Eu geralmente não mandava mensagens durante o jantar — porque nunca tinha com quem realmente conversar —, mas, só por hoje, quebrei essa regra. Uma das consequências de estar gostando de alguém era não ser capaz de controlar a necessidade de manter contato o tempo inteiro. Toda vez que eu deixava meu aparelho de lado, era como se tivesse me desligando de Emmett, e essa comparação não me permitia comer direito.
— Parece que alguém está muito apaixonado — comentou a minha mãe, levando o garfo com alface à boca.
Respirei fundo.
— Desculpa. — Travei a tela do iPhone e o descansei ao lado do meu prato. Poupei-me de concordar com Eleanor, já que o sorriso presente no meu rosto deixava a resposta muito explícita. — Vou parar.
Meu pai achou graça. Ele também mexia em seu aparelho, mas, diferentemente de mim, o usou apenas para resolver uma questão relacionada à sua advocacia.
— Suponho que ele seja um rapaz bonito — ele deduziu, voltando a comer.
Lutei contra meu desejo de expandir o sorriso.
— Por quê? — perguntei. — Por que achou isso?
— Porque você não é feio.
Ah. Não eram extremamente raras as oportunidades em que meus pais me elogiavam, mas a surpresa sempre me pegava. Não era como se eu não acreditasse em suas palavras — eu sabia que era bonito. A questão era que, enquanto estive com os CATS, tive que aprender a me retrair, porque percebia o quão doentio era a mania deles em elogiar a si mesmos. Bastava me lembrar das excessivas ocasiões em que Deise se encarava no espelho de seu pó compacto.
— Ele não é bonito — discordei, levemente abismado por esse adjetivo ser muito insuficiente para classificar Emmett. Eu fitava a mesa enquanto buscava um termo plausível. — Ele é... sublime. "Bonito" eu usaria para definir outros garotos no colégio. Com Emmett, é diferente. — Tornei a olhar meu pai. — Sabe quando você passa a vida toda provando um chocolate comum e, de repente, experimenta um novo chocolate, totalmente incomparável àqueles que você saboreou antes? É mais ou menos isso.
Minha mãe me mostrou uma expressão de quem tinha acabado de comer o tal chocolate exótico que acabei de mencionar. O rosto do meu pai não fugia muito disso também.
— Exagerei um pouco, né? — perguntei retoricamente, querendo rir. — Vou voltar a comer.
Vinícius sorriu.
— Como ele se chama? — ele indagou.
A pergunta trouxe sulcos à minha testa. Era estranho pensar que eu tinha atribuído aos meus pais várias características de como eu estava me sentindo em relação a Emmett — que ele me fazia sentir mais vivo, que a nossa conexão era sadia para mim —, mas nunca cheguei de fato a falar sobre seus aspectos físicos. Nem o seu próprio nome eu disse.
Para alguém que nunca namorou, era esperado que, quando fosse namorar, eu já chegasse destacando a fisionomia do meu namorado, ainda mais se tratando de Emmett, que possuía traços divergentes de noventa e nove por cento da população. Esse tipo de orgulho (orgulho de ter um garoto extraordinário, física e internamente falando) seria suficiente para fazer qualquer pessoa se gabar. Fiquei verdadeiramente surpreso por eu não ter me encaixado nesse grupo.
— Emmett — eu respondi, usando um tipo de apreciação exagerada no tom. — O nome dele é Ememtt. Ele tem cabelo branco e olhos violetas. Eu sei que parece mentira, mas juro que é verdade. Vocês precisam ver. Todo mundo no colégio ficou chocado quando ele apareceu. Nunca tinha visto ao parecido com isso.
Por um instante, meus pais — os dois — franziram a testa e se entreolharam. A princípio, imaginei que eles estivessem processando os detalhes de Emmett, porém, logo após terem me mostrado uma feição diferente, percebi que eu havia interpretado errado.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...