[Quinta-feira, 20 de agosto de 2008]
A minha música favorita do The Fame, o álbum de estreia da Lady Gaga, lançado ontem, era Paparazzi. Escutei a canção apenas uma vez para ter certeza de que a reouviria por muito tempo. Deus viu meu sorriso de felicidade durante o refrão. Eufórico, enviei uma mensagem para Emmett no MSN para lhe contar que eu estava incondicionalmente apaixonado pelo álbum. Ele já o tinha baixado também — sua faixa favorita era Summerboy. Era uma das minhas favoritas.
Enquanto eu, na manhã de quinta-feira, escutava Boys Boys Boys, Ana apareceu no meu quarto. Ela arquitetou um sorriso grande ao me ver.
— Seus pais me contaram sobre você. — Ela abriu os braços enquanto caminhava. — Estou orgulhosa! Muito orgulhosa!
"Orgulho" parecia ser o adjetivo da semana, pelo visto. Isso era incrível, levando em consideração que meu lado presunçoso nunca foi explorado quando eu estava com os CATS. Me achar uma vez na vida não faria mal.
— Obrigado — agradeci, levantando-me da cadeira para aceitar o seu abraço. — Uma hora eu teria que deixá-los. Antes tarde do que nunca.
Olhando-me, Ana disse:
— É isso aí. Estou contente por você ter descoberto isso antes de perceber que jamais os deixará. — Apertando minhas mãos, ela acrescentou: — Mas eu estou ainda mais feliz por você ter se aberto em relação ao que você é. Acho que é preciso muita coragem para fazer isso. O mundo não é muito generoso com pessoas gays, não é? Você deve saber disso mais do que eu.
Assenti, firmando os lábios um no outro.
— Eu sei. Nem eu sabia que tinha tanta determinação para conversar sobre isso com meus pais. Tive tanto medo, Ana. Por tanto tempo.
— Estou curiosa. O que te fez ser sincero?
A liberdade.
— Eu só queria me livrar de tudo que era ruim — expliquei. — Não queria me sentir sufocado por mais nada. Os CATS já me deixaram assim por mais de dois anos. Agora é como se eu tivesse a chance de fazer tudo aquilo que é certo, sabe?
Seus olhos brilharam.
— É assim que se fala.
Analisei-a com um olhar mais diferenciado.
— Você já sabia? — perguntei.
— Eu desconfiava — Ana concordou, a voz um tom mais gentil. — Fui percebendo aos poucos ao ver certas atitudes suas, mas eu nunca me foquei tanto nisso. Por isso nunca perguntei.
— Atitudes? — Eu estava de queixo caído por saber que todo meu esforço em transparecer uma falsa heterossexualidade foi por água abaixo. Parecia que a única pessoa que eu realmente estava enganando além dos CATS era eu mesmo. — Tipo o quê?
Ana soltou minhas mãos. Ela caminhou em frente ao meu guarda-roupa, olhando-se no espelho, e deslizou a mão no uniforme, desamassando algumas partes.
— Ah, tipo aquela teoria que você me fez imaginar sobre nascermos com aspectos que nos agradavam — ela informou. — Eu não entendia muito o que você queria mudar em seu corpo, já que você é claramente um garoto bonito. Mas aí você soltou a cereja do bolo ao destacar a orientação sexual. Fiquei bem atenta a isso, então pensei que talvez você quisesse mudar a sua.
Olhei para o chão momentaneamente. Eu ainda tinha a suspeita de que essa teoria fosse acabar me entregando. Não era para eu ter mencionada nada sobre sexualidade. Se eu tivesse feito isso, provavelmente Ana não fosse desconfiar de mim.
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EU TE AMEI AMANHÃ
Teen FictionO ano é 2008. Num período em que a causa LGBTQ+ estava começando a ser debatida, Hércules Ferraz, um garoto gay de dezessete anos, faz de tudo para que a sua homossexualidade se mantenha escondida do mundo. Da classe alta, pertencente ao grupo popul...