Prólogo

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Ana

Meu raciocínio não estava funcionando, fiz péssimas escolhas. Mariana foi embora. Quer dizer, eu a mandei embora. Minha cabeça gerava várias perguntas das quais não havia respostas, pelo menos, não naquele momento.

Chorei o que tinha e não tinha. Meu coração estava doendo, todos que confiei, me engaram. Meu castelo de areia foi levado pelo mar. Me perguntei quando isso acabaria. Estava sentindo falta da Regina e Valentina estava sentindo falta da Mariana. Única coisa que quero, é ficar sozinha e refletir. Talvez, refletir seja uma péssima ideia.

O ar me faltava. Ela não pode estar apaixonada por mim, não e não. Sentir que ela me correspondia, me deixava mais confusa.

Confusão mental.

Fechei todas as cortinas do quarto e deitei na cama. Fechei os olhos. Que droga, não conseguia sequer pensar que aquela cena ridícula habitava minha mente. Ridícula!

Estou apaixonada por você.

Meus olhos preencheram de lágrimas novamente. Droga de sentimentos que não sei distinguir, droga de destino babaca! Estou com raiva e está doendo como nunca doeu. Com certeza, ela falou aquilo para aliviar a culpa que sentia por ter traído a minha confiança.

Era melhor ter uma paixão não correspondida do que uma correspondida. Quando se é recíproco isso se torna tão real e palpável, quando não é recíproco você finge que nada aconteceu e a vida segue.

Estava com nó na garganta tão grande. Meu celular começou a vibrar, olhei para a tela e meu coração bateu tão forte.

Mariana.

O que ela queria? Atendi no impulso.

– O que foi? – Minha voz saiu mais ríspida do que normalmente saia.

Ouvi um suspiro do outro lado. Ela pensava tanto quanto eu.

– Eu sei que você não me deve nada, mas não tenho lugar para ficar e não vou deixar a Regina em qualquer lugar. – Sua voz estava arrastada, ela continuou. – Você pode ficar com ela até que eu arrume um lugar para ficar? – Indagou com incerteza. Não poderia negar um lugar para minha outra filha.

– Eu vou mandar o Ramón a buscar. – Me sentei na cama. Limpei meu rosto, meus olhos estavam completamente inchados.

– Obrigada! – Era difícil ser forte. Segurei ao máximo que pude, mas acabei caindo no choro novamente. – Você está bem? – O tom de preocupação exalou.

– Que pergunta mais besta. Não preciso nem responder. – Antes de desligar a ouvi chorando também. Era tudo uma grande merda. – Eu... vou desligar. Me manda a localização. – Desliguei antes de ouvir sua voz.

Ela me mandou a localização. Suspirei e mandei para Ramón a localização, pedindo para que as trouxesse.

O destino só confirmava meu carma. Os exames estavam na mesinha, olhei e suspirei. Não estava bem para abrir hoje.

Se passaram uns 30 minutos até ouvir vozes que estavam vindo do corredor. Ramón bateu na porta.

– Senhora, elas estão aí. – Assenti com a cabeça e agradeci. Não tentei parecer feliz, indignada ou inconformada. Me levantei e desci até a sala. Observei as duas de longe.

Suspirei e adentrei na sala. Ela não me olhou nos olhos e tão pouco no meu rosto. Se levantou e estendeu Regina para mim.

– Vai com a mamãe. – Sorri para Regina e a peguei no colo.

– Oi, meu amor. – Fiz carinho em seu rosto. Olhei para Mariana que se aprontava para sair.

– Estou indo. – Pegou a mala novamente.

Seu coração não deve te controlar, Ana. – Minha mente estava em grande briga com os meus sentimentos.

– Você pode ficar aqui. – Minha voz saiu rápido, ela me olhou pela primeira vez nos olhos e meu coração batia a mil por horas. Ela também não estava bem e não se esforçava para esconder.

– Não, não posso. Não sou bem vinda aqui. – Resposta fria e ríspida.

– Mariana... – Não queria implorar, mas também não a queria deixar ir novamente.

– Eu traí sua confiança, falei que nunca faria isso e fiz. Estava e estou errada. – Me olhou profundamente.

Nesse quesito, ela estava certa. Mas, eu a queria ainda.

– Mas...

– Só cuida bem delas – Suspirou e baixou a cabeça – Sei que você irá cuidar bem.

Ficamos nos olhando por alguns segundos.

– Como vou cuidar bem delas sendo que não estou bem? – Minha voz saiu entre cortada.

– Eu não sei como curar isso que fiz, não sei como reparar nada. Sei que me desculpar não vai adiantar nada.

– Estou quebrada, mas não adianta nada ficarmos tão longe das meninas – Meu raciocínio deve estar cometendo suicídio nesse momento. Meu emocional estava falando mais alto do que nunca. – Você pode ficar só por essa noite? Não quero que você saia agora, é tarde... – Ela me cortou.

– Eu sei me virar, Ana. – Sua voz saiu um pouco mais alta que o habitual.

Regina começa a chorar e meu coração se despedaça.

– Por favor, fica! Tem coisas que falei no calor do momento e preciso repensar, enquanto isso você pode ficar. – Falei me aproximando dela e dando um sorriso desconfortável. Estar exposta nunca foi uma coisa que gostei.

– Só por hoje. – Assenti.

Suspirei me sentindo aliviada. Entreguei Regina novamente a ela.

– Você conhece a casa, então... Fique à vontade. Boa noite! – Subi novamente para o meu quarto sem olhar para trás.

Minha mente e coração são lugares que não reconheço mais. Hoje, não me forcei a ser forte e segui o que senti ser certo. 

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