Deseo acumulado

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Ana

Foquei internamente em parecer como sou normalmente, dei um sorriso sem jeito. Iria tentar sair daquele assunto desconfortável e vergonhoso, bela boca grande você tem, Ana. Se... NÃO! Não vamos pensar nisso – briga interna em minha mente.

– Ana, terra te chama! – Mariana estalava os dedos, tentando chamar minha atenção. – Você me chamou? – Virei um pouco a cabeça para tentar focar.

Me fiz de sonsa.

– Te chamei? Não lembro. – Como sou péssima em mentir, se ela fosse bem observadora iria descobrir. – Devo ter sonhado com você. – Sim, você não deve como SONHOU com ela.

Mariana deu um sorriso belíssimo, fiquei alguns segundos, desligada enquanto falava das meninas.

– Você dormiu bem? – Tentei distrair daquele assunto, não queria contar do sonho ou possível sonho.

Me levantei, peguei Valentina da cadeirinha no colo e a abracei. Sentir o seu cheirinho, era maravilhoso. Dei uma risada baixinha, sabendo que quando Mariana falou o nome da nossa bebê no primeiro estrondoso encontro no hospital, achei horroroso.

– Eu dormi bem... – Ela parou de falar, quando me percebeu rindo. – O que é tão engraçado? – Indagou, enquanto me sentava com Valentina.

Nossos olhares se conectaram, balancei a cabeça levemente.

– Lembrando de como detestei o nome Valentina quando nos encontramos na recepção do hospital. Hoje, vejo que o nome combina muito com essa fofura. – Toquei a ponta do nariz de Vale que sorriu para mim, me emocionei.

Era tão difícil arrancar sorrisos da Vale, pelo menos, comigo. Realmente, só fazer algo que não fosse forçado nos conectaria mais que tudo. Mariana me olhou preocupada, mas era compreensível já que estávamos algumas semanas tentando quebrar essa barreira entre mim e a Vale.

– Você está bem? – Passou a mão levemente nas minhas costas, limpei as lágrimas com a mão livre enquanto a outra segurava a bebê.

Como uma bebê pode tirar toda minha pose de forte, inatingível.

– Estou sim. É a primeira vez, que ela abre um sorriso para mim pela manhã, sem grandes esforços. – Passei a mão nos cabelos de Valentina.

Mariana deu uma risadinha fraca.

– Raramente, ela levanta de bom humor, convenhamos. – Ambas demos risada. – Parece até alguém que conheço. – Fechei a cara automaticamente.

Mariana conseguia perceber meu humor pela manhã, apesar que não me esforçava para esconder.

– Vou te contar porque escolhi Valentina. Pesquisei muitos nomes, tipo, muitos mesmos. Eu desejava algo que remetesse a força e inteligência. – Meus olhos pausaram em seu rosto enquanto contava, poderia ficar presa naquela cena. Regina no colo Mariana com a mão agarrada a dela, enquanto a mãe gesticulava a mãozinha acompanhava e os olhinhos da minha menina acompanhavam a sua mão. Tem como registrar isso para sempre? Dei um sorriso, genuíno. – Então, pesquisando encontrei Valentina. Significado é valente, forte, vigorosa, cheia de saúde. Juro que perguntei para ela, se queria que o nome fosse esse. Porque naquele momento, seriamos nós duas, não teríamos o papai ao nosso lado. Foi depois do Pablo me deixar, enfim. Ela deu um chute tão forte! – Os olhos brilhavam, acompanhei sua risada. A outra mão dela descansava sobre a mesa, não deixei de colocar minha mão e a apertar, demonstrando que estaria ali em todos os momentos, apesar dos pesares.

– Então, você escolheu o nome bem, né meu amor? – Olhei para Vale que sorriu de novo, meus olhos marejaram. – Você me faz perder toda minha pose de durona, Vale. – Depositei um beijo em sua cabeça.

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