EU TE AMEI AMANHÃ

7 | Dois chifres na cabeça de Deise

[Sábado, 09 de agosto de 2008]

Na manhã seguinte, no MSN, os comentários acerca da maneira peculiar como Emmett se comportou com Ariana continuavam tão presentes quanto às constantes reclamações dela após o término da aula ontem. Achei que fosse estar livre de sua fúria cansativa e desinteressante, mas, parecendo estar agindo feito uma criança de seis anos, a líder continuava expondo sua decepção. Como se já não fosso o bastante, ela repetia a dose agora.

Ariana: eu moro naquele colegio desde o quinto ano cara
Ariana: ninguem tinha falado comigo desse jeito
Ariana: deveria ate ser pecado alguem me ofender
Ariana: sou tao generosa
Bernardo: pois eu sempre achei que ele fosse playboy
Bernardo: ainda mais pela forma como todo mundo começou a falar dele
Bernardo: quando eu vi ele passando pelos corredores, tive ainda mais certeza de que não prestava
Bernardo: aquele moleque mal chegou na escola e já se acha
Bernardo: ainda bem que ele não entrou para o nosso grupo!
Deise: é uma pena, na verdade
Deise: ele é muito bonito
Bernardo: e daí?
Deise: só estou falando que é um desperdício muito grande ele ser daquele jeito
Deise: agora aprendi a lição: um garoto pode ser feio por dentro
Deise: um garoto lindo pode ser ainda mais
Bernardo: ué
Bernardo: você não ia poder fazer nada
Bernardo: ou já se esqueceu do que Ariana disse?
Bernardo: nada de dar em cima dele
Deise: eu sei
Deise: só estava dizendo
Ariana: ENFIM
Ariana: voces ja sabem que nao podem falar com ele ne
Ariana: se chegarem perto dele
Ariana: vao sair do grupo
Ariana: quero esse garoto longe da gente
Ariana: aquele besta
Ariana: estou com odio dele ate agora
Ariana: nao falem com ele
Bernardo: não será muito difícil
Bernardo: eu já não gostava dele mesmo
Ariana: hum
Ariana: preciso me dezestreçar
Ariana: vamos no shopping hoje
Ariana: vamos a tarde umas 15h
Ariana: nao faltem
Deise: tá bom

Nem tive ânimo para ver o destino dessa conversa nada produtiva e já saí do MSN. Ainda bem que eu era esperto demais para sempre deixar o ícone "online" substituído por "invisível", assim ninguém notaria minha presença na rede social. Depois que me tornei um CAT e percebi que Ariana perturbava constantemente, resolvi me agarrar a essa tática quase in­falível. Quase porque, às vezes, para a minha infelicidade, ela ignorava o fato de eu estar off-line e chamava minha atenção. Eu não tinha palavras para descrever o quanto detestava ver a aba da conversa dela vibrando na tela do meu monitor.

Fazer o quê, né? Vida que segue...

Na página do Orkut, martelando a ordem de Ariana na cabeça, vi a solicitação de amizade pendente do garoto de cabelo branco. Não havia nenhuma frase anexada a ela. Antes de saber que Emmett não tinha en­trado para o grupo dos CATS, cheguei a pensar, como disse, que ele estivesse apenas cumprindo um dos requisitos básicos ao tentar me adicionar no Orkut. Mas não, ele sequer tinha conhecido Ariana. Emmett já deveria ter me visto em algum lugar daquele colégio — era a única explicação para sua tentativa de se conectar virtualmente comigo.

De qualquer forma, isso era... surpreendente.

Admirado, passei o mouse por cima da opção de recusar o pedido de amizade, suspirando fundo, e ponderei as consequências que a decisão contrária poderia me trazer. Seria bom se não fôssemos amigos nem mesmo na rede social, tanto por conta de Ariana quanto pelo meu objetivo de afastá-lo, mas eu não conseguia fazer isso. Lembrei-me do que ele me disse ontem no corredor, e isso fez minha mão congelar.

Jesus! O que eu vou fazer?!

Deixando de lado a ideia de excluir a solicitação de Emmett, resolvi partir para aquilo que eu tinha total absoluta de que faria um dia. Abri seu perfil. Na sua foto, o garoto havia pintado o cabelo de azul, cor que destacava a claridade de suas íris; o penteado era um estilo de franja que até hoje nunca tentei usar. Era lindo. Alguém tirava a sua foto, pois ele estava afastado a uns dois metros, em pé. A imagem quadricular capturava seu rosto e a metade do peitoral. Além do mais, ele sorria de um jeito quente para a câmera (a alta resolução não me permitia crer que a foto foi tirada por um celular).