— Nós precisamos conversar.
Dou um pulo para trás, levando uma das mãos ao peito.
— Bom, pelo menos dessa vez você está vestido. — comento, dando uma boa olhada no homem de tirar o fôlego, de jeans e camisa branca toda amarrotada, que está me encarando como se não dormisse há dias.
Tento impedir que a visão dele parado na porta só de toalha invada meus pensamentos, mas é inútil. Sabe quando você defronta com uma cena muito impactante? Tipo um acidente de carro, ou algo assim, e sabe que por mais que tente, ou que o tempo passe, nunca mais vai conseguir esquecer o que viu? Tê-lo visto enrolado naquela toalha azul marinho foi um engavetamento de sete carros para mim. Esse tipo de cena te assombra nos momentos mais inoportunos. Tipo quando você fecha os olhos para dormir ou abre depois de acordar, quando você acaricia plantas e reclama da vida ou... agora.
Shawn continua me olhando fixamente sem dizer uma palavra. Será que sabe no que estou pensando?
— Você está bem?
Ele assente, mas não parece ser verdade porque nem sorriu com a minha piada.
— Então por que parece que você saiu de dentro de uma garrafa? Bom, quem sou eu para julgar? Estou parecendo um zumbi. — Aponto para minhas olheiras, rindo nervosamente.
— Te escutei falando com a Diana sobre o quanto está cansada.
Meu sorriso dobra de tamanho quando o escuto chamando nossa planta pelo nome.
Essa é a primeira vez que alguém chama uma das minhas coisas favoritas pelo nome.
— Tudo por culpa de uma florista que não tem ideia de onde achar bromélias artificiais de qualidade e de um homem que insiste em uma porcaria de escultura de gelo de um cisne, que vai derreter antes de eu dizer "sim" para ele. Quem liga para o cisne? Se a secretária dele não estivesse me ajudando com os preparativos desse casamento cheio de frescura, eu acho que já teria pulado de uma ponte...
Paro de falar quando seus olhos escurecem, como aconteceu quando sua campainha tocou semana passada.
— O que você tem, Shawn?— pergunto assustada.
— Eu já disse... — suspira, passando as mãos pelo rosto sonolento e aflito. — Precisamos conversar.
Concordo e continuo mordendo meus lábios à espera que diga alguma coisa. Depois de quase um minuto de silêncio, ele pergunta:
— Quer aquele café que estou devendo?
— Estou namorando seu café pelo cheiro há muito tempo, é claro que eu quero.
Me obrigo a sorrir, mesmo que por dentro esteja sendo consumida por um péssimo pressentimento sobre essa conversa.
— O meu acabou ontem e eu nem me dei ao trabalho de comprar mais porque...
— Eu sei o porquê. — corta bruscamente, desaparecendo dentro do seu apartamento.
O que?
Ele demora alguns minutos e volta pouco depois com duas canecas vermelhas cheias até a boca, me entrega uma e apoia o quadril na mureta levando a outra aos lábios, ainda em silêncio.