Camila

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Os meninos estão distraídos em uma discussão tão acalorada sobre futebol, que eu aposto que essa noite ainda termina comigo sendo obrigada a aturar o péssimo humor de um palmeirense que não assume que o time dele é um caralho. Mas, por mais divertido que fosse escutá-los brigar, eu queria saber como era ter um pai e não pensei duas vezes em sair de fino para pegar o deles emprestado. Ajudei o joalheiro a terminar o jantar enquanto conversávamos sobre como tem sido morar com seu filhote mais novo. O Sr. Manuel fez questão de me perguntar se estou sendo bem tratada, e com muito tato, também perguntou se ainda estou escutando algum barulho inapropriado. 

Agora que levamos as travessas para a mesa, estou hesitando sem saber onde devo sentar minha bunda intrometida, que deveria estar esperando pelo filho dele em casa. 

— Por que a convidada de honra não se senta ao lado do anfitrião? — o Sr. Manuel comenta, apontando para a cadeira à sua direita.

— Obrigada. — Me acomodo o observando arrumar os cabelos grisalhos em desordem, dentro de um jeans surrado e uma camiseta de uma banda de rock. Ele é muito, muito bonito. — Ele vai jantar com a gente? — pergunto, reparando que no lugar à minha frente, em vez de um prato, tem um notebook aberto voltado para mim.

— Bem que a peste queria. — brinca, apertando uma tecla qualquer para acender a tela, revelando a imagem de uma cadeira vazia em frente a uma mesa de computador em um quarto branco, enorme e muito bonito. No fundo, sentada na cama, está uma senhorinha de idade fazendo tricô. Deve ser a babá. Embora seja uma gracinha, ela tem o rosto mais carrancudo, severo e de poucos amigos que eu já vi em uma vó, mas quando aceno timidamente, o lado esquerdo da sua boca enrugada, pintada de vermelho, sobe um pouco no que eu imagino ser um sorriso amistoso.

— Te aturo desde que me entendo por gente e eu nunca ganhei nem um bom-dia, quanto mais um sorrisinho descarado desse. — fala uma voz masculina provocativa de algum lugar do cômodo. Não preciso pensar muito para saber quem é seu dono, não é? Estou ansiosa para conhecer esse príncipe faz tempo. — Está vendo um filminho pornô para a terceira idade aí?

— Vai escovar macaco, menino. — resmunga, voltando a tricotar seu cachecol.

Romeo (eu acho) gargalha e se joga na cadeira, vestindo apenas uma boxer preta. Ele é um gato. Um gato gostoso e todo tatuado.

— Pensei que o senhor tivesse proibido as tatuagens... — me inclino para o joalheiro, comentando baixinho, sem desviar o olhar do Romeo.

— Proibi depois que esse tormento apareceu em casa assim — revolve fazendo o mesmo, olhando feio para o filho ainda distraído secando os cabelos molhados do banho com uma toalha cinza. Não consigo tirar os olhos dele.

Shawn é trincado. Todos os príncipes passam o mesmo tanto de tempo na academia e seguem a mesma linha do meu corredor preferido, mas o homem na tela ultrapassa o significado dessa palavra. Romeo é completamente rasgado. Quando senta não fica uma dobra em lugar nenhum e tenho para mim que não deve ter um grama sequer de gordura no corpo deliciosamente pecaminoso, cheio de veias sobressalentes em todos os lugares mais inoportunos para fazer desse jantar um teste de autocontrole. 

Será que é mal de família nunca vestir uma...

— Veste uma roupa! — Shawn rosna, se sentando ao meu lado enquanto o restante deles toma um lugar à mesa. 

Desvio o olhar para o anel do seu irmão, encarando o rubi quadrado incrustado nele para não me complicar, mas acho importante ressaltar uma coisa a respeito dessa família: a mãe desses pervertidos deve ter um camarim do mister universo no lugar do útero. Por falar nisso, onde está a mãe deles? Essa pergunta nunca tinha me ocorrido antes...

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora