Eu havia chegado em casa depois do jantar. Jantei na casa de Emmett (o pai dele preparou uma comida italiana muito boa), então falei que eu estava sem fome quando minha mãe perguntou se eu queria comer. Mesmo assim lhe fiz companhia. Meu pai tinha saído para algum lugar.
Uma vez tendo ajudado minha mãe a ajeitar a mesa, sentei-me tristemente em uma das cadeiras e franzi a testa em direção ao armário de copos à minha frente. Parecia que era exigir muito que eu ficasse em pé por mais de um minuto — meus ossos estavam inexplicavelmente frágeis demais para sustentarem meu próprio corpo. Esse aspecto exaustivo tinha me dominado por completo na minha volta de carro para cá. Falta de felicidade deveria fazer isso com as pessoas.
Eu estava intensamente esgotado. Tinha nadado no mar durante esses últimos dias para, no fim, morrer na praia — uma praia vazia, tórrida e angustiante. Nada do que andei fazendo para evitar o sofrimento funcionou. Tudo foi em vão.
— Emmett e eu... — comecei, observando minha mãe guardar a tigela de salada da geladeira. Contar o que tinha acontecido estava sendo muito difícil para mim. — Emmett e eu vamos nos separar, mãe.
Ela ficou parada imediatamente, a mão grudada à porta da geladeira. Em seguida, com o rosto muito cauteloso, minha mãe, andando devagar até mim, indagou:
— Como?
Suguei o lábio inferior com força.
— Não porque a gente quer — eu expliquei, sentindo mais uma vez aquele vazio de antes. — É só que... ele vai embora. Para São Paulo. E isso vai acabar nos separando.
Ela imediatamente puxou uma cadeira para se sentar perto de mim, o olhar de quem tentava assimilar tudo. Eu não queria chorar na frente dela — e nem na frente de ninguém. Eu teria tempo de sobra para fazer isso mais tarde, especificamente daqui a três semanas, quando Emmett já não estivesse mais perto de mim e a dor viesse me destruir.
— O pai dele recebeu uma proposta de emprego melhor... então a família inteira vai embora — murmurei com cansaço, e parecia que eu já tinha contado essa história outras inúmeras vezes para outras inúmeras pessoas.
— Ele não tem nenhum parente aqui por perto? — Eleanor tentou, a voz calma. — Ninguém que possa cuidar dele?
Mostrei um sorrisinho triste para a mesa.
— Talvez — respondi em um tom igualmente baixo. — Mas ele tem que ir. Ele precisa ir. Emmett é... muito grudado aos pais. Seria como se eu tivesse que deixar você e o papai para trás. Não sei se conseguiria.
Mesmo não olhando diretamente para minha mãe, a vi engolir em seco.
— Entendo.
Inclinei o meu corpo em direção à mesa e deitei minha cabeça por cima do meu braço estendido, fitando o nada. Talvez fosse por conta do fato de eu estar cansado, mas era estranho que agora eu não quisesse me infiltrar no meu quarto e chorar até não aguentar mais. Me faltava ânimo para agir, para fazer alguma coisa. Tudo o que eu queria no momento era me deitar em uma posição fetal e ficar assim para sempre. Eu não me importaria em agir como um verdadeiro zumbi pelos próximos dias.
Na verdade, acho que já estava me tornando um. Eu já podia sentir os aspectos exanimados dentro de mim.
— Ah, meu bem, eu sinto muito — minha mãe disse com um suspiro baixo, esticando o braço para acariciar meu cabelo. — Queria poder dizer alguma coisa para ajudar você. Algo relevante. Mas eu... não sei o que falar. Não sei dizer alguma coisa que não vá te machucar ainda mais... porque eu sei que você está sofrendo.
A região interna do meu nariz queimou.
— Está tudo bem, mãe — falei mecanicamente, sem vida. — Acho que mereço isso.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...