33 | Tic, tac

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[Quarta-feira, 05 de novembro de 2008]

Cinco dias depois da minha conversa com Emmett relacionada à suposta data que nos separaria, eu já tinha ficado negativamente ansioso. Não aconteceu de uma vez. Aos poucos, fui sentindo a tensão ganhar força, de modo que eu não conseguisse mais agir de forma natural no decorrer da semana. Meus pais tinham notado minha inquietude, mas, para meu alívio, não perguntaram nada a respeito. Acho que eles sabiam que, se eu tivesse algo para contar, então em algum momento eu o faria. Eu só estava esperando que esse momento jamais chegasse.

Hoje eu havia me arrumado para ir ao colégio com uma lentidão muito absurda. Eu nunca tinha demorado tanto para decidir entre a farda branca ou azul, mas era até compreensível que minha mente estivesse tão desorientada. Não saber o que esperar do futuro me deixava assim.

Depois de muita demora, escolhi uma calça cor de vinho e a farda branca. Meu par de tênis era branco também. Uma vez tendo me arrumado, desci a escada do meu quarto e me sentei no sofá da sala, encolhido no cantinho. Mesmo sabendo que eu deveria almoçar, minha fome era zero. Na verdade, já fazia uns três dias que vim perdendo o apetite, agoniado demais para conseguir comer em paz. A desculpa que eu dava para meus pais era a de que eu já tinha lanchado no Subway perto do colégio. Em seguida, eu subia para o meu quarto e me afundava no chão do banheiro, deixando o cérebro trabalhar.

Eu sei que eu tinha pedido para Emmett esquecer o lance do dia sete de novembro, mas descobri que isso era muito impossível — um clássico exemplo de que às vezes era mais fácil falar do que fazer. Era desafiador não dar importância ao fato de que meu namorado e eu poderíamos nos separar em poucos dias.

No colégio, entretanto, eu fingia estar feliz, desconectado da tal notícia ruim. Mas toda vez que eu olhava para o rosto de Emmett, uma pontada de dor me fazia lembrar que alguma coisa muito ruim estava à nossa espera. Ontem, por exemplo, enquanto ele e eu esperávamos Victor chegar, me peguei examinando Emmett, decorando — como se eu realmente precisasse — os traços de seu cenho fascinante. Observei tudo: desde o cabelo branco, penteado para o lado, até seus lábios vermelhos, contornados de um jeito que muita gente adoraria ter. No fim, me perguntei se era possível que eu conseguisse viver sem ele, caso realmente nos separássemos.

A pergunta doeu tanto que rapidamente a descartei.

Eu percebi que Emmett também se esforçava muito para transparecer naturalidade quando estava comigo. Dava para perceber isso. Seus gestos voltaram ao que eram antes: ele me abraçava na frente de todos, acariciava o meu cabelo e me dava beijos na bochecha antes de nos separarmos. Mas eu facilmente podia capturar o temor em seus olhos, e eu acho que vê-lo assim era pior do que vê-lo amedrontado. Muito provavelmente ele também se perdia em pensamentos quando nos despedíamos.

Aliás, as despedidas agora carregavam um significado muito intenso para nós dois, de modo que dava para sentir na pele. Era quase palpável. Certamente isso acontecia porque temíamos que nosso último adeus seria de fato eterno. Aproveitávamos cada minuto do nosso dia no colégio como nunca fizemos antes. Quando o sexto tempo de aula acabava e nós dois precisávamos ir embora, nossos dedos se recusavam a se separar. "Vejo você amanhã", Emmett e eu falávamos um para o outro, feito uma promessa que precisávamos urgentemente cumprir.

No dia seis, essa frase teria um peso ainda maior.

Apesar de tudo, Emmett e eu não mencionávamos nada a respeito do sonho. Estávamos seguindo à risca essa parte, então conversávamos sobre quaisquer outros assuntos que não envolvesse aquele que queríamos a todo custo evitar. Quando Catarina estava por perto, isso se tornava mais fácil. Às vezes eu sentia vontade de perguntar a Emmett se ele estava lidando bem com toda essa situação, mas eu conseguia controlar a língua. Já não esperava ver a hora em que essa tortura enfim acabasse.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora