Estou deitado na cama há algumas horas, pensando em tudo que aconteceu hoje.
Expliquei para um sacerdote que sinto prazer em provocar dor nas minhas parceiras durante o sexo e nós dois conversamos sobre sadomasoquismo antes que eu listasse alguns dos meus pecados mais recentes. Não me lembrei de todos, obviamente, mas a maior parte deles envolvia querer que minha colega de apartamento fosse uma dessas parceiras. Foi aí que a coisa esquentou. Fui sincero ao dizer que, embora tirar suas roupas não saia dos meus pensamentos, não me vejo sentindo prazer em machucá-la quando perguntou, mas ele não acreditou em mim e eu não o julgo porque não sei se eu mesmo acreditaria, se estivesse em seu lugar.
Vamos resumir? Fiz exatamente o que ela me pediu para fazer e nem sei o porquê, só sei que não tinha arrependimento nenhum na minha confissão, e sabe o que aconteceu depois? Eu me fodi. Nenhuma surpresa nisso.
O Padre a chamou para conversar na sacristia depois que se despediu dos seus fiéis e, pelos olhares enviesados que me deu durante a missa, imaginei que a conversa deles seria ainda mais interessante do que a que tivemos, e me recostei atrás das portas para escutar. O que é um pecado a mais na lista de alguém que o intrometido chamou de "o homem que vai arruinar a sua vida"?
Será que ele conhece o Kai?
Foi o que eu fiquei me perguntando enquanto o escutava dizer, de modo firme, que Camila deveria arrumar suas coisas e dar o fora da minha vida assim que chegássemos em casa, mas, por mais puto que eu tenha me sentido por ter sido julgado por um homem que nem me conhece, a atitude dele não me surpreendeu, a dela sim.
Camila ficou puta. Ela ficou muito puta.
— Mas quem o senhor está pensando que é para julgá-lo? Deus?
Se eu disse que não sorri, estaria mentindo, estou sorrindo agora olhando para o teto do meu quarto só de me lembrar do arquejo que saiu dos lábios do padre.
— Eu o arrastei até aqui para que o senhor o salvasse e não para que mandasse eu me livrar dele, adoro meu quarto novo. É lilás!
— Algumas pessoas não têm salvação, minha filha. — argumentou padre Inácio. O que será que ele diria se conhecesse Romeo?
— Não é isso que diz a Bíblia e eu acho bom que o senhor mude sua postura ou nós nunca mais vamos colocar nossos pés dentro dessa igreja. —afirmou convicta, antes de sair da sacristia irritada.
Com as mãos na cintura, ela informou que era bom que nos entendêssemos, porque estávamos presos um ao outro em todos os domingos que eu folgasse, pelo restante das nossas amargas vidas. Planejei cobrir muitos plantões até que ela salientou que, se eu não colaborasse, sofreria as consequências na hora do jantar. Foi assim que eu e o padre nos entreolhamos e soubemos que tínhamos nos fodido.
Camila tem o costume de tomar café da manhã no convento, depois da missa, e eu a levei, mas quando parei o carro na porta, fiquei tão amedrontado que pudesse mudar de ideia e seguir o conselho do padre se eu a abandonasse sozinha com seus pensamentos por algumas horas que, em vez de perguntar se queria que eu voltasse para buscá-la mais tarde, perguntei se eu poderia ficar e participar da visita. Ela conferiu duas vezes se eu estava mesmo falando sério, antes de abrir um sorriso encantado.
Kai nunca fez o mesmo, pelo que eu soube. Ele nunca se dignou a passar um tempo com aquelas mulheres para mudar a opinião ruim que tinham a seu respeito. Talvez não julgasse importante. Mas eu quis que gostassem de mim. Quis que soubessem que eu a tirei do convento para lhe dar uma vida melhor e que, acima de tudo, conhecessem de verdade o homem com quem a garota delas mora agora. Julguei importante.