Tateio o sofá a procura do celular, apoiando o aparelho na orelha com a ajuda do ombro para atender.
É o Gah.
— Já está pronta?
Por um segundo quase respondo que sim. Já sei quase tudo que há para saber a respeito do escritório de advocacia sobre o qual estou pesquisando desde que cheguei em casa, mas me lembro de que Gael não tem uma bola de cristal para adivinhar o que estou fazendo.
— Pronta para quê?
— Para jantarmos. — responde com paciência. — Leonardo foi direto da casa da garota com quem dormiu e, como está sozinha essa noite, pensei que talvez quisesse ir comigo.
Fico muito surpresa com a sua gentileza, mas não posso aceitar.
— Eu adoraria — tanto que nem sei dizer o quanto. — Mas tenho uma entrevista de emprego amanhã e preciso me preparar.
— Tem certeza?
— Tenho, sim — confirmo chateada, desligando em seguida.
Deito no sofá com o notebook do irmão dele apoiado na barriga para continuar lendo a página na internet que estava me distraindo na última hora, mas não consigo mais me concentrar.
Fiquei irritada com Shawn por ter pensado apenas nele mesmo e em suas vontades quando foi obrigado a sair correndo de casa enquanto deveria estar se compadecendo das pessoas que se feriram gravemente no desabamento. Ainda assim, admito que, por mais que me sinta uma pessoa detestável, nesse momento estou me apropriando do seu pecado. O mercado tinha mesmo que ter desabado?
Pensei que eu passaria meu domingo na companhia dele. Que depois viríamos para casa, aproveitar o tempinho chuvoso para ficarmos agarrados na cama assistindo a algum desenho bobo em meio a muitas trocas de beijos e carícias, mas não era por nada disso que eu estava mais ansiosa, e sim pelo jantar. Passei a semana toda ansiosa por causa desse jantar. Fiz até pudim.
Estou deliberando se saio da dieta para afogar as mágoas quando o meu celular volta a tocar.
Número desconhecido.
— Alô? — cumprimento toda entusiasmada para passar meia hora pendurada no telefone com o operador de telemarketing, que teve o azar de me ligar em um momento de carência.
— São 21 horas. — informa uma voz severa.— Posso saber por que não está sentada à minha mesa de jantar?
Sento rapidamente no sofá, sentindo meus batimentos acelerarem.
— Gah me chamou, mas... — gaguejo, pensando em usar a mesma desculpa que lhe dei, mas não consigo mentir para esse homem. —Bruna também está presa no hospital.
— Você come com a boca da Bruna? —pergunta sério.
— Não, senhor... — continuo gaguejando. —Mas como essa noite o jantar seria apenas entre a família, eu fiquei com medo do senhor me achar intrometida se eu fosse...
— Se tornou um membro da família no momento em que um dos meus filhos a presenteou com um lugar em nossa mesa de jantar — me interrompe, estalando a língua em reprovação. — Isso significa que também deve seguir minhas regras, ragazza.
Nunca tomei uma bronca de pai antes, não sei nem como reagir.
— Sinto muito, prometo que da próxima...
— Ninguém toca no frango até você chegar.— dito isso, o joalheiro desliga.
Pulo do sofá para trocar de roupa, com um sorriso que não cabe no meu rosto, e menos de vinte minutos depois já estou bem perto daquela mesa, pronta para jantar em família. Às vezes, ainda não acredito que o príncipe me emprestou uma família.