Titanes

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Acordei com barulho do celular tocando loucamente. Quem estaria me ligando a essa hora? Não posso ter um sono reparador decente. Sem abrir os meus olhos, passei a mão pela cama e senti falta de alguém. Peguei o celular no cômodo e atendi ainda sonolenta.

Bom dia, meu bem! – Ana me respondeu entusiasmada. O bom humor dela me afetou positivamente. Me espreguicei e acabei resmungando.

— Bom dia! – Acabei respondendo com a voz mais arrastada que o normal. — Qual o motivo da ligação especial? – Questionei, era muito cedo para Ana ligar para qualquer pessoa, esses são privilégios de ter um quase relacionamento com ela?

Ela suspirou e parecia meio sem graça ao dizer aquilo.

Liguei para te perguntar se dormiu bem e para te avisar que deixei um bilhete. – Hm, Ana deixando um bilhete, qual seria o conteúdo? Joguei as cobertas para o lado e me alonguei para pegar o bilhete que estava ao travesseiro ao lado, mas estava tão friozinho e estou morta de sono ainda. 

Olhei o que estava escrito em uma caligrafia quase perfeita, senão perfeita. Ana conseguia fazer tudo com grande excelência e da melhor forma que alguém poderia imaginar, até um bilhetinho. Meu corpo se estremeceu ao passar os olhos e ler mentalmente. Ela suspirou do outro lado da linha parecendo um pouco impaciente ou nervosa? 

Decidi ler em voz alta.

— No sé mucho acerca de citas, poemas y palabras; pero cuando te veo, las palabras, las citas y los poemas cobran sentido. – Acabei conseguindo manter meu tom de voz em quase toda a frase, mas no final dei uma deslizada e demonstrei estar mexida com aquilo.

O silêncio tomou conta da ligação, não conseguia me expressar porque poderia parecer demais? Meu medo de ser rejeitada ainda permanecia, por mais que aquilo fosse uma certeza — concreta —, me senti viajando nos sentimentos que me causou.

Você conseguiu descansar bem? Pedi para Altagracia fazer aquela torta maravilhosa que você tanto gosta. – A voz da Ana ressurgiu do nada, quebrando qualquer silêncio ou dúvidas que a ligação poderia ter caído.

Acabei bocejando e me espreguiçando.

— Dormi muito bem, sabe… Estava abraçando a melhor ursinha que já tive. – Não sabia muito bem como demonstrar, mas queria deixar claro que dormir com ela, me fazia bem. — Você levantou cedo, já está na empresa? – Questionei um pouco curiosa, me enfiando nos vários travesseiros que tinha naquela cama enorme. O travesseiro tinha o cheirinho dela, absolutamente incrível como Ana conseguiu se infiltrar na minha vida sem pedir nenhuma licença, só aconteceu.

O suspiro desanimado do outro lado da ligação, me fez querer abraçá-la.

Fico feliz que tenha dormido bem abraçando a sua "ursinha" – Não aguentei guardar o riso para mim. — Sim, já estou na empresa e tenho uma reunião que não desejaria estar. – Ana resmungou, insatisfeita. É a primeira vez que a vejo correndo de uma reunião como essa, parecia até um mau pressentimento.

— Você se sairá bem como sempre. Seu dia vai passar rápido, okay? Quando você chegar em casa, terá uma surpresa te aguardando. – Eu poderia tentar acalmá-la da forma usual, então deixei que um tom sensual tomasse conta da conversa, acordei com vontade de estar corpo a corpo, devem ser os hormônios. — Acredito que será do seu completo interesse. – Sussurrei, percebendo que Ana ficou muito interessada no assunto e disfarçou logo em seguida.

Está ficando calor, né? – Ambas rimos. — Vou amar receber esse presente, mas preciso me preparar para a reunião e espero que aprecie o café matinal. – Ana deixou que o seu tom doce e atencioso tomasse conta da conversa, o que me deixou bem confortável, quer dizer, ela sempre me deixava assim. — Ah, não deixe a Diana destruir minha casa, por favor? Obrigada! Terei que desligar, tenha um ótimo dia e te amo! – Por um momento, dei um sorriso completamente apaixonado e olhava para o teto, pensando que poderia ser um sonho. Ana realmente é um ser humano incrível. Meu coração estava acelerado de uma forma absurda, acredito ter sentido esse conforto com coração acelerado somente uma vez em minha vida.

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