32 | O maior medo de Emmett

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Hoje não teria aula no Álvaro. Parte da razão de Emmett ter dormido comigo foi porque poderíamos passar o dia juntos em casa — ou ir a algum lugar que ele quisesse, qualquer que fosse. Victor estaria disposto a isso. Mas eu sabia que, apesar de termos o dia inteiro livre, Emmett não iria querer sair.

Tomamos café da manhã com meus pais. Ficamos ao lado deles poucos minutos antes de partirem para o trabalho. Eles já estavam acostumados com a presença de Emmett na nossa casa, então era como se ele já fosse um amigo íntimo. Deve ser bom ter um genro incrível. Qualquer sogro iria adorar ter meu namorado por perto.

À tarde, depois do almoço que Ana preparou, estava chovendo muito, com relâmpagos e clarões. Era esse tipo de clima que Emmett adorava. Eu não sabia ao certo se eu também tinha apreço por isso — os barulhos dos trovões me davam mais medo do que fascínio. Mas eu gostava da chuva e do frio. Só não curtia a ideia de saber que essa combinação estava unida a uma atmosfera de melancolia crescente agora, e toda essa junção me proporcionava sentimentos totalmente infelizes.

Emmett e eu assistimos a um desenho aleatório que passava na TV, todavia, com o tempo, passamos a não nos interessarmos mais pelo conteúdo na tela. Ele estava deitado ao meu lado no tapete fofo da sala, o rosto voltado às janelas horizontalmente compridas de casa. Um edredom nos cobria. Se Emmett não estivesse tão disperso ultimamente, eu até poderia acreditar que ele apenas estava contemplando a chuva através do vidro da janela.

Mas esse não era o caso.

Não houve nenhuma menção à festa de Halloween. Não era como se eu esperasse que fôssemos falar sobre ela, ainda que eu tivesse criado esperanças de que nossa "diversão" na madrugada de hoje nos fosse render algum diálogo. Não rendeu. Eu queria conversar com Emmett sobre qualquer coisa, só para quebrar esse silêncio entre nós. Fiquei feliz por ele ter acordado um pouco mais animado hoje, porque isso me fez acreditar que ele ficaria assim pelo resto do dia. Essa esperança havia crescido ainda mais quando Ana ficou com a gente por alguns minutos antes de começar a ajeitar a casa.

Mas foi após o almoço que tudo mudou.

O meu último desejo era me acostumar a essa nova versão de Emmett, só que parecia que eu já estava me adaptando a ela mais facilmente do que esperava. Se ele ficasse triste, eu também iria ficar. Era uma consequência inquebrável.

— O meu maior medo, Hércules, é perder você — ele disse de repente, os olhos ainda concentrados no que acontecia lá fora.

Franzi a testa. Essa deve ter sido a vez em que efetuei o gesto com a maior lentidão possível. Eu sabia que ele tinha notado minha surpresa, pois virou o rosto para mim.

— E eu estou preocupado porque... acho que isso vai acontecer — ele completou, a voz mais baixa.

Peguei o controle da TV e imediatamente a desliguei. O som da chuva era a única coisa que eu podia ouvir agora.

— O quê? — perguntei.

Deixando de se deitar, ele se sentou, os joelhos dobrados para cima e os antebraços apoiados neles. Seu olhar encarava o chão por um longo tempo, o que me deixava ainda mais desesperado. Mesmo sem fazer nada, Emmett sabia atiçar a parte mais nervosa de mim.

— Como... — grasnei, sendo dominando por um sentimento estranho. — Por que você disse isso?

Emmett me encarou.

— Por causa dos sonhos. — Ele correu uma mão na nuca, parecendo estar mais agoniado do que eu. Quando seus olhos brilharam (um indício de que ele queria chorar), senti um aperto no coração. — E eu não paro de pensar nisso há dias...

EU TE AMEI AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora