Escutar minha música favorita dói.
Seus acordes me fazem lembrar que, diferente do que a melodia diz, nada dura para sempre, mas eu já sabia disso. Sabia sim.
Sempre soube.
Por que tentei me enganar? Por que fiz isso comigo mesmo? Só para me machucar? Por que a pureza dela me desmonta? Por que sua bondade me desarma? Por que sua simplicidade me desestrutura? Por que seu sorriso me desnorteia? Por que a inocência me encanta de uma maneira desmedida? Por que eu queria ser o homem que a roubaria? O primeiro a estar dentro dela. Por que um dia almejei também ser o último? Por que o beijo dela combina perfeitamente bem com o meu, e seu corpo parece ter sido feito para caber em minhas mãos? Por que a comida dela é ótima? Por que seu nariz arrebitado se enruga quando cai na gargalhada e eu adoro? Por que quando dorme enroscada em mim me dá as melhores noites de sono? Por que, quando está no meu colo, faz com que eu esqueça do quanto sou fodido por dentro? Por que em sua companhia quase não me lembro mais da mulher que nunca vai me permitir ser inteiramente dela? Ou por que eu nunca tinha encontrado tanta beleza antes de conhecer o interior do seu coração? Por que eu queria morar dentro dele?
São bons motivos para se enganar, mas infelizmente nenhuma mentira dura para sempre, nem aquelas que contamos para nós mesmos. Camila foi só mais uma delas. Só mais uma das mentiras que contei para mim.
- Onde você está? - pergunta preocupado assim que o atendo.
- O que aconteceu depois que fui embora?
- Por que não conversamos quando eu chegar aí? Está no Jose's, certo?
Fecho os olhos por um instante me sentindo traído, mas não devia. A culpa é toda minha.
- Ela escolheu o advogado. - não é uma pergunta.
Rodrigo demora um instante a mais para responder, mas responde mesmo assim.
- Escolheu.
- Não estou surpreso.
- Sinto muito.
- Sinto mais, Go.
Desligo, afundando o rosto nas mãos.
Será que ela foi para o apartamento do Kai? É o que me pergunto enquanto chamo um dos barmen com um aceno sutil.
- The Macallan, a mais antiga que tiver. -digo ao garoto.
Ele deve estar vendo em meu rosto que não é uma boa ideia fazer piadinha sobre o quanto meu irmão odeia nosso bom gosto para as garrafas caras essa noite, porque o assisto se virar para a prateleira sem hesitar.
- Ela fica comigo e dessa vez não fofoque para o seu patrão. -ordeno, desbloqueando a tela do celular enquanto serve uma dose.
- Ok, doutor. - concorda prontamente, abandonando a garrafa antes de se afastar porque sabe que embora Romeo adore reclamar que nunca pagamos, jamais cobraria de nós. Não é como se eu nunca tivesse tentado pagar. Não o quero sabendo do porre que pretendo tomar ou obviamente, terei muito a explicar. Não estou pronto para isso ainda.
Observo a fotografia. Camila parada no meio do quarto, me olhando com um sorriso envergonhado nos lábios de dentro da minha camiseta favorita. Viro aquela dose.
E mais uma.
E outra.
E outra.
E outra.
Continuo bebendo sem desviar o olhar daquela fotografia, planejando parar somente quando não me lembrar mais do nome dela.
Fico perdido em minha própria dor, até ser interrompido por uma mão pousando em meu ombro. Giro o rosto esperando me deparar com o Go, mas em vez de um olhar repleto de pena, encontro um olhar repleto de outro sentimento. Cobiça.
Já estou embriagado, mas ainda não o bastante para atingir meu objetivo, porque a primeira coisa que penso quando a garota sorri para mim é nela.
- Oi... - cumprimenta a loira.
Desvio meu olhar dos olhos azulados, que não escondem porque se sentou na banqueta ao meu lado.
- Oi - respondo friamente.
Essa seria uma boa maneira de parar de me fazer perguntas para as quais não quero as respostas, não? É melhor ocupar minha cama do que pensar na Camila ocupando a dele.
Lembro dela me dizendo que já estive no meio de suas pernas na noite em que fiz a merda de achar que era uma boa ideia ficarmos juntos, e me pego curioso porque continuo não lembrando, mas não tenho o mesmo problema com seu nome.
- Audrey, certo?