25 | Homem com homem vira lobisomem

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[Domingo, 23 de agosto de 2008]

Já eram 2h20 da madrugada e a maratona ainda continuava. Estávamos vendo O Cálice de Fogo agora.

Era interessante a minha posição atual porque eu não me lembrava em que momento passei a deitar a cabeça no abdômen de Emmett, que estava sentado no chão, as costas descansadas no sofá. As minhas estavam deitadas no tapete macio no centro da sala. Eu gostava dos filmes de Harry Potter, todavia, justo hoje, não me importava tanto com eles, mesmo que meu rosto estivesse orientado à TV. Com Emmett fazendo cafuné no meu cabelo, minha concentração ia para longe — e isso era bom.

Catarina estava deitada no outro sofá. Uma espiada da minha parte me informou que ela dormia, e me perguntei em qual parte do filme ela havia se rendido ao sono. Sorri em seu rumo, divertindo-me com o fato de que minha amiga havia dormido no meio de sua saga favorita.

Poucos minutos de ela ter chegado, conheci Helen e Christian, os pais de Emmett. Da mesma forma que eu era uma cópia absoluta da minha família, pelo menos fisicamente falando, Emmett também era. A única diferença visível — e óbvia — ficava por conta da cor dos olhos dos pais dele, que era castanha em ambos. Eles disseram que Emmett tinha as íris azuis quando nasceu, mas que, depois de algumas semanas, mudaram para o tom que todo mundo agora conhecia. Segundo os meus pais, essa mudança aconteceu comigo também: meus olhos transitaram da cor azul para a verde. Pelo que fiquei sabendo, isso era muito comum de acontecer entre alguns bebês.

Além das características físicas, Emmett puxou o jeito carinhoso dos pais. A sensação de acolhimento que já tinha me dominado quando cheguei aqui cresceu depois que os conheci. A frase "sinta-se em casa" nunca fez tão sentido.

Deixei o conteúdo da televisão de lado e, por um minuto, olhei para Emmett, sabendo que agora ele não poderia me ver. Ele usava um penteado igual ao do Leon Kennedy, de Resident Evil 4, o qual o deixava ainda mais esplêndido. Eu me sentia corado só de examiná-lo — nem precisava que ele me pegasse no flagra. Passei o olhar pelos seus cílios espessos, nariz delineado e lábios destacados. Era fantástico ver como o meu conceito de beleza parecia se renovar a cada vez que eu batia os olhos nele.

Caramba, o que inspirou Deus a fazer alguém tão ímpar?

De repente, Emmett sorriu bem devagar e virou sua cabeça na minha direção. Por prever que ele me veria, consegui voltar a minha atenção à tela a tempo de não ser notado.

— Quer mais pipoca? — ele perguntou em tom baixo, movendo a tigela de vidro na minha direção.

— Não, obrigado. — Sem querer, inspirei fundo em seu peito, sentindo seu perfume assinatura. Quando reparei o que tinha feito, arregalei os olhos, virando pedra. Opa... — Hã... Eu quero água.

— Tudo bem. Vou lá com você.

Desencostei-me dele. Dei mais uma olhada em Catarina antes de seguir o caminho até a cozinha com Emmett, que estava à minha esquerda. Em meio ao silêncio da madrugada, tudo ficava misterioso. Eu tinha receio de alguma coisa fora do radar do meu conhecimento — mas de uma forma maravilhosa, de um jeito que fazia o meu estômago gelar positivamente. Esse sentimento continuou comigo quando abri a geladeira e peguei a jarra de água.

Emmett, observando-me com um quê de diversão, curvou a boca. A presença dele passou a me desestabilizar um pouco mais depois de pensar no que quase aconteceu no quarto.

— Está cansado? — ele me perguntou, inclinando-se sobre a mesa. — Ou com sono?

Fiz que não enquanto bebia água.

— E você? — perguntei.

— Com você ao meu lado? Não. Nem pensar.

Eu sorri, guardando a jarra de volta.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora