13 | Lá vem essa idiota atrapalhar tudo

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[Sexta-feira, 14 de agosto de 2008]

Minutos antes da primeira aula, bem quando eu tinha acabado de chegar ao pátio externo do colégio, Deise já foi anunciando uma novidade, deixando claro que não suportaria ter que esperar mais tempo para anunciá-la.

— Gente, decidi que vou falar com o Erick de uma vez por todas! — Ela se sentou ao meu lado na mesa, o rosto animado. — O que acham?

Disfarçadamente, olhei para Ariana, que tinha franzido a testa.

— O quê?! — ela indagou, quase gritando. Deve ter notado que sua voz ultrapassou o tom normal, pois sua pergunta seguinte foi mais contida. — Por quê?

Até Bernardo, que geralmente não prestava atenção nos acontecimentos ao redor, olhou na direção de Ariana. Os dois estavam sentados num dos bancos, em frente a Deise e a mim.

— Ué, amiga — a ruiva disse, dando um riso nervoso. — Porque eu gosto dele. Decidi que não vou ficar parada sem fazer nada. Poxa, é meu último ano. Pensa comigo: se eu não fizer nada, alguém irá. E se outra garota estiver interessada nele também?

Ih, minha filha... Isso já aconteceu, viu? E ela está bem à sua frente.

— Ai, amiga. — Ariana esticou o braço para tocar o joelho de Deise. Seu olhar era tão falso que uma máquina de detector de mentiras, mesmo desligada, iria informar que ela não estava sendo franca. — Deixe esse menino para lá. Ele nem é tudo isso.

Ergui uma sobrancelha de uma maneira bem lenta. Como pode isso, meu Deus?

— Por quê? — a ruiva, confusa, indagou, pondo uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. — Você sempre soube que eu era louca por ele...

— É, eu sei, mas... sei lá... — Ariana balançou o rosto. — Não acho que você dois combinem tanto, sabe?

Bernardo estreitou o olhar esverdeado.

— Mas desde quando você se importa com isso? — ele perguntou.

Achei a pergunta tão ousada que arregalei os olhos.

— Desde sempre! — ela exclamou para ele, formando uma careta muito exagerada. Tudo nela, aliás, não soava natural. — Sou amiga, tenho que me importar.

— Bom — opinei, aproveitando a minha rara oportunidade de falar —, eu já acho que você não tem nada a perder, Deise. Como você disse, é seu último ano, né? Consequentemente, é sua única chance de se relacionar com Erick.

— Exato — Bernardo concordou.

Ariana destinou sua expressão emburrada para mim, mas só durou um segundo, uma vez que Deise, inspirando determinação, se ajeitou na mesa. Fiz questão de ignorar a cara emburrada da líder.

— Tá bom, agora só preciso saber se ele me acha atraente também — Deise comentou, penteando seu cabelo liso.

Usando outra carta na manga, Ariana, limpando a garganta, disse:

— E se ele for gay? Já parou para pensar nesse detalhe, amiga? Que vexame!

— Ele não é gay.

— Como você sabe?

— Porque eu o vi ficando com algumas meninas.

Touché.

Franzi a testa para Ariana, curioso para ver qual seria sua outra falha tentativa de confundir a cabeça da "amiga". Ela demorou bastante dessa vez, tanto é que, por estresse, tirou a mão de cima do joelho da CAT e uniu as sobrancelhas para o nada. A ponta da minha língua coçava para expor tudo o que eu sabia. Eu não poderia sequer prever o desastre que viria quando Deise descobrisse a verdade — fosse da minha boca ou da de terceiros. O pensamento foi tão desagradável que preferi virar minha cabeça e olhar para o lado.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora