ALGUNS DIAS DEPOIS...
Rastejo para fora do elevador, atuando melhor que os figurantes zumbis de The Walking Dead.
— Tem café? — Escuto a garota perguntar dentro do apartamento dele enquanto procuro pela chave na Charlote.
— Na cafeteira, Mônica.
Mônica? O que houve com a Audrey?
Não importa, Camila.
Estou com sono demais até para ser curiosa.
Um dos meus clientes engravatados decidiu que era uma boa fugir do país tendo um mandado de prisão expedido no nome dele, em vez de se entregar como eu sugeri que fizesse. Resultado? Ele foi algemado no meio do aeroporto internacional cinco minutos antes de eu bater o ponto ontem à tarde e me obrigou a passar a madrugada inteira enfurnada em uma delegacia para tentar resolver o pepino. Tudo que eu quero agora é cair na cama, de preferência, sem escutar o vizinho enfiar o pepino dele em um dos orifícios de alguém.
— Por acaso tem leite na geladeira, Shawn?
— Não. — pela pausa, está tomando um gole do cafezinho perfumado que está fazendo meu estômago roncar de fome. Esse café deve ser tão gostoso quanto ele.
Suspiro, achando minha chave.
— Mas que pena, adoro tomar café com leite de manhã! — exclama em um tom pegajoso que sempre arranca o pior lado do Shawn.
— Se faz tanta questão assim, por que não se ajoelha e engole o meu? Posso garantir que...—Não quero comentar o absurdo pecaminoso que saiu da boca imunda dele depois, mas posso garantir que agora eu sou uma zumbi que definitivamente quer comer o cérebro do vizinho.
Será que esse homem não tem nenhuma vida para ir salvar em vez de estar aqui arruinando a minha logo cedo?
Mas que porcaria, nem amanheceu direito ainda, penso pegando uma garrafa de água filtrada no armário e saindo para a varanda.
— Já que você está pedindo com tanto jeitinho.
— Mais uma garota sem um pingo de inteligência que, se fosse esperta, adicionaria amor próprio à dieta do café da manhã — resmungo matando a sede de uma plantinha muito bonita, que mora na mureta que divide nossos apês, ao som do zíper dele se abrindo. Pois é, a acústica é boa assim, ainda mais com a porta de vidro da varanda dele aberta.
— Está de folga hoje?
— Retiro o que eu disse, plantinha, gostei da Mônica — sussurro acariciando uma folha. — Ela lê pensamentos.
— Não estou, mas ainda tenho mais algumas horas para perder com você.
— Perfeito! Não é perfeito? — rosno super amarga porque ainda não tive tempo de substituir meus fones de ouvido.
— Não tenho umas horas para perder com essa droga de boquete.
Ele passa mais tempo reclamando de como está sendo feito do que aproveitando, sabia?