Meu pai não me empurrou para dentro do elevador. Ele me empurrou direto para dentro de uma armadilha e eu caí direitinho, mas, pelo menos, agora sei porque ficou tão puto comigo.
Quebrei a regra número 20.
— Tinha razão, não vamos mesmo morrer —comenta a morena sem tirar os olhos dos meus, abrindo um sorriso simpático que vai desaparecer no instante em que descobrir quem eu sou.
Mas que merda acabei de fazer? Mas que merda meu pai, com dois parafusos a menos, acabou de fazer? Tenho certeza de que o elevador não está parado de portas abertas no quinto andar, me dando uma chance de escolher fazer o certo ou me calar por acaso.
— Prefere confiar no elevador adjacente ou ir pelas escadas? — É impressionante que quando sorri não é apenas com os lábios, mas também com os olhos que se enchem de marquinhas de expressão graciosas ao redor. Todos os seus sorrisos são lindos. Ela é linda.
Muito linda.
— Precisa mesmo perguntar?
— Eu acho que não. — Dou um meio sorriso estendendo uma mão que ela não hesita em aceitar.
— Terra firme, Charlote! — brinca pulando para fora, agarrada com a bolsa. E não é que olhando bem a porra da bolsa tem mesmo cara de Charlote? — Só não vou prometer nunca mais colocar meus pés nesses elevadores de novo porque eu moro no sétimo andar.
Jura? Eu também, penso ironicamente.
E agora, porra? Logo no início, quando tocou em um dos meus pontos fracos, eu tinha planejado sair do elevador com passos determinados quando chegássemos ao nosso andar, parar em frente a minha porta e olhar por cima do ombro com um olhar puramente debochado antes de enfiar a chave na fechadura bem lentamente e com raiva, só para humilhá-la, mas depois sua inocência me desarmou e agora a melhor ideia que me ocorre é dar uma volta antes de ir para casa sentar no sofá com uma garrafa de uísque para pensar como vou fazer para me esconder dela pelo resto das nossas vidas.
Será que um dos meus irmãos aceita trocar de casa comigo?
É isso que estou me perguntando enquanto seguro a porta da escadaria para que passe na minha frente. Ela agradece por eu ter segurado a porta, sem parar de caminhar para dentro da escadaria, mas assim que pisa no primeiro degrau e a luz se acende, seus pés estacam no lugar e ela me olha por cima do ombro com aquele rosto incrível.
— Você não vem? — Aponta para cima com um sorriso discreto nos lábios.
— Vou conferir se meu pai está precisando de alguma coisa.
Um psiquiatra, talvez.
— Pode agradecê-lo por mim?
— Claro.
— Obrigada a você também — enfatiza com as bochechas corando, deixando as maçãs de seu rosto mais evidentes. — Não sei o que eu teria feito se estivesse sozinha.
— Não precisa me agradecer. — É impressão minha ou ela está adiando uma despedida pulando de um pé para o outro? Ah, garota, não faz isso comigo.
De repente, para tornar tudo pior, ela me estende sua mão.
— Camila Cabello. — se apresenta e, pelo olhar curioso, sei que quer uma resposta à altura.