35 | Depois da meia-noite

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[Sexta-feira, 07 de novembro de 2008]

Já eram 16h da tarde e eu estava deitado no sofá da sala, encarando meu celular na mesinha à minha frente. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação perdida... Nada. Não era como se eu estivesse esperando por isso, levando em conta meu combinado com Emmett, mas uma minúscula parte de mim achou que ele fosse ligar para mim em determinado momento. Talvez eu tivesse ansioso demais por uma resposta que eu sabia que teria que esperar — eu só queria saber se ele estava bem. Mas, afinal de contas, quem poderia me culpar, né? Qualquer pessoa ficaria aflita no meu lugar.

Chovia agora, e isso me fez lembrar do meu último final de semana, quando Emmett estava aqui comigo. Tentei assistir a algum filme que tivesse enredo o suficiente para me distrair, mas me faltava vontade até de me levantar do sofá e pegar o controle da televisão. Na realidade, eu duvidava muito de que fosse me concentrar na TV caso conseguisse sair da inércia. Não havia nada agora que pudesse me fazer ficar animado.

Pela manhã, Catarina havia me perguntado se eu iria ao colégio, onde eu disse que não iria. Minha desculpa era a de que precisaria sair à tarde com meus pais.

Enquanto Ana fazia seu serviço pela casa, eu contava os minutos para ligar para Emmett, e ter que esperar segundo por segundo era como estar com muita sede e só poder beber uma gota d'água a cada um minuto. Provavelmente ele estivesse roendo as unhas em seu quarto também, rolando no colchão de sua cama macia. Ou não... A única coisa da qual eu realmente tinha certeza agora era a de que eu não sabia de nada — o futuro era uma grande incógnita, distante demais para ser alcançada.

Depois de uns dez minutos sem fazer nada, Ana me sugeriu jogar algum jogo no computador. Fiz isso. Levantei-me do sofá e sentei-me na cadeira em frente ao PC da sala.

No meu Orkut, Café Mania foi a minha primeira opção, mas aí parei de jogar ao perceber que eu encarava o monitor por longos segundos e os clientes saíam estressados da minha cafeteria. Tentei Colheita Feliz, então, e fiquei triste ao ver que meu cachorro, que deveria me ajudar contra furtos causados pelos meus amigos, havia morrido. Fazia quanto tempo que eu não jogava Colheita Feliz? Duas semanas?

Comprei um novo cachorro e abandonei o jogo.

Eu ia fechando o Orkut quando vi o perfil de Emmett na minha lista de amigos bem no centro, destacado, fazendo todos os outros rostos parecerem insignificantes. Ele seria facilmente a primeira pessoa a ser vista por alguém que visitasse meu perfil. Ele era exatamente como um quadro gigante, luxuoso e brilhante em uma parede totalmente branca.

Cliquei na foto dele e comecei a visualizar seu perfil, do mesmo jeito que fiz poucos dias depois de descobrir que ele tinha ido parar no meu colégio. Só agora me dei conta do seguinte: por que nunca tentei pesquisar por Emmett na rede social antes de saber que ele sempre foi real? Por que nunca pesquisei nada sobre ele?

Isso era um pouco chocante.

Observei seus álbuns de fotografias diversas — essa era uma solução para vê-lo, já que isso me foi privado hoje. Havia três álbuns: um com fotos que já foram usadas para o perfil, um com fotos de Emmett acompanhado por outras pessoas (amigos e familiares) e um com fotos dele sozinho, tiradas de formas variadas. Em todas ele estava sorrindo, com ou sem a exibição dos dentes. Ainda assim, não havia nenhuma imagem que não carregasse uma sinceridade palpável em seu olhar alegre.

Eu não tinha passado nem um dia completo longe dele e já estava com saudade.

Olhei para o chat no canto direito e vi que ele não estava online. Vontade não me faltava de digitar um "espero que esteja tudo indo bem com você" na barra de conversa, porém consegui sair da rede social sem fazer nada. Em seguida, deixando o computador, fui para meu quarto estudar um pouco.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora