30 | Um papo sobre os sonhos

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Eu não tinha reparado direito no quarto de Emmett na última vez em que estive nele. Isso queria dizer que, agora, olhando-o de novo, tudo parecia mais fascinante. Deveria ser efeito da minha felicidade depois que ele e eu abandonamos o jogo de fliperama — ou o simples fato de eu estar ao lado da pessoa que eu gostava.

Saí do banho após ter jantado com Emmett e, em seu quarto, caminhei pelo cômodo, absorvendo toda a temperatura e bem-estar. Emmett estava pegando um travesseiro extra em seu guarda-roupa. Quando o trouxe para mim, sentou-se na cama, olhando-me contemplar seu quarto. Sua roupa era uma regata azul e um short jeans. Ao seu lado, na cabeceira, estava aquilo que me fazia flutuar nas nuvens: o Miracle.

— Eu me lembro desse perfume nos sonhos — comentei, apontando para o frasco com conteúdo rosado. — Às vezes o via nas vitrines de algumas lojas que eu visitava no shopping. Sempre tive vontade de comprá-lo.

— E por que não comprou?

— Era o seu cheiro. Era uma característica exclusiva sua. — Apoiei-me na cômoda, puxei o perfume para mim e, ao destampá-lo, inspirei o mar de rosas leve. — Não queria roubá-la de você, sabe? Mas, quando eu sentia vontade de relembrar dos nossos momentos juntos, dava uma borrifada do perfume no meu pulso.

Ele não disse nada. Sua expressão era inteiramente acolhedora.

— Por que... você nunca falou para mim? — perguntei baixinho. — Por que não me disse que sonhava comigo antes?

Ele abriu um sorriso de quem queria rir.

— Você me acharia um louco, Hércules — respondeu. — Qualquer pessoa me acharia um louco. Meu objetivo era me aproximar de você. Se eu já chegasse dizendo que nos conhecíamos no mundo dos sonhos, talvez eu fosse te afastar mais. E eu não... queria isso. Eu já não estava tendo muito sucesso em me conectar a você. Isso me deixava um pouco angustiado, porque eu sentia que estava falhando. Afinal, como eu te disse, só fui parar no Álvaro por sua causa. Nem meus pais entenderam por que eu quis trocar de colégio no meio do ano.

Recordei-me dos meus momentos iniciais com Emmett no colégio. Nossa primeira conversa produtiva ocorreu na vez em que fomos comer no Subway. Pode-se dizer que foi a partir daí que passamos a nos falar de forma mais comum, do jeito que duas pessoas normais fariam. É uma pena que eu estivesse tão evasivo.

— Mas por diversas vezes eu quis te contar — Emmett pontuou, o olhar reflexivo sobre minha face. — Principalmente depois que você decidiu se afastar de mim após aquela cena no parque. Mas aí fiquei pensando sobre isso e decidi que uma boa alternativa seria fazer você mesmo sair do grupo, que essa decisão viesse de você, já que eu havia fracassado. Por isso falei que realmente seria bom se nos afastássemos. No fundo, isso era o que eu mesmo queria. Foi muito desafiador ter que fazer isso, sabe? Ter que afastar alguém que eu desejava na minha vida.

Eu me arrependia tanto da minha decisão em ter escolhido os CATS ao invés de Emmett que meu rosto esquentava de vergonha. Era um tipo de arrependimento que me seguiria por muitos meses, até que finalmente eu o esquecesse.

— Eu sinto muito por isso. — Sentei-me ao seu lado. Segurei a sua mão direita e dei um beijo casto nela. — Você me perdoa?

Ele riu, beijando meus lábios.

— Para com isso. Não há o que perdoar.

— Caso te faça se sentir melhor, fiquei mal depois do que fiz. Se a consciência matasse, eu certamente estaria a sete palmos do chão. — Encostei minha testa em seu ombro rapidamente, como se estivesse acanhado. Olhando-o nos olhos mais uma vez, sorri. — Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Você seria a melhor coisa que poderia acontecer na vida de qualquer pessoa.

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora