[Sábado, 29 de novembro de 2008]
O parque de diversão do meu bairro estava irradiante à noite. Parece que eles tinham investido mais na iluminação, mas aí eu logo percebi que era por conta da aproximação do Natal. Concluí isso ao ver diversas esculturas do velhinho querido de gorro vermelho espalhados pelo ambiente. Cervos, caixas de presente de brinquedo, globos de neve gigantes — eles deveriam bater na minha cintura —, bonecos de neve e estrelas de néon também enfeitavam a região.
Algo sobre a noite de hoje me fez notar o quão mais belo o parque estava em relação à última vez em que estive aqui, quando Deise descobriu que Emmett e eu andávamos juntos. Aliás... que período difícil. Caramba. Pensar na época em que eu era um CAT me fazia torcer o nariz de decepção. Parecia que havia se passado tanto tempo desde que abandonei aquele grupo... Qual foi o momento exato em que minha consciência bateu e eu percebi que precisaria deixar meus amigos tóxicos?
Era boa, em todo caso, ter a sensação de que as semanas correram, assim eu os esqueceria mais rapidamente. Eu não precisava de lembranças amargas na minha vida.
— E aí? — Emmett perguntou, animado ao extremo após termos deixado a fila para comprar ingressos. — Rola uma roda-gigante?
Ele usava um gorro preto na cabeça, o que destacava a cor de seu cabelo, regata branca e calça preta. Era uma roupa nova — tínhamos feito compras no shopping hoje à tarde como parte do nosso propósito, que era passear. Desde que Emmett passou a morar lá em casa, nossas energias tinham sido elevadas a um nível absurdo. Eu não queria ficar nem um minuto parado com ele — eu sempre achava que precisávamos estar fazendo algo o tempo todo. Talvez essa agitação repentina provavelmente se devia ao fato de que nossas aulas tinham acabado e agora não tínhamos nada de produtivo para fazer.
Tomar café ao lado de Emmett era como ganhar na loteria. Eu não conseguia nem explicar o grau de alegria que eu estava sentindo ultimamente. A sensação era simplesmente prazerosa, e, toda vez que eu dormia com ele ao meu lado, ficava contando os minutos para que o amanhã chegasse e nós pudéssemos fazer mais coisas juntas. Era um ciclo vicioso, o qual eu adorava embarcar.
A felicidade literal e definitivamente morava comigo.
— Hum... Na verdade, eu estava pensando em algo mais desafiador — propus, formando uma expressão secreta. — Que tal o Kamikaze?
Ele ficou surpreso.
— Kamikaze? Desde quando ficou tão ousado?
— Desde que me apaixonei por você.
Encantado com minhas palavras, ele puxou meu rosto de lado e encostou os lábios no meu cabelo.
— Kamikaze, então.
E foi com isso que caminhamos — corremos seria mais apropriado — em direção ao tal brinquedo perigoso (talvez não mais tão perigoso assim para mim). A fila, como sempre, estava cheia, com rodas de amigos, namorados e adolescentes acompanhados por seus pais, porque eles não poderiam embarcar no Kamikaze sozinhos. O pessoal parecia tão feliz hoje. Ou será que, por eu estar imensamente feliz, acabava enxergando o mundo desse jeito?
Emmett e eu nos encostamos lado a lado à grade e esperamos nossa vez chegar. Ele cruzou os braços e olhou para mim.
— Dá para acreditar que quase rompemos nossa amizade na última vez em que estivemos aqui? — ele perguntou.
— Eu estava pensando nisso agora. Acho que estamos mais conectados do que você imagina. Nossas mentes trabalharam juntas, viu só?
Seu sorriso caloroso apareceu.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...