Shawn

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Ela está de costas, apenas de lingerie, admirando sua bunda no espelho que fica dentro do closet; e, embora a palma da minha mão tenha deixado algumas marcas na sua pele, tem um sorriso intrigado e satisfeito em seu rosto. 

Só de me lembrar dela algemada e de quatro já me sinto endurecer, mas tenho que admitir para mim mesmo que não me senti completamente confortável com o que fizemos na maior parte do tempo. Depois do consentimento da garota, sempre me preocupei com meu próprio prazer, mas com essa garota eu não consegui me perder, fiquei atento a cada movimento do seu corpo e cada som que saiu da sua boca, para garantir que não estava indo longe demais. No fim, preferi fazê-la gozar com carinho. Foi bom para que eu descobrisse que algumas coisas não me fazem mais falta na cama, e até onde exatamente eu me permitiria chegar com Camila. A ideia de machucá-la me apavora. Só de me imaginar apertando sua garganta até que não reste mais ar nos seus pulmões, me deixa doente. 

Mas por que porra? É uma coisa normal entre quatro paredes, que sempre foi o ápice para mim. É nisso que estou pensando quando chego por trás dela e agarro sua cintura, virando para que fique de frente para o espelho. Nesse sentimento diferente de cuidado que eu tenho com ela. Camila não parece nem um pouco arrependida.

— E aí? — pergunto, deslizando uma das mãos por sua barriga. 

O olhar presunçoso é porque quero escutá-la se retratar.

— Não gostei nem um pouco.

— Mentirosa. — sussurro em tom divertido no seu ouvido, causando um arrepio por todo seu corpo. 

Ela se desmancha contra meu peito.

— Eu gostei — admite. — Mas ainda está ardendo, e agora quero um balão de coração.

— Um balão de coração? — Arqueio as sobrancelhas. 

Nunca vou entender essa obsessão dela por balões. Qual a graça? Vê-los murchar? Mas convenhamos, podia ser pior. Ela poderia ter me pedido um cachorro.

— Lilás!

Eu apenas a olho.

— Deixei você me bater — lembra, meio ressentida. — Não acha que eu mereço um balão lilás?

— Eu acho que você merece mais do que isso.— Seguro sua mão direita e enfio a minha no bolso do jeans. 

Mostro o que eu acho que merece de mim.

— Jesus! — Camila arqueja e meu corpo se retrai.

— Se importa? 

Ela nega e, respirando fundo, deslizo um presente por seu dedo anelar.

— Não acredito que me deu uma aliança de compromisso! 

Nem eu, mas troquei meu anel de família de mão e coloquei a minha no dedo sem pensar antes de vir atrás dela.

— Não é apenas isso. — Apoio o queixo no alto da sua cabeça, aperto-a mais forte em meus braços e encaro seus olhos através do reflexo do espelho. — É o mais longe que eu consigo chegar para mostrar o que você significa para mim — digo com sinceridade.

Eu só vou até aqui. Sinto muito, Mila.

— Certo — concorda, abrindo um sorriso doce e complacente que, inexplicavelmente, me machuca. — É da Mendes?

— De onde mais seria? Não quero correr o risco de ser deserdado — brinco, grato por ter mudado de assunto. — Passei na loja mais cedo.

Não consigo mais esconder o quanto me sinto nervoso em dar esse passo quando fica em silêncio admirando a aliança.

— Não me senti confortável em comprar nada mais chamativo... — comento em tom de desculpas.

Camila estica nossas mãos unidas para frente, admirando as argolas fininhas de ouro branco por mais alguns instantes antes de abrir um largo sorriso.

— Não poderiam ser mais perfeitas, Shawn. —Ela vira para se agarrar em meus ombros e pressiona sua boca delicadamente na minha.


***

Já são quase onze da noite quando chegamos do shopping. Camila caminha até o lado esquerdo da cama, que é dela, e se ajoelha.

— O que está fazendo? — pergunto me jogando nos travesseiros, mesmo que se torne óbvio quando apoia os cotovelos na cama e junta as mãos diante do rosto bonito e concentrado.

Eu a vejo fazer isso todas as noites antes de beber aquela xícara de chá, mas não vamos dormir ainda. Ela está me pentelhando o dia todo para assistir a Cinderela. Disse que quer ver meu irmão ficar maluco por um sapatinho de cristal. Só no desenho mesmo, para o Leonardo se apaixonar por alguém, e uma loira ainda por cima. Meu irmão é fissurado nas morenas.

— Me ajoelhei um dia para pedir, agora preciso me ajoelhar para agradecer. — responde sem abrir os olhos.

— Agradecer por mim? — Fico um tanto desconcertado.

— Não fale de si mesmo como se não valesse um agradecimento. — repreende.

Observo seus lábios se movendo sem som, sentindo alguma coisa se agitar dentro de mim, até perceber que tem um pedido que eu gostaria de fazer a Deus.

Saio da cama e, mesmo hesitante, me ajoelho ao lado dela. Camila abre os olhos e me olha de esguelha, escancarando um pouco mais o sorriso antes de voltar para frente. Uno minhas mãos como está fazendo e, respirando profundamente, pergunto se um dia vou merecê-la. 

O Senhor a fez para mim? 

Diga que sim.

— Reza comigo, am... — engole o fim da palavra, fazendo uma careta irritada consigo mesma. — Reza comigo? — pede me estendendo uma mão que eu agarro no ar, precisando de tudo que há de bom em mim para fingir que nada aconteceu, que não ouvi do que quase me chamou. 

Ela pede desculpas com o olhar, sabe que não deveria ter sido descuidada, mas não sabe o quanto doeu. O quanto me rasgou por dentro escutar. Preciso empurrar Vivian com força para fora do meu peito.

— Rezo, querida. — sussurro fechando os olhos, me doando, me entregando, acreditando e lhe dizendo, sem precisar de mais, que dessa vez passa.

Entre o pai-nosso e o amém, imploro a quem criou essa garota fora do comum, que a ajude a compreender e suportar o meu silêncio para sempre.

Sempre. 

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora