Shawn

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Entro rapidamente no corredor para que Camila, que está andando de um lado para o outro dentro da sala do meu irmão, falando ao telefone, não me veja, e paro diante da porta fechada. Respiro profundamente para criar coragem de me portar pela primeira e última vez como um dos herdeiros da Mendes.

Por causa dela.

Por causa da garota de bom coração que eu acabei de escutar implorando, quase à beira das lágrimas, para a melhor amiga dela não despedir a mim e a Letícia.

— Está tudo bem, filhote? — pergunta meu pai, tirando os olhos da pauta para me olhar com espanto quando marcho para dentro da sala de reuniões.

— Tudo. — respondo, mesmo que não esteja.

Depois que o tranquilizo, meu pai fecha a cara e me cobra um cumprimento adequado:

Così buon pomeriggio eh? 

Mas como tenho coisas mais importantes a fazer do que me dignar a lhes dar boa tarde, me limito apenas a andar ao redor da mesa, fechando as pastas na frente dos meus irmãos até chegar à dele que eu fecho com um pouco mais de gentileza.

Não acredito que estou mesmo fazendo isso.

— Tem algum motivo especial para interromper a reunião, bambino? — pergunta Gael, cruzando as mãos em cima da pasta de couro.

Diz que sim, porque já estou de saco cheio deles há quarenta minutos. — pede Romeo, do telão instalado na outra ponta da mesa. Pela gravata que está usando e a parede acinzentada atrás dele, presumo que esteja na sala de conferências da sede italiana.

Encaro um por um os homens da minha família, sem saber ao certo como pedir que me ajudem a lutar por uma garota.

— Vamos discutir um assunto importante, e precisa ser rápido, tenho que fazer as visitas aos pacientes que operei ontem em vinte minutos ou minha chefe endemoniada – aquela que vai comer a minha alma assim que eu pisar naquele hospital –dá cria.

— Eu adoraria que sua chefe endemoniada desse cria. — suspira nosso pai sonhadoramente.

— Eu também — comenta Gael. — Já imaginaram como nosso filho seria endemoniadamente fofo?

— Prefiro imaginar os por menores depois que vocês se casarem. — afirma papai em tom sério para o idiota sorrindo todo bobo com a cena que está imaginando. Se eu estivesse menos nervoso reviraria os olhos. — O que você quer discutir, Shawn? 

Está aí uma pergunta interessante. 

Passei a tarde inteira olhando para uma parede branca, pensando no que Kai disse e em todas as possibilidades do que poderia acontecer se aquela teimosa aceitasse a proposta dele e os dois voltassem a trabalhar juntos diariamente. Por mais que eu tenha tentado não ser pessimista, foi impossível parar de vislumbrá-la saindo pela porta do nosso apartamento com uma mala na mão e um anel de noivado na outra, porque sei que, apesar de tudo, seus sentimentos pelo maldito continuam inabaláveis. Os dele, para minha infelicidade, também parecem estar. Kai sabe manipular o amor dela como ninguém, e tenho para mim que é inteligente o suficiente para conseguir encontrar uma maneira de ser perdoado se tiver chance. 

É um risco que eu não posso correr. 

É uma chance que eu não quero dar.

— Isso. — respondo, entregando a pasta que veio comigo de casa na mão do meu pai.

— E o que é isso? 

— Camila recebeu essa proposta do advogado para que retornasse à Xavier & Pallace. — respondo, mesmo que agora seus olhos estejam passeando pela folha.

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora