Eu devia saber, não é? Os sinais estavam todos lá.
Se eu disser que a ideia não passou pelos meus pensamentos, seria mentira, mas sou muito bom em ignorar aquilo que não me convém, e Camila ser virgem, definitivamente, não me convém. Preferia creditar que, por ter sido criada naquele convento, tinha se tornado uma garota mais tímida, recatada...
— Não vai mesmo me contar porque está puto?
— Não.
— Bateu a porta do Jackson. — lembra. —Você nunca bate a porta do Jackson.
— Já disse que não foi nada e, se quiser continuar tendo um lugar para dormir, é melhor parar de insistir, porque estou pensando seriamente em bater a porta do meu apartamento na sua cara.
— Não está mais aqui quem perguntou... —responde de algum lugar atrás de mim enquanto subimos as escadas. — Foi a Camila?
— Não fode, Rodrigo!
Empurro a porta da escadaria no sétimo andar com uma porrada, determinado a me livrar dele, tomar um banho e dormir para ver se consigo esquecer o que tanto está me incomodando, mas pelas gargalhadas que escutamos quando nos aproximamos da porta do meu apartamento, acho que não será tão simples assim.
— O que está acontecendo aí dentro?
— É o que vamos descobrir...
Meu humor piora consideravelmente assim que entramos e nos deparamos com aqueles dois rolando pelo meu tapete. Estão tão embolados que não sei aonde um começa e o outro termina. Tem uma zebra mamando no gargalo de uma garrafa de tequila, agarrada a um violão no canto do sofá, que não para de berrar que nem louca na torcida pela garota que acabou de sentar no peito do meu irmão e agora mantém ambas as mãos pequenas ao redor da garganta dele, tentando enforcá-lo, algo que eu também gostaria de fazer.
Todos estão tão entretidos com a luta que não nos notam, é admirável.
— Respira fundo. —Rodrigo me segura pela jaqueta, falando comigo como se eu fosse uma das suas pacientes em trabalho de parto. Está tentando me persuadir a não fazer nada estúpido como, por exemplo, matar o Leonardo.
Ele não precisa se preocupar porque além de eu querer que Camila o mate no meu lugar, para me poupar do trabalho de ter que mentir para o papai que foi um acidente, eu não consigo fazer mais nada além de ficar parado contemplando a cena em choque. Até que, em dado momento, meu irmão se cansa de deixá-la ganhar e a joga no tapete, prendendo suas mãos acima da cabeça e se acomodando no meio das pernas dela.
— Eu acho que agora alguém me deve muitos beijinhos, não acha? — Aquele merda que meu pai pegou para criar chega com a boca perto demais e se diverte com Camila esfregando o nariz no dele.
Respirar fundo simplesmente deixa de adiantar e eu arrasto meu melhor amigo, ainda agarrado as minhas roupas, para o meio da sala junto comigo para dar um fim naquilo enquanto ele tenta me fazer parar, mas é inútil.
Rodrigo não consegue me impedir de agarrar meu irmão pela camiseta e o tirar de cima dela.
— Bem que eu estava mesmo querendo buscar uma blusa que deu tchau para mim de uma vitrine um dia desses. — Bruna saca o celular para filmar.
Encaro meu irmão, ciente de que vou pagar por aquela blusa.
— Estávamos brincando, neném — se justifica.
— Minha vez?
— Você não sabe... — meu cotovelo acerta em cheio o seu rosto. —brincar! — completa com um resmungo. — Puta que pariu, isso dói.