4 | Como deixar de ser gay?

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Deslizando a mão direita pelo cabelo branco — não era natural, era pintado —, Emmett adentrava sozinho no refeitório repleto de alunos que aos poucos viraram o rosto para vê-lo. Sua calça era marrom, contornada em seu corpo, e a farda do colégio era de cor branca também. Em seu pescoço, um colar estava rodeado, cuja corrente sustentava uma peça de madeira retangular, dividida ao meio por uma parte roxa. O objeto fazia com que seus olhos violetas se destacassem ainda mais do que eles naturalmente já faziam.

Engoli em seco, e já era esperado que eu não fosse ser capaz de me mexer.

Vindo cada vez mais para perto de mim, meu coração aumentava o ritmo dos batimentos, de modo que ficasse visível a maneira como meu peitoral subia e descia. Era o mesmíssimo Emmett, eu já tinha percebido. Nenhum detalhe havia mudado, nem mesmo uma das suas características físicas mais fantásticas: seu maxilar quadriculado, o qual já beijei inúmeras vezes. Seu corpo era magro como o meu, porém com mais níveis de contornos musculosos, suficientes para arrancar um suspiro de qualquer garota presente. De qualquer garoto também.

Ao meu lado, Deise ajeitava seu cabelo ruivo para o lado, sendo notável sua tentativa de ajustá-lo do jeito mais sensual possível. Isso já deixava evidente que ela iria ignorar o pedido de Ariana de se manter afastada de Emmett, ainda que isso pudesse custar o seu status de continuar sendo uma CAT. A líder do grupo, aliás, torcia tanto seu pescoço que, pela fragilidade de seu corpo, tive muito receio de que ela fosse quebrá-lo. Até Bernardo estava sob o efeito de admiração extrema, embora fizesse esforço para não deixar isso transparecer.

Ah, droga... Eu tenho que sair daqui. Ele não pode me ver...

Olhei para os lados, em busca de escapatória, e voltei a virar minha cabeça para frente. Quando pressenti que Emmett me observaria, tendo em vista que ele se encontrava a uns sete metros de distância, agi de uma forma impensável: peguei meu garfo dentro do prato e, tomando cuidado para não ser notado por algum CAT, o joguei propositadamente no chão. Ninguém pareceu ter se dado conta do meu ato. Na realidade, tive a suspeita de que o pessoal nem chegou a escutar o barulho do garfo caindo. Essa cegueira repentina me permitiu inclinar o corpo por baixo da mesa, o que acabou por esconder meu rosto.

Eu literalmente estava me escondendo.

Esperei alguns segundos enquanto observava Emmett passar pela mesa onde meus amigos e eu estávamos. Eita... Por precaução, decidi que me manteria curvado para frente por mais um período curto, só para não ter o azar de levantar a cabeça e dar de cara com ele. Quando subi o corpo, agora convencido de que Emmett já tinha passado por mim, vi o rosto de Ariana, enrugado mais do que tudo na vida, me encarando.

— O que diabos você estava fazendo? — ela indagou.

Levantei o garfo para ela, mostrando-lhe também um sorriso insípido.

— Caiu.

— Ah. — Deixei de ser sua atenção no instante em que ela franziu a testa para Deise. — Está ajeitando o cabelo por quê? Posso saber?

Meu Deus do céu... Como Ariana consegue se suportar?

— Por nada — Deise respondeu, cessando os toques em seus fios acobreados. — Ele estava bagunçado...

Aproveitei que agora as duas dialogavam para visualizar o ambiente à minha volta. Emmett, para a minha sorte, estava sentado a umas três mesas de distância, de costas para mim.

— Eu espero que seja só isso mesmo — disse Ariana para a ruiva.

Deise só suspirou.

— Que combinação mais esquisita — Bernardo murmurou, o olhar esverdeado estreito na direção de Emmett. Suspeitei que ele houvesse usado o adjetivo errado de propósito, mas era até compreensível que ele não optasse pela palavra "linda". Bernardo não fazia parte do tipo de garotos que elogiavam alguém do sexo masculino. — Cabelo branco e olhos violetas. Me diz aí, qual é a chance de uma pessoa ser assim? Zero.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora