Olho para o diabo dentro de um terno azul marinho de caimento perfeito e mesmo que esteja irritada, porque tenho quase certeza de que terminaria socando o príncipe se eu não tivesse me intrometido, sinto meu peito se comprimir com aquele sentimento que tira o sono de pessoas apaixonadas. Tudo que eu mais queria era diminuir nossa distância e fechar minhas mãos ao redor da sua cintura para matar um pouquinho da minha saudade, mas como ainda não esqueci que matou a sangue frio a nossa história de amor, encaro meus pés. Por que fazemos isso? Por que sentimos falta de pessoas que nos machucam? Por que não nascemos com um botão de emergência para desligarmos nossos sentimentos quando precisamos? Eu queria um.
Era para estarmos casados nesse momento e pensar nisso me inunda de uma tristeza repentina. É ridículo, mas também faz com que eu me sinta mortalmente culpada pelo que quase acabou de rolar com Shawn.
— Você está bem, Raio de Luar?
— Camila. — corrijo, sentindo as lágrimas invadindo meus olhos. É doloroso demais falar com esse traidor como se não fosse a pessoa mais importante da minha vida porque ainda é, mas estou tentando me concentrar no fato de que foi ele quem não me deu escolha. — Por favor, me chama de Camila.
— Como quiser, Camila. — Respira fundo, passando as mãos pelo rosto aparentemente cansado. — Podemos conversar em particular?
— Por que não me acompanha até a cozinha? — Desvio o olhar para sua gravata.
— Eu quero falar com você fora daqui.
— Não! — rosna Shawn.
— Não perguntei para você!
— Não. — reafirmo em um tom bem mais educado que ambos.
— Por favor, amor...
— Camila disse "não"! — Shawn vocifera, sem erguer o olhar da mensagem que está digitando no celular. Romeo parece preocupado e não é para menos, ele deve conhecer bem o amigo que tem, mas não vou permitir que o diabo machuque mais ninguém por minha causa.
— O máximo que você vai conseguir é até a cozinha. Pode aceitar ou ir embora.
— Pode, pelo menos, pedir ao seu amigo que vista uma roupa?
Concordo com um aceno, encarando Shawn. Ele assente, entrando na cozinha na nossa frente e sumindo dentro da lavanderia. Quando reaparece alguns instantes depois, já devidamente vestido com um jeans e uma camiseta vermelha, caminha até a mesa de jantar e abre o notebook para fingir que está realmente fazendo alguma coisa enquanto escuta a conversa. Uma conversa que ainda nem começou.
Coloco a água para ferver e me ocupo lavando os copos abandonados na pia porque sinto uma necessidade muito grande de usar as mãos para fazer alguma coisa que não seja matar o engravatado que se recostou na bancada e está me olhando em silêncio com um misto de remorso e desapontamento.
— Não posso acreditar que aceitou morar com um cara! Que diabo deu em você?
Nem eu sei, amor.
— Shawn é meu amigo.
— Mãos dadas na rua, flores no cabelo... —Seu tom é tranquilo como um chuvisco no telhado, mas não me engana. Sei muito bem o quanto se controlar para manter a calma está custando a sua alma.