Ma.ra.to.na
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Quanto tempo vai demorar até que perceba que merece mais?
Quanto tempo vai demorar até que descubra, que nada do que faça tem poder de ressuscitar algo que outra pessoa matou dentro de mim?
Por quanto tempo vai conseguir ficar com um homem incapaz de retribuir seus sentimentos? Incapaz de dizer como se sente?
Quanto tempo vai demorar até parar de se enganar e perceber que, mesmo com todos os defeitos dele, ainda estaria melhor com o advogado?
Quando tempo vai demorar até que eu me machuque outra vez? Até que eu seja obrigado a dizer adeus para alguém que se fez importante na minha vida outra vez?
Por que não consigo simplesmente fingir que esse dia não vai chegar como o restante das pessoas faz?
Passei horas me fazendo essas perguntas depois que meu pai me empurrou contra a parede e sutilmente colocou o cano da sua arma na minha nuca, me cobrando uma escolha que até aquele momento eu não me sentia pronto para fazer, como eu sabia que faria quando soubesse da gente. Meia garrafa de uísque também me permitiu fazê-las ao Rodrigo. De todas as pessoas, meu melhor amigo é quem conhece melhor meu passado. Ele o viveu ao meu lado.
"Suas perguntas não têm respostas porque o amor é isso, uma eterna aposta, tudo que você tem que se perguntar é se aquela garota compensa o risco."
É na resposta dele que ainda estou pensando quando escuto o rangido da porta se abrindo. Abro uma gaveta qualquer e deslizo o livro para dentro dela, antes de olhar para a garota que me observa com tristeza no olhar. A garota que eu magoei por causa da Vivian. A garota que eu não consigo amar por causa da Vivian.
Eu queria tanto que fosse diferente.
— Teve um pesadelo?
Respiro aliviado quando nega. Odiaria que tivesse acordado assustada enquanto minhas mãos estavam ao redor daquele livro em vez de estarem ao seu redor, prontas para confortá-la.
— Sinto sua falta quando não está na cama.
Mesmo que sorrir seja a última coisa que eu queira fazer no momento, o canto dos meus lábios se ergue em um sorriso torto.
— Não consegue dormir?
Nego.
— O que aconteceu hoje no trabalho? Chegou na joalheria chateado.
— É uma boa maneira de dizer. — Mantenho o sorriso fraco.
Camila morde os lábios esperando por uma resposta e, depois de pensar um pouco, falo a verdade, como sempre.
— Perdi alguém hoje.
De novo, penso soltando o copo vazio na mesa.
Ela assente como se soubesse exatamente o que eu quis dizer, mas isso é impossível.
— E como está se sentindo?
— Estou bem.
Morrendo de ódio dela.
Morrendo de ciúmes de você.
Confuso pra caralho.
— Preciso confessar uma coisa — fala com receio.
— Sei que salvou as flores.
— Como sabe?
— Fiquei alguns minutos no alto da escada tentando me acalmar antes de entrar na sala do meu pai e assisti quando saiu da copa com um vaso transbordando de água. Sabe o que me enlouquece mais? Eu deveria saber que estava chorando por causa delas.
Mas em meu íntimo, queria que você cometesse um erro, queria um motivo para não confiar em você e me entregar de bandeja em suas mãos. Estava com medo de como poderia terminar, ainda estou, Mila.
— Me perdoa pelo que aconteceu hoje? Eu não deveria ter perdido o controle, nem saído sem avisar.
Ela assente, mordendo os lábios apreensivamente.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas nos olhando. Camila se balançando para frente e para trás na ponta dos pés, dentro da camisola de seda no mesmo tom de vinho da manta que arrastou pela pontinha pelo piso de tacos.
— Está pensando em me devolver?
Tiro os óculos e o arremesso sobre a mesa, passando a mão pelo rosto antes de ordenar que entre no escritório com um gesto. Camila contorna a mesa e para na minha frente me olhando com tanta tristeza que nem precisa dizer para eu saber qual imagina que seja minha resposta.
Por que eu não consigo ser como você, que transforma todas as suas feridas em algo do que se orgulhar, Camila?
Envolvo sua cintura e a puxo para o meu colo onde se aninha como se fosse mesmo uma garotinha. Minha garota.
— Não tem com o que se preocupar, aprendi com meu pai que quando se adota alguém não se devolve, por mais que esse alguém te enlouqueça.— brinco, mas ela ainda não parece acreditar em mim. Fecho os olhos quando esfrega sua bochecha no meu ombro. Ah, que se foda.— Nosso relacionamento é uma das suas coisas favoritas?
— É a minha coisa favorita. — afirma, agarrando meu moletom com uma das mãos.
Cubro seu corpo com a manta e a aperto mais forte.
— Então acho que precisamos dar um nome para ele.
— Um nome?
Olho para baixo no mesmo instante em que olha para cima.
— Que tipo de nome? — soa confusa.
— O que acha de... Namoro? — pergunto em tom baixo.
Camila se agita e se endireita no meu colo, derrubando até a manta no processo. Eu acho que a peguei de surpresa.
— Está me pedindo em namoro, Shawn? —confere, segurando meus ombros para me olhar de frente.
— Estou. — basta uma palavra para fazer seus olhos transbordarem de água. — Quer namorar comigo, Mila?
Seguro seu rosto tombando minha testa na dela.
— Quero. — sussurra.
No instante seguinte, puxo seu rosto para mim e a beijo. Um beijo salgado com gosto de Era uma vez.
Ela não merece páginas em branco.
Camila merece uma história.