Camila

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Desperto, sentindo-me absurdamente triste. Falta um pedacinho de mim, mas meus pensamentos em desordem não querem me dizer qual. 

Pisco lentamente, tentando acostumar meus olhos à claridade forte do ambiente. Quando finalmente consigo mantê-los abertos e olho ao redor, encontro uma fileira de macas vazias dos meus dois lados e me dou conta de que estou em uma sala no hospital. Tem um homem sério de quem me lembro bem e que me faz suspirar, de jeans e camisa rosa chá por baixo do jaleco, sentado em uma mesa dos fundos. Meu médico é magnífico. Ele está distraído com alguma coisa que eu não consigo ver e isso me permite observá-lo por um pouco mais de tempo enquanto coloco meus pensamentos no lugar. Como parei aqui? Na companhia dele.

Shawn afasta a cadeira para trás e liga a luz de um painel preso à parede, parece cansado e muito concentrado no que está fazendo enquanto estica uma radiografia contra o reflexo e a estuda por trás das lentes dos óculos, com o punho apoiado embaixo do queixo. O que são aqueles óculos de aro preto?! Ele fica tão sexy com eles...

Solto um suspiro, me ajeitando mais na maca. Também tremo de frio. Subo a manta branca com a qual estou coberta até os ombros, notando, tarde demais, o acesso preso em minha minha mão esquerda. Olho para cima e encontro o suporte com o soro, gotejando tão lentamente quanto as memórias rastejando de volta para dentro da minha consciência.

Não sei descrever o tamanho do meu alívio e da minha gratidão quando escutei sua voz, e saí do banheiro para encontrá-lo na porta dentro de um uniforme azul-marinho. Estou arrasada, mas não sou cega. O que eu teria feito sem ele? 

Escuto passos e trato de fechar os olhos.

— Os exames de sangue dela chegaram, Dr. Mendes. 

Dr. Mendes. 

É uma garota gostosa ou, pelo menos, é isso que seu timbre profundo e sedutor me faz acreditar. Fico curiosa e, mesmo que minha última aventura como stalker tenha terminado comigo querendo me jogar na frente de uma carreta, semicerro os olhos para conferir se estou certa e encaro a loira com um belo par de peitos dentro de um uniforme rosa de enfermeira apertado que está caminhando até a mesa. 

— Obrigado — fala, arrancando o envelope fechado das suas mãos, sem nem mesmo olhá-la, pelo menos até perceber que continua no lugar. —Já pode sair, Letícia.

Então essa é a Letícia.

— As enfermeiras não falam de outra coisa além dessa garota — conta, colocando as mãos na cintura. — Você não pediu ajuda. 

"Você?" 

Depois que deve ter visto que ainda estou "dormindo", o tom profissional já era.

— Ficaram mesmo surpresas por eu saber pegar uma veia? Poupe-me, sim. 

Ela bufa. 

Por via das dúvidas, é melhor eu voltar a fechar os olhos. Já estou traumatizada por uma vida.

— Quem é a garota?

— Não é da sua conta — responde, concentrado em abrir o envelope. 

— Preciso de um nome para fazer a ficha...

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora