[Quinta-feira, 06 de novembro de 2008]
Eu estava nervoso quando o último tempo de aula acabou na quinta-feira. Eu estava nervoso porque só faltavam poucos minutos até ter que me despedir de Emmett e ficar um dia sem vê-lo. Não gostava muito da ideia de me manter distante dele, mas nós dois sabíamos o quanto isso era importante. Deveria ser importante — eu estava torcendo para que isso, para que nosso afastamento não fosse em vão. Ainda assim, eu não podia esconder de mim mesmo a tensão dentro de mim.
Emmett e eu nos sentamos num dos bancos do lado de fora do colégio. Eu estava esperando por Victor; pedi para que ele chegasse meia hora depois do horário que ele costumava me buscar, pois eu precisava de mais um tempinho com Emmett. A gente tinha aproveitado bastante as últimas horas depois da aula de ontem lá na quadra, durante o treino de vôlei dele. E a gente também chegava mais cedo no colégio, para que pudéssemos conversar por mais alguns minutos.
Eu nunca tinha sentido tanta necessidade de estar ao lado de Emmett quanto esses dias.
— Amanhã é sexta-feira — ele comentou distraidamente, os olhos ao redor do ambiente externo escolar.
Minha cabeça estava descansada em seu ombro. A atitude, além de me trazer o conforto que eu sempre sentia, me permitia sentir o perfume de Emmett mais de perto.
— Hunhum — confirmei.
A princípio, pensei que ele estivesse se referindo ao temível "grande dia". Mas percebi que entendi errado quando ele virou seu rosto para mim e completou:
— Amanhã terá aula.
Uns três segundos mais tarde, compreendi que ele estava se referindo ao fato de que acabaríamos nos encontrando aqui, no Álvaro, o que significava que nosso plano de não nos vermos iria por água abaixo. Por algum motivo — talvez por desespero —, eu tinha me esquecido desse detalhe. Pensei na solução mais simples para o problema.
— Eu faltarei — falei, observando alguns alunos saindo da entrada do colégio. — Não terei nenhum teste ou avaliação amanhã. E, além disso, ninguém vai sentir minha falta, né?
Emmett ficou em silêncio por uns segundos.
— Acho que vou faltar também.
— Sério? — Inclinei minha cabeça para vê-lo melhor. — Por quê?
Ele me deu um sorriso despreocupado. Esse deve ter sido o primeiro momento no dia em que o vi agir com uma expressão que não carregasse algum traço de preocupação.
— Não vai ter graça vir ao colégio e saber que você estará em casa perdendo aula por minha causa. Não é justo.
Entendi sua colocação. Eu não iria interferir na sua decisão.
— Tudo bem, então — respondi.
No segundo seguinte, vi Ariana, num cantinho do estacionamento, conversando com Erick, o garoto que Deise tanto almejava. Na verdade, o uso do verbo "conversar" estava mal empregado, percebi, já que eles pareciam estar discutindo. Erick deveria ter sido a única pessoa que ficou ao lado de Ariana após o rompimento completo dos CATS. Ela não tinha mais ninguém. Por um instante, deixando de lado tudo o que aconteceu entre a gente, senti-me triste por ela. Triste por saber que até hoje a garota ainda não tinha aprendido a ser uma pessoa melhor.
Após nossa última discussão na sala — aquela em que seu ex precisou vir apartar —, nós nunca mais nos falamos. Ela também havia deixado de lado suas implicâncias comigo, e isso era surreal, considerando que estudávamos na mesma sala. Ariana simplesmente fingiu que eu não existia. Bernardo e Deise seguiram a mesma linhagem. Achei que eles estivessem tramando algo contra mim, mas eu estava equivocado.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...