Apartamento 7- B

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SHAWN MENDES

— Essa noite foi... — a loira suspira, balançando a chave do carro. 

Incrível? Maravilhosa? Espetacular? Sei lá. Eu a interrompo antes de descobrir. 

O final dessa frase nunca me surpreende, e sendo bem sincero, já estou de saco cheio dela desde que me perguntou, com par de olhos brilhantes demais para o meu gosto, se quero acompanhá-la no chá de bebê de uma amiga no fim de semana. Foi há cinco minutos, enquanto nos vestíamos e, antes de subir o zíper do jeans, eu já tinha recusado o convite dizendo que vou estar de plantão e pedido que desse o fora do meu apartamento porque tenho que acordar cedo amanhã.

— Tenha uma boa-noite, Audrey — um nome que, daqui há algumas semanas, eu já terei esquecido.

— Você me liga?

Encaro em silêncio um rosto bonito e angulado, que em algumas semanas eu também já terei esquecido, até que o som das portas do elevador se abrindo no andar me dão a desculpa perfeita para não precisar responder.

Odeio mentiras. Então, se tivesse tido tempo, eu teria lhe dito que não, eu não vou mais ligar, mas agora que já está se despedindo de mim com um aceno e caminhando para dentro dele, eu simplesmente não preciso mais me dar ao trabalho. 

De qualquer maneira, Audrey vai entender que o que tínhamos acabou quando o telefone dela não tocar.

Fecho a porta rindo comigo mesmo. 

Chá de bebê? Sério? 

Pego uma água na geladeira e termino na sacada com uma das mãos apoiadas no parapeito, enquanto a outra leva a garrafa aos lábios. 

Me exibir para as amiguinhas. Sério?

Sorrio balançando a cabeça negativamente. Nessa, meu olhar se perde na sacada adjacente, para ser mais específico, em uma poltrona no canto dela onde encontro a cópia de um dos meus livros preferidos. Uma história sobre um casal improvável que se conheceu nos últimos minutos do segundo tempo do jogo, por assim dizer, de uma mocinha comprometida com um noivado que estava na cara que não daria certo, e de um mocinho apaixonado e determinado a impedir seu casamento a qualquer custo. Definitivamente, o tipo de coisa que só acontece com pessoas de papel. Ninguém de carne e osso conseguiria amar a tal ponto.

Tomo alguns goles, tentando imaginar como seria a pessoa que o abandonou ao relento, mas por mais que eu me esforce, não consigo. 

Será que a criatura descuidada gosta de romances porque acredita no amor, ou é como eu que sabe a verdade e os lê apenas porque sente vontade de se perder no único lugar onde esse sentimento vale a pena? Não tenho ideia. 

Não tenho ideia de quem mora ao meu lado. Se quer saber, até esse momento eu nem sabia que alguém morava no 7-A, mas preciso dizer que, seja quem for, tem um péssimo gosto para cortinas. Pelo gosto para estampas florais, aposto em uma vovó.

Continuo observando a capa cor-de-rosa do livro por um longo tempo, sem parar de remoer comigo mesmo porque as garotas com quem eu fico sempre se apaixonam por mim e terminam à espera de que eu lhes dê um final feliz como o que existe naquelas páginas. Nem é como se eu fosse super legal com elas. Não sou nada legal. Não consigo ser. Será que, em algum momento entre aquele que me conhecem e perdem o rumo em minha cama, ao menos se recordam de que vivemos no mundo real? 

No mundo real, não existe final feliz para ninguém. 

No mundo real, o médico gatinho e bem dotado não se perde em ninguém. Não se importa com os sentimentos de ninguém.

Escoro a lateral do corpo no parapeito e desvio o olhar para a rua escura lá embaixo. 

O amor para mim se assemelha a uma queda dessa altura. Quando conhecemos alguém, que nos faz querer correr o risco, nós fechamos os olhos, pegamos um impulso e pulamos de peito aberto. Depois nós caímos. 

Essa é sempre a melhor parte. Cair de amores por alguém. 

A adrenalina, enquanto a gravidade faz sua parte, é tamanha que nunca nos preocupamos com o mais importante: com o quanto vamos nos machucar quando o amor acabar, com o quanto vai doer quando chegarmos ao chão, ou com a possibilidade de que o estrago seja fatal; preferimos nos iludir, acreditando que esse momento nunca vai chegar, mas sempre chega, e é uma surpresa quando acontece. 

Em um instante estamos felizes, curtindo a sensação de ter o vento batendo no rosto, perdido sem beijos, troca de carícias e coisinhas pequenas, que, se somadas, fazem de qualquer amor uma experiência grandiosa; no outro, sentimos o impacto e vemos nossos pedaços espalhados pelo chão. 

É algo inevitável. 

Sangrar é inevitável. 

Não existe, no mundo, um lugar que seja alto o bastante ou uma pessoa que seja perfeita o suficiente para que a queda dure para sempre. O amor, sem dúvida, é um salto prazeroso, mas no fim, inevitavelmente, sempre faz os corações que ousam senti-lo, pararem de bater. Exatamente como aconteceu comigo. Exatamente como nunca mais eu vou permitir que aconteça comigo, ou ao menos foi o que eu pensei.

Bem-vindos ao Souza's Pallace, meu nome é Shawn Mendes, e essa é a história de como nós dois caímos do sétimo andar...

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora