[Segunda-feira, 10 de agosto de 2008]
Já era segunda-feira e eu ainda não tinha dito nada sobre a cena do shopping para os CATS. Como Ariana e Erick não chegaram a me ver durante o prolongado beijo que compartilharam, pude sair do corredor sem ser visto, sumindo da mesma maneira fantasmagórica que eu havia aparecido. Difícil foi ter que olhar para a cara da líder e pensar que ela tinha chifrado a própria "amiga".
Dei graças a Deus quando fui para casa.
Perguntei-me como Ariana pôde ter feito isso com Deise, mas aí, refletindo no meu quarto, concluí que, considerando o histórico desleal da CAT número um, isso era algo esperado. Se ela teve a capacidade para trair sua amiga querida desse jeito, então ela poderia ser capaz de fazer qualquer outra coisa — e com qualquer outra pessoa. Nunca achei que eu estivesse isento de receber uma apunhalada de Ariana nas costas, porém, com o que houve no sábado, tive ainda mais certeza.
Meu Deus, cara. Ela sabia que Deise era completamente louca por Erick... sei lá... desde o dia em que os dois se viram pela primeira vez. Por mais fraca que fosse a minha conexão com a ruiva, senti-me mal por ela.
Eu estava aqui, sentado a uma mesa da biblioteca do colégio, poucos minutos antes do início da primeira aula, decidindo o que iria fazer. O mantra dos CATS era sempre chegar cedo e nos reunirmos no pátio para conversar sobre o que se podia esperar dos populares: assuntos fúteis. Hoje, por querer evitar Ariana, decidi me esconder. Minha decisão de vir para a biblioteca acabou me fazendo encontrar com Emmett, pelo visto, pois ele caminhava na minha direção.
Usava uma farda azul, cuja parte da barra estava dentro da calça cor de vinho contornada em seu corpo bonito. Vê-lo agora me fez lembrar de que hoje era para ser o dia em que eu deveria beijá-lo — nos meus sonhos. Já era a segunda vez consecutiva que ele não aparecia, e isso aumentava consideravelmente minha dose de saudade.
Acho que eu nunca mais sonharia com ele.
Apesar do que eu tinha suspeitado, o garoto gato não veio falar diretamente comigo: ele caminhou até uma prateleira de livros próxima a mim, a mais ou menos dois metros e meio, e passou os dedos pelas capas lentamente, procurando pelo livro certo. De onde eu estava, já podia sentir seu Miracle exalar aquela sensação de frescor intensa.
— Veja só se não é o menino popular — ele comentou alegremente, olhando-me só por um segundo para sorrir.
Senti meu coração bater mais forte, consequência daquela parte de mim que buscava forças para evitá-lo. Queria dizer um oi para soar educado, mas eu sabia que iria desencadear um diálogo que não deveria nascer.
Quando ele olhou para mim de novo, fazendo-me gelar, perguntou:
— Belezinha?
Ah, céus... Como é que eu vou ignorar esse garoto?
— Sim — sorri ligeiramente.
— Bom.
Com essa estranha comunicação da minha parte, abaixei meu rosto para a mesa, encarando o nada, e comecei a formular a desculpa que eu arranjaria para deixar a biblioteca. Eu não queria sair, pois isso implicaria em dizer que eu teria que ver Ariana, mas também não queria ficar, já que meu objetivo em relação a Emmett era óbvio.
— Acho que seus amigos estão esperando por você lá embaixo — ele murmurou, puxando um livro de Física.
Subi meu olhar de novo, e foi aí que ele me viu, o sorriso instigante.
— Aposto que estão.
Seus olhos violetas se fixaram no meu após minha resposta. Demorou alguns segundos, e eu logo soube que minha frase tinha sido solta da forma mais seca possível. Nem era a minha intenção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
EU TE AMEI AMANHÃ
Roman pour AdolescentsO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...