24 | Corações partidos por homofobia

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[Sábado, 22 de agosto de 2008]

Eram 19h20.

Em frente ao espelho do meu quarto, eu observava a roupa que escolhi para a sessão de Harry Potter na casa de Emmett: short jeans escuro, cito preto e camisa de mesa cor. Não querendo chamar atenção (nem havia motivos para isso), dispensei os meus tênis e optei por chinelos. Em compensação, optei por usar um boné ciano, que parecia dar uma claridade à cor verde dos meus olhos.

Demorei mais cinco minutos para decidir que essa seria minha roupa e saí do quarto. Victor já me esperava lá na sala, então só precisei me despedir dos meus pais antes de seguirmos a estrada. Não consegui controlar minha expressão de felicidade ao me despedir deles. Minha alegria parecia aumentar de minuto em minuto, caminhando de mãos dadas com minha consciência, que cada vez mais se dava conta de que eu me aproximava da maratona de HP. Eu sabia, sem precisar me esforçar, que essa minha euforia gradativa não tinha muito a ver com os filmes.

Troquei mensagens com Emmett durante o percurso. Nossa conversa virtual me favoreceu alguns sorrisos bobos, os quais foram notados por Victor, que me observava frequentemente pelo retrovisor. Mostrei a ele uma expressão divertida em todos os instantes em que nossos olhares se encontravam. Perguntei-me se ele já sabia que eu era gay, mas presumi que sim.

Depois de uns dez minutos, mais ou menos, nós chegamos à casa de Emmett. O portão metálico era branco e alto, embora não totalmente coberto: várias frestas me permitiam ver o quintal grande antes da varanda expansiva. Dois pés de coqueiro, um em cada lado da calçada central, enfeitavam o ambiente aprazível, enquanto que o gramado recentemente cortado acentuava a impressão relaxante que eu estava tendo.

Eu facilmente concernia Emmett a esse lugar. Era a cara dele.

— É aqui? — Victor perguntou.

— Sim. — Sorri para ele e destravei o cinto. — Obrigado.

Victor murmurou alguma coisa sobre eu não precisar agradecer por ele fazer o seu próprio trabalho, todavia acabei não prestando tanta atenção. Em pé diante da casa de Emmett, combinei com Victor o horário em que supostamente a maratona acabaria. Eu sabia que tinha feito um cálculo muito errado quando ele ficou confuso quanto à minha resposta final, então falei o que deveria ter dito antes — que eu ligaria após o fim da sessão.

Victor retornou à estrada depois do nosso acordo, ao passo que eu apertei a campainha da casa de Emmett. Uma voz no interfone ao lado do botão da campainha surgiu.

Pois não?

Era ele, por isso sorri mais.

— Oi. Sou eu, Hércules.

Ei! — Houve uma mudança em sua entonação.

— Cheguei cedo demais, né? — perguntei, enrugando a face de um jeito que demonstrava arrependimento.

Não, não. Está perfeito. Estou indo aí.

Eu assenti. Se eu não estivesse tão dopado de felicidade, teria percebido que Emmett não poderia me ver.

— Tá bom.

O barulhinho do interfone ecoou.

Levou uns dez segundos para que Emmett surgisse, acompanhado por um gato branco, que seguia seus passos. O animal capturou a minha atenção a princípio, pois ele grande, fofo e bem cuidado, mas, assim que Emmett ficou à minha frente, a uns dois metros de mim, rapidamente eu passei a fitá-lo. Ele atraía olhares com uma facilidade excepcional. Usava uma regata violeta, que parecia preta sob a luminosidade das lâmpadas, e uma calça branca. Já era pleonasmo dizer o quanto ele estava belo, mesmo estando completamente simples.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora