La curación de un abrazo

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Ana estava demorando para se acalmar. Em meus pensamentos, surgiam muitos cenários possíveis, e a maioria, não eram agradáveis. Balancei minha cabeça negativamente, na tentativa de espantar esses pensamentos intrusivos. Acariciei as costas de Ana, que ainda estava bem agitada.

— Você quer tomar uma água? – Perguntei-lhe, tentando ser atenciosa. — Não precisa me contar agora. Só quero que você se acalme! – Deixei explícito, que estar confortável era o objetivo.

Ana se soltou dos meus braços e pousou seus olhos nos meus. Deu um sorriso fraco, isso foi a morte para mim, as lágrimas escorriam em seu rosto. Passei meus dedos polegares nas lágrimas que escorriam, assim, limpando. A loira em minha frente, que na maior parte do tempo era extremamente forte, estava em um momento de completa fragilidade, que me deixou surpresa. 

— Desculpa, eu nem perguntei se você está bem. – Sua voz estava embriagada pelo choro. Deixei um sorriso brotar em meus lábios, espero ter passado um pouco de conforto.

— Não se desculpe, agora, estamos cuidando de você. Quer chorar mais um pouco? Faz bem chorar… – Ana revirou os olhos, deixando um sorriso mais solto transparecer. 

— Eu não te mereço. – Seus olhos se preencheram de lágrimas. Passei uma das mãos em seu cabelo.

— Aí Ana… Para de ser boba, claro que me merece! – Depositei um beijo em sua bochecha molhada pelas lágrimas. — Então, o que ocorreu exatamente? – A postura dela se enrijeceu. Olhava para qualquer ponto físico da sala, menos em meus olhos. — Okay, já entendi. – Levantei minhas mãos em rendição. 

Ana deu uma risadinha, pegando um lenço no porta lenços e limpando o rosto com delicadeza.  

— Vou te contar por cima, sei que você é curiosa. Em casa, te conto melhor. Aqui não é adequado para esse assunto. – Me senti desconfortável com a última parte. Ana pegou em minha mão e olhou firmemente em meus olhos. — Esse problema que tenho com meu pai... Na verdade, é com o sócio dele e é bem antigo, ainda quando fazia estágio na empresa do meu pai, bem no fim do curso. Eu cuidava de papeladas de extrema importância, pois meu pai confiava em meu serviço. Não faço ideia de como apareceu aqueles papéis sobre um certo furo no orçamento final. Foi aí que começou meu inferno pessoal naquela empresa, não sou conivente com a desonestidade desse senhor. Como boa funcionária, fui questionar ele sobre aqueles papéis, mas antes, decidi pesquisar profundamente queria ter certeza do que estava falando. – Ela respirou profundamente. Engoliu em seco. — Há anos, esses furos ocorriam, mês a mês, com dados diferentes. A secretária dele não quis me ajudar, acredito fazer parte disso. Decidi que era hora de enfrentá-lo, já tinha dados suficientes. Ele conseguiu fazer tudo se virar para mim, inclusive brigar com meu pai, um ser completamente manipulador. Há 10 anos, voltei a falar com meu pai, porém, sem mencionar esse fato. Esse maldito homem, conseguiu acabar com qualquer vínculo que tinha com meu pai e fiquei muito chateada, por não ter acreditado em mim, não ter acreditado na própria filha.  – Apertei sua mão na minha. Os olhos azuis me olhavam com carinho e confiança, espero estar passando essa mesma confiança e carinho. — Enfim, em casa, te conto com mais detalhes. Não pense besteira, não foi nada de mais. – Esse nada de mais, me preocupa horrores. 

A abracei com força. Ana soltou um grunhido.

— Obrigada por confiar em mim e me contar essas coisas. – Ana deu uma risadinha, me abraçou e deu um cheiro no meu pescoço. Ela sabe que esta é uma área sensível para mim?

Me arrepiei.

— Okay, eu sei que meu abraço é maravilhoso, mas eu preciso respirar e você vai quebrar minhas costelas desse jeito. – Ana resmungou humorada.

A soltei, vagarosamente.

— Senti sua falta na cama pela manhã. – Fiz carinho em seus cabelos. Ela revirou os olhos. — Não te acordei porque estava dormindo tão tranquilamente. – Seu dedo indicador fazia carinho na palma da minha mão, ela estava tentando estar presente. 

— Ana… – A chamei, sussurrando.

¿Qué? – Ana me olhou desconfiada, deu vontade de rir, mas só queria ser carinhosa.

Tengo un secreto que contarte. – Tentei não transparecer que fosse algo que ela soubesse. — Vem mais perto! – Ela se aproximou, coloquei minhas mãos em seu pescoço e aproximei minha boca de sua orelha. — Eu amei aquele bilhete pela manhã, sei que você achou algo muito bobinho, mas é algo que me tocou profundamente. O seu carinho… – Enquanto sussurrava, o seu corpo relaxou e sua pele se arrepiou, dei um sorriso. 

Ana se afastou gradualmente, semicerrou os olhos em minha direção. Meu corpo estremeceu completamente e tentei não ficar imaginando coisas.

— Você não deveria ter feito isso. – Ana suspirou. Ela estava brava ou excitada?

Seus olhos estão fixos nos meus. 

Dei um sorriso frouxo. 

— Está brava ou e… – Seus lábios tomaram os meus, suas mãos entrelaçaram em meu pescoço. No momento, fiquei sem reação, porém, logo tomei consciência que uma executiva gostosa estava me beijando.

Seus lábios me consumiam lentamente e de forma sensual, sua língua pediu passagem e acabei permitindo que me explorasse. Minhas mãos foram parar em sua cintura, apertava levemente. Ana tinha beijo completamente quente, seus dedos faziam carinho em minha nuca. Lentamente os seus lábios abandonaram os meus, apenas dando leves selinhos.

— Nossa! Sempre uma explosão de emoções quando te beijo, talvez… Só talvez, eu esteja viciada em te beijar. – Seus dedos puxaram meu queixo e Ana deixou um selinho mais longo. — Enfim, obrigada por tanto! Queria te dizer que, nesses dias, estamos vivendo coisas tão leves e sem complicações, espero que continue assim… – Os orbes azuis brilhantes acompanhavam o seu dedo que fazia carinho em meu queixo. — Você é muito importante para mim! – Recebi um abraço, caloroso. A abracei forte e ficamos esperando o nervosismo sumir. — Só você está aqui ou… – A porta abriu, abruptamente.

Ana se afastou, rapidamente.

Diana e o pai de Ana apareceram na porta. Ana suspirou pesadamente, sua mão que estava em meu queixo procurava urgentemente a minha. Apertei e dei um sorriso e balancei a cabeça. 

Você consegue! Qualquer coisa, me chama. – Sussurrei, aproximei de sua bochecha e dei um beijo estalado. Ana engoliu em seco, mas sabia que estava segura o suficiente para lidar com isso. 

Deixei a sala, fui até Cynthia.

— Ela está bem? – Cynthia indagou, preocupada.

— Sim, está bem. Ela só ficou nervosa, acredito que não seja todo dia que ela veja o pai por aqui. – Tentei ser mais discreta o possível. 

— É, a relação deles não é das melhores, mas Ana sempre o respeita. – Dei um sorriso amarelo, como é estranho conversar com a atual do seu ex. 

Ficamos em um silêncio, confortável. 

Absolutamente nada era ouvido na sala de Ana, queria ser uma abelha ou mosca para ouvir a conversa e saber todo o babado.

Espero que tudo saia da melhor maneira para os dois lados.

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