a tinha cortado do nosso grupo. Minha amiga, provavelmente, estava contente demais com a ideia de que não seria mais submetida a ordens para se importar em perguntar o que foi que ela fez para perder o status de CAT. Acho que eu também não iria querer saber.
— Porque, na cabeça de Ariana — expliquei —, Catarina não se enquadrava no nosso esquema. Ariana é... é muito sistemática. Exige muito de nós. Diz o que devemos comer, como se comportar em público e de quem devemos ser amigos. É uma lista bem chata.
— Tudo isso para ser popular — Emmett concluiu.
— Exatamente.
Ele estreitou seus olhos claros, agora mais notáveis, e, por um segundo, parecendo estar me analisando, moveu a boca para o canto.
— Você está feliz em ser um CAT? — ele perguntou.
Eu fiz que não. Então, me dando conta de que fui muito automático na resposta, suspirei, ajeitando minha compostura no banco.
— Mas a gente não precisa falar disso — falei, tentando me esquivar do assunto. — Não precisamos falar sobre mim. Vamos falar de você.
Ele sorriu lentamente.
— O que quer saber?
— Não sei. — Fiquei tímido, pois eu já sabia muita coisa sobre ele. — Quando duas pessoas que futuramente se tornarão amigas conversam, por onde elas começam?
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...