Shawn

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[...} You tell me that you're leaving, and I'm trying to understand

I had myself believing

I could take it like a man

But if you gotta go, then you gotta know that's killing me.

Desligo o rádio me sentindo ainda mais assustado com a letra da música, embora minha banda favorita esteja certa e eu tenha decidido aceitar perdê-la como um homem, se tiver decidido partir, mesmo que isso mate o que ainda resta de bom em mim.

Camila quebrou a promessa que me fez na piscina do motel muito tempo antes de fazê-la. E eu?Eu sabia. Eu sempre soube. Os acontecimentos dos últimos dias me obrigaram a admitir que eu estava consciente de que ela tinha se apaixonado por mim na noite em que eu saí atrás dela do Josephine's. Inclusive, foi justamente esse o motivo que me fez pressioná-la para que escondesse seus sentimentos atrás daquele trato ridículo, que nada mais era do que a única saída que encontrei para podermos ficar juntos e postergar o que estamos vivendo agora.

O ciúme que a fez pegar a bolsa e sair correndo do bar, o nariz enterrando nas minhas roupas para sentir meu perfume em todas as malditas vezes que as vestiu, a necessidade de colocar uma das minhas camisetas para dormir quando eu não estou em casa, a insistência em me esperar no sofá e sempre murmurar meu nome enquanto dorme, a maneira encantada como me olha ou sorri para mim e, principalmente, a facilidade com que me permitiu tocar no seu corpo sendo que, antes de mim, ninguém havia tido o mesmo privilégio. Não sou idiota, porra. Em um momento como esse, eu até gostaria de ser, mas infelizmente eu não sou. Sou só um filho da puta.

Se formos um pouco mais longe, eu diria que também sabia que Camila não conseguiria esconder seus sentimentos de mim quando tomasse ciência deles, que se sentiria culpada por me "trair", e que esse momento decisivo em nosso "relacionamento" chegaria, mas preferi continuar tentando me enganar enquanto ainda podia. Era mais fácil. Era menos doloroso. Ajudava-me a ignorar o medo que eu sentia, e ainda sinto, do futuro, porque se formos bem sinceros, não há um futuro. O "sempre" é uma utopia. No nosso caso, desejar o "amanhã" já é loucura.

Eu deveria ter me sentido aliviado quando me contou que tinha decidido terminar comigo. Deveria ter concordado que era o melhor a ser feito e perguntado se precisava da minha ajuda para arrumar as malas e encontrar outro lugar para morar. Não consegui abrir mão dela, e isso me pegou desprevenido. Nunca pensei que ficaria tão envolvido pela Camila.

Palavra bonita, não?

Envolvido.

Minha única escolha foi continuar sendo sincero como tenho feito desde o momento que descobriu quem eu era depois da minha mancada no elevador. Eu a quero. Eu a quero tanto que chega a doer, tanto que chega a me machucar, tanto que eu não consigo pensar em mais nada além dela. Camila é a única pessoa eu já quis de verdade na minha vida, a única que se tornou importante dentro dela, mas eu a quero sem seus malditos sentimentos, e disso eu também não consigo abrir mão. Porra, se eu não dou conta de lidar nem com os meus, como vou lidar com os dela?

Eu disse que fui sincero? Deveria ter dito egoísta.

Estou sendo um egoísta do caralho, mas essa é mais uma das muitas coisas que eu não posso evitar. Eu continuo sendo bom só com corações que desistiram de lutar.

É quase sete da manhã quando paro na garagem de casa depois de um plantão de 24h. Desligo o motor e tombo a testa no volante, me sentindo faminto, cansado, amedrontado, frustrado e completamente dividido. Se por um lado, quero que ela se abstenha daquilo que acredita e escolha ficar comigo, mesmo sabendo que merece muito mais do que eu posso oferecer; por outro, quero que seja livre e encontre alguém que, diferente de mim, aprecie o que ela sente e não precise fazer exigências para fazê-la feliz. Mas nessa porra de meio-termo temos o Kai.

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora