27 | Hã?

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Eu geralmente não mandava mensagens durante o jantar — porque nunca tinha com quem realmente conversar —, mas, só por hoje, quebrei essa regra. Uma das consequências de estar gostando de alguém era não ser capaz de controlar a necessidade de manter contato o tempo inteiro. Toda vez que eu deixava meu aparelho de lado, era como se tivesse me desligando de Emmett, e essa comparação não me permitia comer direito.

— Parece que alguém está muito apaixonado — comentou a minha mãe, levando o garfo com alface à boca.

Respirei fundo.

— Desculpa. — Travei a tela do iPhone e o descansei ao lado do meu prato. Poupei-me de concordar com Eleanor, já que o sorriso presente no meu rosto deixava a resposta muito explícita. — Vou parar.

Meu pai achou graça. Ele também mexia em seu aparelho, mas, diferentemente de mim, o usou apenas para resolver uma questão relacionada à sua advocacia.

— Suponho que ele seja um rapaz bonito — ele deduziu, voltando a comer.

Lutei contra meu desejo de expandir o sorriso.

— Por quê? — perguntei. — Por que achou isso?

— Porque você não é feio.

Ah. Não eram extremamente raras as oportunidades em que meus pais me elogiavam, mas a surpresa sempre me pegava. Não era como se eu não acreditasse em suas palavras — eu sabia que era bonito. A questão era que, enquanto estive com os CATS, tive que aprender a me retrair, porque percebia o quão doentio era a mania deles em elogiar a si mesmos. Bastava me lembrar das excessivas ocasiões em que Deise se encarava no espelho de seu pó compacto.

— Ele não é bonito — discordei, levemente abismado por esse adjetivo ser muito insuficiente para classificar Emmett. Eu fitava a mesa enquanto buscava um termo plausível. — Ele é... sublime. "Bonito" eu usaria para definir outros garotos no colégio. Com Emmett, é diferente. — Tornei a olhar meu pai. — Sabe quando você passa a vida toda provando um chocolate comum e, de repente, experimenta um novo chocolate, totalmente incomparável àqueles que você saboreou antes? É mais ou menos isso.

Minha mãe me mostrou uma expressão de quem tinha acabado de comer o tal chocolate exótico que acabei de mencionar. O rosto do meu pai não fugia muito disso também.

— Exagerei um pouco, né? — perguntei retoricamente, querendo rir. — Vou voltar a comer.

Vinícius sorriu.

— Como ele se chama? — ele indagou.

A pergunta trouxe sulcos à minha testa. Era estranho pensar que eu tinha atribuído aos meus pais várias características de como eu estava me sentindo em relação a Emmett — que ele me fazia sentir mais vivo, que a nossa conexão era sadia para mim —, mas nunca cheguei de fato a falar sobre seus aspectos físicos. Nem o seu próprio nome eu disse.

Para alguém que nunca namorou, era esperado que, quando fosse namorar, eu já chegasse destacando a fisionomia do meu namorado, ainda mais se tratando de Emmett, que possuía traços divergentes de noventa e nove por cento da população. Esse tipo de orgulho (orgulho de ter um garoto extraordinário, física e internamente falando) seria suficiente para fazer qualquer pessoa se gabar. Fiquei verdadeiramente surpreso por eu não ter me encaixado nesse grupo.

— Emmett — eu respondi, usando um tipo de apreciação exagerada no tom. — O nome dele é Ememtt. Ele tem cabelo branco e olhos violetas. Eu sei que parece mentira, mas juro que é verdade. Vocês precisam ver. Todo mundo no colégio ficou chocado quando ele apareceu. Nunca tinha visto ao parecido com isso.

Por um instante, meus pais — os dois — franziram a testa e se entreolharam. A princípio, imaginei que eles estivessem processando os detalhes de Emmett, porém, logo após terem me mostrado uma feição diferente, percebi que eu havia interpretado errado.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora