Shawn

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Tudo que eu não queria quando chegasse em casa, depois de um dia cansativo no trabalho, era encontrar meus irmãos conversando animadamente no nosso sofá, mas minha freirinha adquiriu o péssimo hábito de alimentá-los pelas minhas costas, mesmo que eu tenha lhe dito um milhão de vezes que não era boa ideia; agora eu não consigo mais me livrar deles. 

Parecem cachorros de rua esses merdas.

— Por que não atendeu ao celular? — É a primeira pergunta do Leonardo.

— Passei o dia em uma cirurgia complicada, que eu não estava a fim de interromper para falar com você. — respondo, escutando as garotas conversarem no quarto da Camila.

— O que foi? — Gael me observa, de sobrancelhas arqueadas, fechar a porta com um chute, que reverbera no apartamento inteiro. — Por acaso acordou com a cabeça enfiada na bunda hoje? 

Foi de pau duro depois de um sonho quente com uma calcinha azul royal do tamanho da toalha de mesa, e a culpada é sua namoradinha.

Mas, como ninguém precisa saber disso, ignoro a pergunta.

— Já jantaram? 

Eles assentem. 

— Então, por que ainda estão aqui? 

Grosseiro, bem grosseiro. Eu sei, e não me importo nem um pouco, mas tem alguém que se importa e, estranhamente, dessa vez não escuto um grito vindo do quarto me mandando ser mais gentil. Será que ela está puta comigo?

— Ficamos esperando você chegar para saber se queria dar uma volta com a gente no Josephine's. — informa Leonardo.

— Minhas pernas estão me matando —respondo me jogando no meio deles no sofá, até as apoio no colo dele. — Tudo que eu quero depois de ficar dezesseis horas em cirurgia é que vocês sumam da minha frente, para que eu possa descansar.

— É por isso que está putinho? — pergunta, massageando minhas coxas para mim. 

Prefiro quando minha freira com mãozinhas delicadas faz isso, e esse é o problema. Nada que eu queria contar ao Leonardo.

— Deem o fora!

— Tenha paciência — responde Gael, com o dobro dela. — Estamos esperando as ragazzas. 

Estou para perguntar por que o uso do plural se uma delas não vai a lugar nenhum, quando escuto o barulho de dois saltos diferentes crepitando no piso do corredor. Giro no sofá olhando por cima do ombro para descobrir que minha noite não estava nem perto de terminar. 

Justo hoje, Camila? Tô cansado, caralho!

Meu olhar sobe devagar dos scarpins prata para duas pernas esguias, passando pelos babados de um vestido branco, que termina um palmo acima dos joelhos, e um par de seios escondidos atrás de um grande decote, até chegar ao rosto mais angelical em que já coloquei meus olhos. Essa noite, os lábios que moram nele foram pintados de um vermelho sangue, e seus cílios evidenciados com muitas camadas de rímel tornam os olhos amendoados maiores e mais expressivos. Para o meu agrado, as maçãs do rosto permanecem intocadas e ainda exibem a cor naturalmente rosada, mas o que mais me fascina são as mechas escuras que perderam todas as suas ondas e agora terminam alguns dedos acima dos ombros. 

Puta merda.

— Vocês duas ficaram gostosas pra caralho. —elogia Leonardo.

— Nós somos gostosas pra caralho. — corrige Bruna, girando dentro de um microvestido de paetês vermelhos. — O que achou, amor?

— Não vou ter paz a noite toda, Bruna — geme Gael. 

Mas quem vai?

— Essa é a ideia, mas e aí? Ninguém vai falar nada do cabelo da Camila? — Bruna olha para mim.

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora